No Angelus o pensamento pelas vítimas da pandemia, pelos doentes e por quantos cuidam deles

Próximo das populações que ainda sofrem por causa do vírus

Pope Francis waves to the crowd from the window of the apostolic palace overlooking St Peter's ...
09 junho 2020

O Papa está próximo das populações dos países nos quais o coronavírus «ainda causa tantas vítimas» e convida a rezar em particular pelos doentes e pelos seus familiares. No final do Angelus de 7 de junho — recitado, como no domingo anterior, da janela do Palácio apostólico na presença de numerosos fiéis reunidos na Praça de São Pedro no respeito das distâncias de segurança — Francisco quis dirigir um pensamento especial às nações nas quais o contágio de Covid-19 ainda está na fase aguda. Anteriormente o Pontífice comentou o trecho evangélico de João (3, 16-18) na solenidade  da Santíssima Trindade.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho de hoje (cf. Jo 3, 16-18), festa da Santíssima Trindade, mostra — na linguagem sintética do apóstolo João — o mistério de amor de Deus pelo mundo, sua criação. No breve diálogo com Nicodemos, Jesus apresenta-se como Aquele que  cumpre o plano de salvação do Pai a favor o mundo. Afirma: «Deus amou de tal modo o mundo que deu o seu Filho único» (v. 16). Estas palavras indicam que a ação das três Pessoas divinas — Pai, Filho e Espírito Santo — é um desígnio único de amor que salva a humanidade e o mundo, é um desígnio de salvação para nós.

Deus criou o mundo bom e belo, mas depois do pecado, o mundo está marcado pelo mal e pela corrupção. Nós, homens e mulheres somos pecadores, todos, por isso Deus poderia intervir para julgar o mundo, para destruir o mal e castigar os pecadores. Em vez disso, Ele ama o mundo, apesar dos seus pecados; Deus ama cada um de nós, mesmo quando cometemos erros e nos afastamos d’Ele. Deus Pai ama tanto o mundo que, para o salvar, doa o que tem de mais precioso: o seu Filho único, o qual dá a sua vida pela humanidade, ressuscita, volta para o Pai e, juntamente com Ele, envia o Espírito Santo. Por conseguinte, a Trindade é Amor, totalmente ao serviço do mundo, que deseja salvar e recriar. Hoje, pensando em Deus Pai e Filho e Espírito Santo, reflitamos no amor de Deus! E seria bom que nos sentíssemos amados. “Deus ama-me”: este é o sentimento de hoje.

Quando Jesus afirma que o Pai deu o seu Filho unigénito, pensamos espontaneamente em Abraão e na sua oferta do filho Isaac, do qual o Livro do Génesis fala (cf. 22, 1-14): eis a “medida sem medida” do amor de Deus. E pensemos também em como Deus se revela a Moisés: cheio de ternura, misericordioso,  piedoso, lento para a ira e rico de graça e fidelidade (cf. Êx 34, 6). O encontro com este Deus encorajou Moisés,  o qual, como narra o livro do Êxodo, não receou colocar-se entre o povo e o Senhor, dizendo-lhe: «Somos um povo de cerviz dura, mas perdoai-nos as nossas iniquidades e os nossos pecados e aceitai-nos como propriedade Vossa» (v. 9). E assim fez Deus enviando o seu Filho. Nós somos filhos no Filho pelo poder do Espírito Santo! Nós somos a herança de Deus!

Estimados irmãos e irmãs, a festa de hoje convida-nos a deixarmo-nos fascinar mais uma vez pela beleza de Deus; beleza, bondade e verdade inesgotável. Mas também beleza, bondade e verdade humilde e próxima, que se fez carne para entrar na nossa vida, na nossa história, na minha história, na história de cada um de nós, para que cada homem e cada mulher possa encontrá-la e ter a vida eterna. E isto é fé: acolher Deus-Amor, acolher este Deus-Amor que se doa em Cristo, que nos faz mover no Espírito Santo; deixar-se encontrar por Ele e confiar n’Ele. Esta é a vida cristã. Amar, encontrar Deus, buscar Deus; e Ele procura-nos primeiro, Ele encontra-nos primeiro.

Que a Virgem Maria, morada da Trindade, nos ajude a acolher com o coração aberto o amor de Deus, que nos enche de alegria e dá sentido ao nosso caminho neste mundo, orientando-o sempre para a meta que é o Céu.

No final da prece mariana, o Papa recordou que o mês de julho é dedicado em particular à devoção ao Coração de Cristo, e convidou à adoração eucarística e à oração.

Amados irmãos e irmãs!

Saúdo todos vós, romanos e peregrinos: cada um dos fiéis, as famílias e as comunidades religiosas. E a vossa presença na praça é também um sinal de que, em Itália, a fase aguda da epidemia está superada, mesmo se a necessidade de seguir escrupulosamente as normas em vigor ainda permanece — mas cuidado, não canteis vitória, não canteis vitória demasiado cedo! —  porque são regras que nos ajudam a evitar que o vírus se propague. Graças a Deus estamos a sair da fase aguda, mas sempre com as prescrições que as autoridades nos dão. Infelizmente, noutros países — penso em alguns —, o vírus continua a fazer tantas vítimas. Na sexta-feira passada, num país, a cada minuto morria uma pessoa! Terrível. Gostaria de expressar a minha proximidade a essas populações, aos doentes e às suas famílias, e a quantos cuidam deles. Com a nossa oração, aproximemo-nos.

O mês de junho é dedicado de uma forma especial ao Coração de Cristo, uma devoção que une os grandes mestres espirituais e as pessoas simples do povo de Deus. Com efeito, o Coração humano e divino de Jesus é a fonte da qual podemos obter sempre de Deus misericórdia, perdão e ternura. Podemos fazê-lo refletindo sobre um trecho do Evangelho, sentindo que no centro de cada gesto, de cada palavra de Jesus, no centro está o amor, o amor do Pai que enviou o seu Filho, o amor do Espírito Santo que está dentro de nós. E podemos fazer isto adorando a Eucaristia, onde este amor está presente no Sacramento. Então também o nosso coração, pouco a pouco, se tornará mais paciente, mais generoso, mais misericordioso, à imitação do Coração de Jesus. Há uma oração antiga — aprendi-a com a minha avó — que dizia: “Jesus, faz com que o meu coração se assemelhe ao teu”. É uma bela oração. “Torna o meu coração semelhante ao teu”. Uma bela oração, breve, para rezar este mês. Vamos recitá-la agora juntos? “Jesus, faz com que o meu coração se assemelhe ao teu”. Mais uma vez: “Jesus, faz com que o meu coração se assemelhe ao teu”.

Desejo a todos bom domingo. Ia dizer “um bom e quente domingo”. Bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista.