Este é o momento da escolha

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29 setembro 2020

As palavras da mensagem em vídeo que o Papa enviou ontem à assembleia geral da Onu são tão claras e simples que não precisam de qualquer comentário ou explicação, mas apenas de ser lidas com atenção e meditadas através de uma reflexão que conduza a ações concretas. Cabeça, coração e mãos, para usar uma imagem querida a Bergoglio, devem ser tocados e envolvidos, todos juntos, num circuito virtuoso que impulsiona os homens para aquela “mudança de rumo” colocada no centro desta mensagem que por vezes parece uma exortação, quase um grito. A situação mundial, examinada com participada, cuidadosa meticulosidade pelo Santo Padre, de facto «exige uma mudança de rumo, e já temos os recursos, os meios culturais e tecnológicos, e a consciência social. Contudo, esta mudança tem necessidade de um marco ético mais forte, capaz de superar a “cultura do descarte”, tão difundida e inconscientemente consolidada». Algumas linhas antes, o Papa tinha refletido sobre os grandes progressos tecnológicos ocorridos nos últimos anos que deveriam servir para tornar as condições de vida e de trabalho das pessoas mais dignas em vez de contribuir para a sua maior exploração. Volta à memoria o longo diálogo que teve lugar nos primeiros anos do século entre o então Cardeal Joseph Ratzinger e o filósofo Jurgen Habermas, no qual o primeiro salientou que um grande desenvolvimento tecnológico não tinha sido acompanhado por um crescimento semelhante no nível ético da humanidade como o demonstrado exemplo da energia nuclear, uma potência gigantesca que requer uma força moral igualmente grande. Citando as palavras do escritor inglês Tolkien: estamos a construir um mundo de meios melhores para fins piores.

A mensagem do Papa, ao enumerar e exemplificar os problemas que afligem a humanidade espalhada pelos cinco continentes, coloca as prioridades em ordem, refletindo sobre os fins e, portanto, sobre os meios, reafirmando a centralidade da dignidade do homem e a defesa daqueles direitos humanos fundamentais ainda tão frequentemente violados. Há muitos temas e questões abordados pela mensagem, tais como o acesso à vacina para a Covid-19, erosão do multilateralismo, o desafio da fronteira da inteligência artificial, as perseguições por causa da fé, as crises humanitárias, o problema das pessoas deslocadas internamente, o perdão da dívida, o pedido de encerramento dos abrigos fiscais, a Amazónia e a questão ambiental, a situação das crianças, o flagelo do aborto, a promoção da família sujeita a formas de colonização ideológica, a condição das mulheres, a urgência do desarmamento nuclear, mas o cerne do discurso é a questão da decisão.

Este tempo atual, marcado pela crise pandémica, é para o Papa o tempo da escolha: «Portanto, deparamo-nos com a escolha entre um dos dois caminhos possíveis: um conduz ao fortalecimento do multilateralismo, expressão de uma renovada corresponsabilidade mundial, de uma solidariedade baseada na justiça e no cumprimento da paz e da unidade da família humana, projeto de Deus para o mundo; o outro dá preferência às atitudes de autossuficiência, nacionalismo, protecionismo, individualismo e isolamento, deixando de fora os mais pobres, os mais vulneráveis, os habitantes das periferias existenciais. E será certamente prejudicial para toda a comunidade, causando danos a todos. E isto não deve prevalecer». Palavras claras e simples que não precisam de qualquer comentário, mas de escuta.

Andrea Monda