O Papa está próximo das populações dos países nos quais o coronavírus «ainda causa tantas vítimas» e convida a rezar em particular pelos doentes e pelos seus familiares. No final do Angelus de 7 de junho — recitado, como no domingo anterior, da janela do Palácio apostólico na presença de numerosos fiéis reunidos na Praça de São Pedro no respeito das distâncias de segurança — Francisco quis dirigir um pensamento especial às nações nas quais o contágio de Covid-19 ainda está na fase aguda. Anteriormente o Pontífice comentou o trecho evangélico de João (3, 16-18) na solenidade da Santíssima Trindade.
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho de hoje (cf. Jo 3, 16-18), festa da Santíssima Trindade, mostra — na linguagem sintética do apóstolo João — o mistério de amor de Deus pelo mundo, sua criação. No breve diálogo com Nicodemos, Jesus apresenta-se como Aquele que cumpre o plano de salvação do Pai a favor o mundo. Afirma: «Deus amou de tal modo o mundo que deu o seu Filho único» (v. 16). Estas palavras indicam que a ação das três Pessoas divinas — Pai, Filho e Espírito Santo — é um desígnio único de amor que salva a humanidade e o mundo, é um desígnio de salvação para nós.
Deus criou o mundo bom e belo, mas depois do pecado, o mundo está marcado pelo mal e pela corrupção. Nós, homens e mulheres somos pecadores, todos, por isso Deus poderia intervir para julgar o mundo, para destruir o mal e castigar os pecadores. Em vez disso, Ele ama o mundo, apesar dos seus pecados; Deus ama cada um de nós, mesmo quando cometemos erros e nos afastamos d’Ele. Deus Pai ama tanto o mundo que, para o salvar, doa o que tem de mais precioso: o seu Filho único, o qual dá a sua vida pela humanidade, ressuscita, volta para o Pai e, juntamente com Ele, envia o Espírito Santo. Por conseguinte, a Trindade é Amor, totalmente ao serviço do mundo, que deseja salvar e recriar. Hoje, pensando em Deus Pai e Filho e Espírito Santo, reflitamos no amor de Deus! E seria bom que nos sentíssemos amados. “Deus ama-me”: este é o sentimento de hoje.
Quando Jesus afirma que o Pai deu o seu Filho unigénito, pensamos espontaneamente em Abraão e na sua oferta do filho Isaac, do qual o Livro do Génesis fala (cf. 22, 1-14): eis a “medida sem medida” do amor de Deus. E pensemos também em como Deus se revela a Moisés: cheio de ternura, misericordioso, piedoso, lento para a ira e rico de graça e fidelidade (cf. Êx 34, 6). O encontro com este Deus encorajou Moisés, o qual, como narra o livro do Êxodo, não receou colocar-se entre o povo e o Senhor, dizendo-lhe: «Somos um povo de cerviz dura, mas perdoai-nos as nossas iniquidades e os nossos pecados e aceitai-nos como propriedade Vossa» (v. 9). E assim fez Deus enviando o seu Filho. Nós somos filhos no Filho pelo poder do Espírito Santo! Nós somos a herança de Deus!
Estimados irmãos e irmãs, a festa de hoje convida-nos a deixarmo-nos fascinar mais uma vez pela beleza de Deus; beleza, bondade e verdade inesgotável. Mas também beleza, bondade e verdade humilde e próxima, que se fez carne para entrar na nossa vida, na nossa história, na minha história, na história de cada um de nós, para que cada homem e cada mulher possa encontrá-la e ter a vida eterna. E isto é fé: acolher Deus-Amor, acolher este Deus-Amor que se doa em Cristo, que nos faz mover no Espírito Santo; deixar-se encontrar por Ele e confiar n’Ele. Esta é a vida cristã. Amar, encontrar Deus, buscar Deus; e Ele procura-nos primeiro, Ele encontra-nos primeiro.
Que a Virgem Maria, morada da Trindade, nos ajude a acolher com o coração aberto o amor de Deus, que nos enche de alegria e dá sentido ao nosso caminho neste mundo, orientando-o sempre para a meta que é o Céu.
No final da prece mariana, o Papa recordou que o mês de julho é dedicado em particular à devoção ao Coração de Cristo, e convidou à adoração eucarística e à oração.
Amados irmãos e irmãs!
Saúdo todos vós, romanos e peregrinos: cada um dos fiéis, as famílias e as comunidades religiosas. E a vossa presença na praça é também um sinal de que, em Itália, a fase aguda da epidemia está superada, mesmo se a necessidade de seguir escrupulosamente as normas em vigor ainda permanece — mas cuidado, não canteis vitória, não canteis vitória demasiado cedo! — porque são regras que nos ajudam a evitar que o vírus se propague. Graças a Deus estamos a sair da fase aguda, mas sempre com as prescrições que as autoridades nos dão. Infelizmente, noutros países — penso em alguns —, o vírus continua a fazer tantas vítimas. Na sexta-feira passada, num país, a cada minuto morria uma pessoa! Terrível. Gostaria de expressar a minha proximidade a essas populações, aos doentes e às suas famílias, e a quantos cuidam deles. Com a nossa oração, aproximemo-nos.
O mês de junho é dedicado de uma forma especial ao Coração de Cristo, uma devoção que une os grandes mestres espirituais e as pessoas simples do povo de Deus. Com efeito, o Coração humano e divino de Jesus é a fonte da qual podemos obter sempre de Deus misericórdia, perdão e ternura. Podemos fazê-lo refletindo sobre um trecho do Evangelho, sentindo que no centro de cada gesto, de cada palavra de Jesus, no centro está o amor, o amor do Pai que enviou o seu Filho, o amor do Espírito Santo que está dentro de nós. E podemos fazer isto adorando a Eucaristia, onde este amor está presente no Sacramento. Então também o nosso coração, pouco a pouco, se tornará mais paciente, mais generoso, mais misericordioso, à imitação do Coração de Jesus. Há uma oração antiga — aprendi-a com a minha avó — que dizia: “Jesus, faz com que o meu coração se assemelhe ao teu”. É uma bela oração. “Torna o meu coração semelhante ao teu”. Uma bela oração, breve, para rezar este mês. Vamos recitá-la agora juntos? “Jesus, faz com que o meu coração se assemelhe ao teu”. Mais uma vez: “Jesus, faz com que o meu coração se assemelhe ao teu”.
Desejo a todos bom domingo. Ia dizer “um bom e quente domingo”. Bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista.