· Cidade do Vaticano ·

Três anos e meio após o início do conflito milhares de jovens da Ucrânia presentes em Roma

O espírito de unidade da Igreja salva os ucranianos do desespero da guerra

epa12274453 Rescuers work at the site of a Russian strike on a nine-storey residential building in ...
03 setembro 2025

Svitlana Dukhovych

Chegar a Roma, apesar de tudo. Apesar do espaço aéreo fechado desde o início da invasão russa, apesar dos alarmes antiaéreos e dos ataques durante a viagem de autocarro ou de comboio, e apesar das paragens forçadas na fronteira, bloqueados por mais de 10 horas. Os jovens da Ucrânia, apesar de tudo isto, não quiseram perder o encontro com o Jubileu a eles dedicado, continuando, porém, a viver a preocupação pelas famílias e os amigos que ficaram em casa. «O Jubileu — explica aos meios de comunicação do Vaticano D. Maksym Ryabukha, exarca greco-católico de Donetsk, que acompanhou os jovens na viagem a Roma — para estes jovens ucranianos é também um momento de encontro com quem lhes diz: “Nós apoiamos-vos e, convosco, esperamos e esperamos pela paz”». «Lá onde vivemos — afirma — onde diariamente explodem bombas, somos esmagados pela injustiça perpetrada contra a vida humana. Por isso, para eles é importante encontrar alguém que saiba indicar as razões da vida, pois ao encontrar Deus também se consegue partilhar este encontro com os outros. Muitos dos jovens que estão aqui vêm de zonas de guerra, onde é impossível viver a experiência de dormir na própria casa, porque há drones que matam, que fazem explodir casas, carros. Muitos, então, juntamente com as suas famílias, ao pôr do sol, mudam-se para o campo, para os prados, ao longo dos rios. É uma vida difícil, que faz sentir impotentes». Perante este drama, continua Ryabukha, «estar aqui também significa experimentar a dignidade da vida. Percebes que a vida existe, que há alguém com quem podes partilhar a dor, o desespero, os sonhos, o desejo de crescer e de construir». Acompanha os jovens a Roma também D. Vitaliy Kryvytskyi, bispo da diocese católica romana de Kyiv-Zhytomyr. «Gostaria muito de poder encontrar todos e estar com eles, porque hoje representam toda a nossa Igreja e a Ucrânia». D. Kryvytskyi conta que para alguns bispos de outros países foi difícil acreditar que um número tão grande de jovens ucranianos tenha conseguido chegar a Roma. «As pessoas pensam que, dado que estamos em guerra, vivemos como se estivéssemos congelados e dado que vivemos outros problemas, para nós hoje não é uma prioridade a necessidade de nos unirmos a toda a Igreja. A nossa presença aqui demonstra, pelo contrário, que para nós é fundamental estar em união com toda a Igreja, falar sobre o que vivemos hoje na Ucrânia e sobre os desafios que enfrentamos. E que, portanto, é importante para nós exortar a Igreja a falar acerca do que realmente continua a acontecer na Ucrânia». Com tristeza nos olhos, o bispo lembra que, na noite entre 30 e 31 de julho, no ataque russo a Kyiv, pelo menos 31 pessoas perderam a vida, incluindo 5 crianças. «Estamos aqui», afirmou, «também para dizer toda a verdade e exortar as pessoas, os jovens, a não se calarem, mas a empenharem-se por uma paz justa na Ucrânia e noutras partes do mundo». Durante todo o período de guerra, a Igreja na Ucrânia permaneceu ao lado das pessoas, especialmente dos jovens, fornecendo apoio na forma de ajuda humanitária. Entre os desafios da pastoral em tempo de guerra está também a busca de uma maneira de cultivar a esperança. «Que este ano seja dedicado à esperança — continuou D. Kryvytskyi — parece-me um sinal da divina Providência. E é disso que a Ucrânia precisa, pois após três anos e meio de conflito muitas pessoas, até aquelas que sempre se definiram cristãs, começaram a perder a esperança. Muitas vezes, depois de rezar repetidamente sem receber resposta do Senhor, desistem, dizendo: talvez Deus não ouça as nossas orações ou talvez Deus nem sequer exista? Portanto, este ano, refletindo sobre a palavra esperança, temos a oportunidade de resistir realmente nestes tempos difíceis». A esperança é o que mantém viva a fé que, prosseguiu D. Kryvytskyi, «durante a guerra atingiu níveis completamente novos, pois não é apenas a hipótese de que alguém está lá fora nalgum lugar, mas é uma relação especial nesta situação crítica». «Ajuda-me o sentido de unidade da Igreja — concluiu — que se vive quando, também aqui, alguém nos garante que reza sempre por nós. As pessoas telefonam-nos, escrevem-nos, dizem-nos que, apesar de tudo, continuam ao nosso lado. É este espírito de unidade da Igreja que salva os nossos jovens do desespero e do cansaço que todos nós sentimos».