· Cidade do Vaticano ·

O Papa Leão XIV e a Amazónia

Uma esperança renovada para a Casa comum

 Uma esperança renovada  para a Casa comum  POR-007
04 junho 2025

Laura Vicuña

Vice-presidente da CEAMA

A eleição do Papa Leão XIV, ocorrida a 8 de maio de 2025, representa um momento significativo para a Igreja universal e, de modo particular, para os povos da Amazónia. Robert Francis Prevost, ex-bispo de Chiclayo e cidadão peruano por adoção, assume o pontificado com uma história de profunda proximidade pastoral às comunidades do interior do Peru. Primeiro Pontífice norte-americano, mas profundamente enraizado na América Latina, a sua eleição abre novas perspetivas para a missão eclesial no bioma amazónico.

Um Papa com raízes latino-americanas

Nascido em Chicago, o novo Pontífice amadureceu um percurso pastoral marcado pelo diálogo intercultural, pelo compromisso a favor da justiça social e por uma profunda sensibilidade às realidades do continente latino-americano. O seu ministério no Peru não foi meramente administrativo: viveu em contacto direto com comunidades rurais, indígenas e marginalizadas, frequentemente ameaçadas pela exploração mineira ilegal, pela desflorestação e pela exclusão sistémica.

Durante o seu episcopado em Chiclayo, no norte do país, conquistou a confiança dos líderes indígenas e das comunidades locais, que o consideram um autêntico defensor dos seus direitos e do ambiente natural. O seu impacto na região amazónica é relevante: Prevost manteve laços estreitos com organizações ambientalistas e indígenas, protagonistas do Sínodo para a Amazónia, fazendo da salvaguarda das florestas um dos pilares da sua ação pastoral.

Uma contribuição decisiva no Sínodo para a Amazónia

Já durante a preparação do Sínodo especial para a Amazónia, celebrado em 2019, Prevost desempenhou um papel relevante como promotor de uma profunda escuta das realidades locais. Esteve entre aqueles que mais insistiram sobre uma abordagem realmente sinodal, capaz de valorizar a voz das comunidades amazónicas e a sua vivência espiritual e cultural. A sua contribuição revelou-se fundamental para garantir que as reflexões sinodais não fossem abstratas nem distantes, mas enraizadas na realidade dos territórios. Em particular, defendeu a necessidade de reconhecer e fortalecer o protagonismo das populações indígenas no cuidado da “Casa comum”, realçando a interligação entre justiça social, espiritualidade e proteção do meio ambiente.

Amazónia: território-chave para a missão eclesial

O Sínodo para a Amazónia, em 2019, marcou uma viragem para a Igreja: deu voz às comunidades amazónicas, reconhecendo a sua riqueza espiritual, cultural e ecológica. Daquele processo nasceu a Conferência eclesial da Amazónia (CEAMA), com o convite a viver uma Igreja com rosto amazónico: inculturada, intercultural e sinodal.

Já antes da sua eleição, o Papa Leão XIV demonstrou estar em sintonia com as reformas eclesiais promovidas pelo seu predecessor, nomeadamente nos âmbitos da sinodalidade e da ecologia integral.

Desafios pastorais e ambientais

O contexto atual exige uma resposta pastoral integrada aos desafios ambientais. A Amazónia continua a ser ameaçada por megaprojetos mineiros, narcotráfico, tráfico de pessoas e enfraquecimento das instituições encarregadas da sua tutela. Neste cenário, a Igreja é chamada a desempenhar um papel profético: acompanhar as vítimas, defender a vida em todas as suas formas e promover um modelo de desenvolvimento alternativo.

A figura do novo Papa é crucial para fortalecer o papel da Igreja como guia de uma ecologia integral a nível global. A sua experiência pastoral, amadurecida no terreno e enriquecida por uma autêntica abertura à escuta, torna-o capaz de orientar a Igreja para respostas concretas e proféticas.

Uma esperança renovada

A Amazónia tem necessidade de aliados não só políticos e sociais, mas também espirituais. Neste sentido, Leão XIV representa uma esperança renovada para a Igreja no território. A sua proximidade ao legado de Francisco, unida à experiência concreta amadurecida no coração da América Latina, faz dele uma ponte entre os clamores da Terra e o compromisso a favor dos pobres.

Como espaço de articulação eclesial e territorial, a CEAMA tem agora a oportunidade de caminhar com o novo pontificado rumo a uma Igreja mais sinodal, profética e comprometida ao lado dos pobres e da criação. A eleição de Leão XIV pode ser lida como um sinal dos tempos: a Amazónia permanece no coração da Igreja, e a Igreja continua a ser chamada a caminhar com os povos que a habitam.