
Lorena Leonardi
Avelhice como um baú de tesouros a descobrir, a mentalidade de integração a desenvolver, as boas práticas a adotar e manter, o kit pastoral para envolver aqueles que não têm a possibilidade de se deslocar. Estes são os pontos salientes da entrevista concedida aos meios de comunicação do Vaticano pelo bispo Dario Gervasi, secretário adjunto do Dicastério para os leigos, a família e a vida, entidade promotora do Dia mundial dos avós e dos idosos.
Segundo o imaginário comum, a esperança pertence aos jovens, àqueles que, de alguma forma, têm toda a vida pela frente. No entanto, na sua mensagem Leão XIV diz que é possível ser sinal de esperança em qualquer idade. Uma mudança de perspetiva importante...
Hoje existe uma cultura chamada «antienvelhecimento», que na realidade é um ponto de vista não muito feliz, porque o envelhecimento é um processo imparável. Pelo contrário, a perspetiva do Papa, tal como a bíblica, confere a cada idade o seu próprio valor. A velhice é uma fase preciosa, rica de tesouros a descobrir, como a sabedoria acumulada ao longo da vida e o conhecimento da fidelidade de Deus experimentada ao longo dos anos.
Para que estas riquezas não se percam, que propostas pastorais podem contribuir para favorecer um envolvimento real dos idosos na vida eclesial?
As propostas podem ser muitas, a partir das mais simples, como uma visita às famílias ou um tempo para ouvir os testemunhos dos mais idosos, mas também viver celebrações, saídas, eventos, misturando a presença dos idosos com a das famílias, com as crianças, de modo que os avós estejam sempre integrados. Existem muitas boas práticas, é importante que os idosos estejam no centro da vida da Igreja e continuem a estar onde já são parte ativa das comunidades paroquiais.
Especialmente no verão, os idosos são os grandes esquecidos nas cidades desertas, mas a impressão geral é que, na sociedade do desempenho e do lucro, são vistos como inúteis. Devemos resignar-nos à ideia de que, deixando de produzir, deixamos de existir?
Esta é realmente uma ideia doentia que devemos combater para recuperar o sentido da vida: associar esta última à produção é degradante para a nossa humanidade. As pessoas maduras reconduzem-nos a uma dimensão feita de gratuidade, de dom, podem passar o tempo sem pensar na utilidade. Com a sua generosidade para com os mais jovens, tornam-nos mais fortes: as coisas podem ser feitas em conjunto, onde há idosos há mais, não menos.
De que forma a intergeracionalidade pode constituir um recurso na utilização da tecnologia e na transmissão da fé?
Os jovens podem ajudar os idosos a entrar no mundo da tecnologia e os idosos podem facilitar os jovens a humanizar a vida moderna. As novas gerações têm dificuldade em olhar para o céu: quão bela é uma avó que acompanha um neto à igreja e lhe ensina a fazer o sinal da cruz? Ou ouvir um avô que, falando com os netos, diz “que seja feita a vontade de Deus”? Não há melhor maneira de aprender a fé.
Que indicações pode sugerir em vista do encontro de 27 de julho?
Em vista do próximo Dia mundial dos avós e dos idosos, pudemos divulgar um kit pastoral com orações, materiais e sugestões litúrgicas pensadas para envolver as pessoas nas paróquias de todo o mundo, aqueles que não poderão participar pessoalmente devido à distância, aqueles que não se podem deslocar porque vivem em lares de idosos ou viverão a celebração no centro diurno onde passam o tempo. Para os jovens, visitar um idoso representa uma oportunidade de encontro com o testemunho de Deus que vive nele; abraçá-lo é como abraçar o sinal da fidelidade do Senhor. A este respeito, Leão XIV diz-nos que os idosos nos ajudam a ter esperança e eles próprios têm assim a possibilidade de esperar sempre.
Como Dicastério, que iniciativas foram preparadas?
Uma conferência internacional será uma oportunidade, em outubro próximo, para refletir sobre alguns aspetos importantes da vida dos idosos, desde a espiritualidade até à cultura do descarte, passando pelo papel dentro das comunidades eclesiais. Já estamos a caminho e continuamos a realizar uma série de encontros a nível continental via Zoom com os responsáveis pelos escritórios para idosos das Conferências episcopais do mundo inteiro: realmente, aos poucos cresce uma nova consciência a fim de olhar para os idosos como sinais de esperança.