Peregrinação ao santuário português no âmbito da Semana nacional sobre as migrações

Conhecer para compreender

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25 agosto 2020

«Devemos compreender que a nossa sociedade precisa de migrantes e refugiados para contar com o talento de todos e aprender a viver juntos, sem cair em estereótipos nem acreditar em tudo o que vemos nas redes sociais, muitas vezes resultado da ignorância. Devemos conhecer para compreender». Eugénia Costa Quaresma, diretora da Obra católica portuguesa das migrações, explicou o significado da peregrinação que teve lugar na madrugada de 13 de agosto ao santuário de Fátima, guiada pelo bispo de Santarém, D. José Augusto Traquina Maria, presidente da Comissão episcopal para a pastoral social e a mobilidade humana. O evento, com as restrições impostas por causa da pandemia de Covid-19, realizou-se no âmbito da Semana nacional sobre as migrações, que se concluiu no dia 16 de agosto.

«A convivência entre comunidades e diferentes gerações trouxe conflitos e, portanto, qual é a melhor maneira de os resolver, senão ouvir e falar», perguntou-se a entrevistada pela agência Ecclesia. Segundo a responsável da Obra católica, a promoção do diálogo e da harmonia religiosa são os únicos meios possíveis para abater as barreiras do racismo, incluindo o diálogo sobre o período colonial vivido por Portugal, a fim de se conhecer e de se integrar. «Para a reconciliação — sublinhou Eugénia Costa Quaresma — é necessário compreender o que há por detrás de tudo isto, curar as feridas e procurar entrar num processo de cura da alma e da memória». Está convencida de que «a sociedade portuguesa precisa desta cura», porque os filhos dos imigrantes ainda sofrem de uma certa falta de pertença. Concorda com isto também Filipa Abecassis, da Unidade internacional da Cáritas portuguesa, perguntando-se «como seria um dia na vida de cada cidadão, se não houvesse imigrantes que prestam serviços básicos essenciais», desde a limpeza até ao trabalho em restaurantes.

No âmbito da semana, a Comissão de pastoral social e mobilidade humana da Conferência episcopal publicou uma mensagem intitulada Entre incerteza e esperança há uma ponte em construção: iniciativa nascida para sensibilizar a comunidade sobre um aspeto ainda dramaticamente atual e cujo tema retoma o da mensagem do Papa Francisco para o Dia mundial do migrante e do refugiado, que será celebrado a 27 de setembro: «Como Jesus Cristo, forçados a fugir. Acolher, proteger, promover e integrar as pessoas deslocadas internamente». A pandemia, está escrito no documento dos bispos, «frisou o que é necessário fazer para combater as desigualdades». Em particular, a emergência sanitária do coronavírus «revelou a capacidade humana de se unir na sociedade, apesar das diferenças», concentrando-se «no potencial de humanização que a habita». Eis o convite da comissão a «contribuir para o conhecimento e a compreensão recíproca, a fim de não ter medo de se aproximar e de servir, de aprender a ouvir para se reconciliar, de partilhar para crescer, de acolher migrantes e refugiados, de promover comunidades mais inclusivas, de estimular a colaboração interinstitucional para construir uma sociedade mais unida, justa e fraterna, na qual haja espaço para todos».

Foi possível enviar experiências e histórias sobre este tema para o e-mail da Obra católica portuguesa das migrações . O objetivo era «apresentar testemunhos de vida» sobre a realidade do deslocamento forçado, devido à pobreza ou à guerra. «Vivemos numa época em que nos damos conta de que estamos no mesmo barco e numa casa comum, mas com muitas desigualdades», acrescentou Eugénia Costa Quaresma. Por esta razão, «podemos fazer muito, se trabalharmos em conjunto».

A 13 de agosto — dia em que se recorda a quarta aparição de Nossa Senhora, a única que teve lugar no dia 19 (em agosto de 1917) — o Santuário de Fátima promoveu um itinerário virtual intitulado “Peregrino com o coração”, percurso de reflexão espiritual em oito etapas, para ajudar os fiéis a viver as celebrações, apesar do distanciamento.