Chega, olha à volta e pergunta-se: «O que posso fazer nascer de bom aqui?». Esta é a pergunta que brota no discípulo do Senhor, quando se encontra a viver num canto qualquer da terra: olha para o mundo de acordo com a lógica da geração, que descobriu e conheceu na intimidade de Deus. Em 2015, com 69 anos, enviada pela sua Congregação, a irmã Valeria Amato, enfermeira e obstetra pertencente ao Instituto das Franciscanas Missionárias do Imaculado Coração de Maria, chegou a Nhacra, na região de Oio, na Guiné-Bissau. Olhou ao seu redor e observou que a população precisava antes de mais nada de cuidados médicos e assim decidiu criar o Centro «Madre Maria Caterina Troiani», único posto de saúde para os mais de 26.000 habitantes das cinquenta aldeias daquela área.
A irmã Valeria, que vive nesse país africano desde 1988 e trabalhou nos hospitais de Cumura e Quinhamel, começou a oferecer cuidados, assistida por alguns médicos e enfermeiros locais, que aumentaram ao longo dos anos. Atualmente, o pequeno hospital emprega 25 pessoas e realiza uma média de 11.000 consultas ambulatoriais por ano: trata pacientes que sofrem de doenças muito difundidas na Guiné-Bissau como Sida, tuberculose, parasitose intestinal e malária. Com atenção especial às mães e às crianças. Naquele país, as mulheres, na maioria analfabetas, tornam-se mães pela primeira vez numa idade muito jovem: com apenas 15 anos. «Geralmente dão à luz em casa, sem qualquer assistência, o que explica a particularmente elevada taxa de mortalidade materna e neonatal. No nosso centro trabalhamos com grande dedicação para mudar este hábito», diz a irmã Valeria, hoje coadjuvada por três religiosas. «Explicamos a todas as pessoas — incluindo os chefes das aldeias que encontramos periodicamente — como é importante que as mulheres deem à luz em hospitais, onde a vida da mãe e do recém-nascido são bem cuidadas. Este trabalho de sensibilização dá bons frutos e sentimo-nos felizes por isto: hoje seguimos aproximadamente cinquenta nascimentos por mês, enquanto no início eram apenas cerca de quinze. A mortalidade materna e neonatal começa a diminuir significativamente; assistimos um número crescente de mulheres durante a gravidez e acompanhamos as jovens mães, cuidando dos seus bebés».
Nessa área do país, a Sida atinge um número muito elevado de pessoas: calcula-se que 8-10% das mulheres grávidas estão infetadas com o vih. Para evitar o risco de transmissão da doença aos filhos, a irmã Valeria, com os seus colaboradores, exorta as mulheres seropositivas a participar na prevenção do programa de transmissão vertical, que dura desde o início da gestação até 18 meses depois o parto. O programa demonstrou-se muito eficaz: em 99% dos casos, os bebés são seronegativos. Mas com frequência as mães não completam este processo devido ao excesso de trabalho e de pressão da parte dos curandeiros locais, que pretendem impor as soluções da medicina tradicional. A fim de persuadir as mulheres, o pessoal do hospital decidiu oferecer-lhes um pacote de alimentos quando, uma vez por mês, fazem a visita médica para receber os medicamentos.
Outro problema grave que aflige essa área é a generalizada subalimentação infantil. A sua causa não é só a indigência mas também a mentalidade da população. Na Guiné-Bissau, os idosos e os homens adultos são as figuras mais importantes e honradas da sociedade: as mulheres, sobre cujos ombros recai inteiramente o cuidado das crianças, contam muito pouco. As crianças são deveras negligenciadas e presta-se pouca atenção à sua alimentação.
No hospital, as crianças desnutridas são incluídas em dois programas: o primeiro, da Unicef, é reservado à subalimentação grave; o segundo, proposto pelo Programa alimentar mundial, é dedicado à subalimentação moderada. Existe também um terceiro programa, concebido pela irmã Valeria e seus colaboradores, destinado a prevenir a subalimentação: inclui a distribuição de um nutriente especial para a primeira infância, composto por alimentos locais altamente substanciosos. Além disso, o hospital organiza regularmente reuniões individuais e de grupo para explicar às mães como cuidar e alimentar adequadamente os seus filhos. «O trabalho que realizamos dá bons resultados», diz a irmã Valeria. «Acreditamos, contudo, que para apoiar eficazmente a maternidade e ajudar a população a mudar o seu modo de ver as mulheres e as crianças, é necessário ampliar a ação educativa e intervir na formação das gerações mais jovens. Por isso, o projeto que mais nos interessa é a abertura de uma escola: estamos convencidos de que a instituição educativa pode desempenhar um papel estratégico na construção de comunidades que respeitam, ajudam e honram as mães e os filhos». E refletindo sobre a própria experiência, afirma: «A dimensão missionária pertence-me, faz-me feliz: não saberia viver de outra forma. Estou grata ao Senhor que abençoa amplamente o nosso trabalho: com a sua graça, apesar dos poucos meios de que dispomos, conseguimos dar vida a crianças que pareciam irrecuperáveis e resolver os problemas das mães que pareciam insuperáveis. Esta ação do Senhor reforça continuamente o meu desejo de ser seu instrumento e de ajudar estas criaturas». Amar gerando vida boa: eis a lógica da geração.
Cristina Uguccioni