Apelo do Pontífice à comunidade internacional

Ajudemos o Líbano a sair dos conflitos e da crise

Sacerdote maronita celebra missa entre os destroços de Beirute (AFP or licensors)
29 dezembro 2020

«Ajudemos o Líbano a manter-se fora dos conflitos e das tensões regionais. Ajudemo-lo a sair da grave crise e a restabelecer-se»: eis o vigoroso apelo dirigido à comunidade internacional, contido numa carta que Francisco enviou ao chefe da Igreja católica maronita e ao povo libanês no dia 24 de dezembro, por ocasião da celebração do Natal do Senhor.

A Sua Beatitude
Cardeal Béchara Boutros Raï,
Patriarca de Antioquia dos Maronitas
Presidente da Assembleia dos Patriarcas
e Bispos Católicos no Líbano

A Vossa Beatitude e, através de si, a todos os libaneses, sem distinção de comunidade nem de pertença religiosa, gostaria de dirigir algumas palavras de conforto e encorajamento por ocasião da celebração do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, Príncipe da Paz.

Amados filhos e filhas do Líbano!

Grande é a minha dor por ver o sofrimento e a angústia que sufocam a intrepidez e vivacidade inatas da Terra dos Cedros. Mais ainda, é doloroso ver raptadas todas as mais queridas esperanças de viver em paz e de continuar a ser para a história e para o mundo uma mensagem de liberdade e um testemunho de boa convivência; e eu, que de coração verdadeiro tomo parte em toda a vossa felicidade, assim também em toda a vossa dor, sinto no fundo da minha alma a gravidade das vossas perdas, especialmente quando penso nos muitos jovens que estão privados de qualquer  esperança de um futuro melhor.

Mas neste dia de Natal «o povo que andava nas trevas viu uma grande luz» (Is  9, 1), a luz que acalma os medos e incute esperança em todos, na certeza de que a Providência nunca abandonará o Líbano e saberá como transformar até este luto em bem.

O Líbano é mencionado muitas vezes nas Sagradas Escrituras, mas a imagem que o Salmista nos dá destaca-se acima de todas as outras: «Como a palmeira, florescerão os justos, que se elevarão como o cedro do Líbano» (Sl  91, 13).

A majestade do cedro na Bíblia é um símbolo de firmeza, estabilidade e proteção. O cedro é  símbolo do justo que, enraizado no Senhor, transmite beleza e bem-estar e até na velhice se eleva e produz frutos abundantes.  Nestes dias, o Emanuel, o Deus connosco, torna-se o nosso próximo, caminha ao nosso lado. Tende confiança na sua presença, na sua fidelidade. Tal como o cedro, sorvei das profundezas das vossas raízes de convivência para vos tornardes novamente um povo solidário; tal como o cedro, resistente a cada tempestade, que possais aproveitar as contingências do momento presente para redescobrir a vossa identidade, a identidade de trazer ao mundo inteiro o perfume do respeito, da convivência e do pluralismo, a identidade de um povo que não abandona as suas casas nem a própria herança; a identidade de um povo que não destrói o sonho daqueles que acreditaram no futuro de um país belo e próspero.

Nesta perspetiva, apelo aos líderes políticos e religiosos, citando o trecho de uma carta pastoral do Patriarca Elias Hoyek: «Vós chefes do país, vós juízes da terra, vós deputados do povo que viveis em nome do povo, (...) tendes a obrigação, na vossa qualidade oficial e de acordo com as vossas responsabilidades, de procurar o interesse público. O vosso tempo não é dedicado aos vossos melhores interesses, e o vosso trabalho não é para vós, mas para o Estado e para a nação que representais».

Por fim, o afeto ao querido povo libanês, que tenciono visitar logo que seja possível, juntamente com a constante solicitude que animou a ação dos meus antecessores e da Sé Apostólica, impele-me a dirigir-me mais uma vez à comunidade internacional. Ajudemos o Líbano a manter-se afastado de conflitos e tensões regionais. Ajudemo-lo a sair da sua grave crise e a recuperar-se.

Amados filhos e filhas, na escuridão da noite elevai o olhar, que a estrela de Belém seja a vossa guia e encorajamento para entrar na lógica de Deus, para não perder o caminho nem a esperança.

Do Vaticano 24 de dezembro de 2020

Francisco