· Cidade do Vaticano ·

Semear a paz com a diplomacia do Evangelho

 Semear a paz  com a diplomacia do Evangelho  POR-008
02 julho 2025

«Orepresentante pontifício é portador da diplomacia do Evangelho» e tem o dever de «dedicar-se à mediação e ao diálogo» e tornar-se semeador da paz: afirma o cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, numa entrevista concedida aos meios de comunicação do Vaticano por ocasião do Jubileu da Santa Sé e na véspera da audiência de Leão XIV com os participantes na peregrinação jubilar e no encontro dos representantes pontifícios.

Eminência, o Jubileu da Santa Sé oferece uma ocasião de encontro e um espaço de reflexão sobre a forma como a Igreja se relaciona com o mundo. Que significado assume para o Corpo Diplomático da Santa Sé e, em particular, para os núncios apostólicos?

O Jubileu da Santa Sé oferece a ocasião para viver, também para os representantes pontifícios, um momento de unidade. A vida de cada um deles é uma contínua “peregrinação”, sem a possibilidade de se enraizar de forma estável numa realidade. É uma vida em caminho, sim, mas não solitária. E então este Jubileu traz-me à mente a imagem de uma família que, espalhada pelo mundo, mas unida, se encontra em Roma para se unir em volta do Papa.

Neste reencontrar-se, sobressai com clareza o vínculo entre a dimensão particular e a dimensão universal da Igreja: o representante pontifício é, antes de mais, uma ponte entre o Vigário de Cristo e as comunidades para as quais foi enviado e, ao mesmo tempo, mantém vivo o vínculo das Igrejas locais com a Sé Apostólica. Para garantir esta unidade, a Secretaria de Estado desempenha o seu papel de coordenação, apoiando a missão dos representantes pontifícios em Roma e no mundo.

Como disse, os núncios apostólicos representam o Santo Padre junto das Igrejas locais e das autoridades civis. Qual é a especificidade do seu serviço e de que modo conjugam a dimensão pastoral com a diplomática?

Os núncios apostólicos são, certamente, os representantes do Papa junto dos governos nacionais e das instituições supranacionais. Nisto, a sua tarefa é propriamente diplomática: dialogar com as autoridades civis, trabalhar para recompor ruturas, promover a paz, a justiça e a liberdade religiosa, sem perseguir interesses de parte, mas animados por uma visão evangélica do mundo e das relações internacionais. O seu serviço, porém, pela sua natureza, não pode reduzir-se a uma fria função institucional, deve ser sustentado por uma autêntica presença pastoral. O núncio apostólico é antes de mais um homem de Igreja, é também pastor e deve fazer seu o exemplo de Cristo Bom Pastor! Ser pastor significa aproximar-se dos bispos, dos sacerdotes, dos religiosos e das comunidades que se é chamado a servir, tendo sempre um olhar eclesial, ou seja, de sacerdote que sente sobre si a responsabilidade para com os outros. Assim, o núncio apostólico torna-se ponte entre o Sucessor de Pedro e as Igrejas locais, entre a Igreja e os Estados, entre as feridas do mundo e a esperança do Evangelho.

Que qualidades considera fundamentais para um representante pontifício, especialmente neste momento histórico complexo?

Gostaria de destacar três. Em primeiro lugar, a humildade como disposição do coração. Isto permite “fazer-se pequeno” e firme na confiança de que o Senhor, através de nós, pode realizar grandes projetos. Com o ódio e a violência que grassam no mundo, a tendência poderia ser a de ceder a um certo pessimismo. Diante de tarefas complexas e inesperadas, confiamos com serenidade na graça que acompanha e sustenta a missão.

Ao lado da humildade, o zelo evangélico. O representante pontifício é portador da diplomacia do Evangelho, tem a tarefa de levar a luz de Cristo até aos cantos mais remotos da Terra. E, por fim, ser homens de reconciliação. O trabalho da diplomacia pontifícia consiste em apoiar os esforços do Santo Padre na realização de um mundo cada vez mais de verdade, justiça e paz. No mundo de hoje, torna-se um dever do representante pontifício empenhar-se na mediação e no diálogo, pois só assim se pode tecer a trama da cooperação internacional e intercetar até mesmo a vontade mais débil e oculta das partes na pacificação. Aceitemos o apelo do Santo Padre para nos tornarmos semeadores da paz, porque o outro — especialmente na diplomacia — não é em primeiro lugar um inimigo, mas um ser humano com quem se pode falar.

Num mundo em constante evolução, como consegue a formação diplomática dos jovens sacerdotes acompanhar os desafios contemporâneos?

A Pontifícia Academia Eclesiástica cuida há trezentos anos da formação de jovens sacerdotes que se preparam para entrar no serviço diplomático da Santa Sé. A reforma da Academia, recentemente introduzida, propôs-se atualizar e reforçar a formação, para que ela responda cada vez mais às complexidades do mundo atual. O objetivo desta nova fase da diplomacia vaticana é enviar pelo mundo diplomatas que sejam competentes no plano profissional e profundamente animados por um espírito evangélico, conscientes de levar em frente o Magistério petrino como instrumentos de comunhão, semeadores da paz e construtores de relações solidárias e pacíficas entre os povos.