A primeira

A 25 de maio de 2025, na catedral de Florença, realizou-se um gesto que parece pequeno mas é relevante para a Igreja católica de hoje: Serena Noceti tornou-se a primeira catequista instituída para o serviço de teóloga da diocese. O acontecimento, que teve lugar simbolicamente no dia do seu aniversário, representa não só um reconhecimento pessoal, mas sobretudo um passo significativo para uma maior inclusão feminina nos cargos de magistério eclesial.
Durante a celebração, o arcebispo de Florença, D. Gherardo Gambelli, conferiu vários ministérios - leitorado, acolitado e ministério catequético - a dois homens (um leigo casado e um seminarista) e a sete mulheres, mas o que conferiu a Serena Noceti assume uma dimensão particular. Não se trata simplesmente da instituição de uma catequista, mas do reconhecimento formal do carisma de uma teóloga que trabalhará «em nome da igreja». Esta distinção é fundamental: como diz o Rito, o catequista instituído exerce um ministério de «mestra (magistra) e mistagoga», com a tarefa específica de ser teóloga ao serviço da igreja de Florença. A nomeação de Noceti representa o encontro entre uma profissional que dedicou décadas ao serviço teológico e uma Igreja que reconhece formalmente este contributo.
Simona Segoloni, presidente da Coordenação das teólogas italianas, sublinhou que não se trata apenas de legitimar uma atividade já realizada com competência e dedicação: «É o reconhecimento não só do seu serviço, mas também, e talvez ainda mais, o reconhecimento da necessidade da igreja de ser instruída e, por último mas não menos importante, de poder ser instruída por uma mulher». Um valor simbólico e prático extraordinário. Por um lado, confirma que a Igreja católica está a abrir espaços de maior responsabilidade às mulheres no campo do ensino teológico. Por outro, representa o reconhecimento de que a competência teológica feminina já não é um elemento marginal ou tolerado, mas um recurso essencial para a vida eclesial.
Os ministérios instituídos são conferidos pelo bispo apenas uma vez na vida, definem de modo estável a identidade eclesial de um batizado ou batizada, depois de a igreja ter reconhecido a presença de um carisma específico necessário para o serviço de dimensões constitutivas da vida eclesial. Como diz o Rito, isso implica o exercício de uma verdadeira corresponsabilidade com os pastores para a missão da igreja.
Serena Noceti, nascida em Florença, é uma das vozes mais conceituadas da teologia contemporânea, não só italiana. É responsável por cursos de formação episcopal e presbiteral, sobretudo na América Latina, e intervém em conferências e seminários especializados na Europa e no mundo. Leiga, doutorou-se em teologia na Faculdade Teológica da Itália Central com uma tese sobre a eclesiologia de Wolfhart Pannenberg e dedicou a sua carreira académica ao estudo da Igreja, do Concílio Vaticano II, da teologia de género e da pastoral.
Atualmente, é professora ordinária de teologia sistemática no Instituto Superior de Ciências Religiosas “I. Galantini”, em Florença, e ministra cursos noutras instituições académicas italianas. A sua competência é reconhecida a nível nacional e internacional. É membro fundador da Coordenação Teólogas Italianas (CTI) e vice-presidente da Associação Teológica Italiana (ATI).
A sua produção científica é vasta e qualificada. Entre as suas obras mais significativas conta-se o Tratado sobre a igreja, escrito em conjunto com Severino Dianich, sacerdote e teólogo que dedicou toda a sua investigação ao tema da Igreja, uma autoridade. O volume, de 2002 e ainda reeditado, é considerado um dos textos fundamentais da eclesiologia contemporânea.
Editou importantes publicações coletivas, como Tantum aurora est. Mulheres e Vaticano II (2012) e o monumental Comentário aos documentos do Vaticano II (2014-2017), em nove volumes. Está a editar com o teólogo venezuelano Rafael Luciani a publicação de 27 Cuadernillos, em espanhol e italiano, para a implementação do Sínodo sobre a sinodalidade. O seu volume Diáconas. Que ministério para qual igreja? (2017), aborda uma das questões mais debatidas na Igreja contemporânea.
A escolha de Noceti de se dedicar à teologia tem raízes profundas e significativas. Como ela conta, o momento decisivo ocorreu durante um retiro na Universidade da América Central de San Salvador, junto aos túmulos de seis mártires jesuítas, entre os quais o eclesiólogo Ignacio Ellacuría. Este encontro com o sacrifício de teólogos empenhados na justiça social marcou a sua visão de uma «teologia capaz de um envolvimento radical para o bem de todos».
Hoje, a teóloga florentina, colaboradora de Mulheres Igreja Mundo, descrita «uma das estudiosas mais empenhadas na renovação», encarna uma geração de mulheres que souberam conjugar uma rigorosa competência académica e um autêntico empenho eclesial.