· Cidade do Vaticano ·

SUMMA celebra centenário da FIUC

Tributo ao legado do Papa Francisco

 Tributo ao legado do Papa Francisco  POR-007
04 junho 2025

Foi inaugurada em Roma a 29 de abril, na Galeria do IPSAR, a exposição SUMMA (Scientia Universitas Mundus Magistri Alumni), uma iniciativa promovida pela Federação Internacional das Universidades Católicas (FIUC), atualmente presidida por Isabel Capeloa Gil, Reitora da Universidade Católica Portuguesa. Integra as celebrações do centenário da FIUC, fundação que ao longo deste século tem promovido o diálogo entre fé, saber e sociedade.

Constança Vieira

Mais que um percurso histórico linear, SUMMA propõe uma reflexão sobre o espírito que define a universidade como instituição milenar. A exposição destaca o papel da Igreja na criação e evolução das universidades, realçando os valores de dignidade, autonomia, integridade e pensamento crítico que ainda hoje moldam o ensino superior.

Com a curadoria de Luísa Leal de Faria e Paulo Campos Pinto, e o apoio do reitor do IPSAR, Monsenhor Agostinho Borges, reúne peças cedidas pela Biblioteca Apostólica Vaticana, pelo Dicastério para a Cultura e a Educação do Vaticano e pela Fundação Sidival Fila. A obra de abertura, Metafora Bianco 12 (2025), do artista Sidival Fila, simboliza a universidade como tela em branco — um espaço de tradição, mas também de constante reinvenção.

A exposição ganha um significado especial num momento de transição para a Igreja, surgindo como um tributo ao legado do Papa Francisco. Como recorda a organização, o Santo Padre sempre defendeu que as universidades católicas têm uma responsabilidade que ultrapassa o indivíduo, devendo contribuir para um mundo mais informado, ético e inclusivo — um desafio ainda mais relevante na era da Inteligência Artificial.

Em entrevista ao Vatican News, a professora Isabel Capeloa Gil falou da Federação Internacional das Universidades Católicas (FIUC) e da Exposição da iniciativa SUMMA, inaugurada a 29 de abril de 2025, no Instituto Português de Santo António, em Roma.

Estamos a celebrar os 100 anos da FIUC, mas não é uma celebração estática no tempo. Não é um mero olhar no retrovisor, há sempre desafios. E nesta sociedade de incerteza, neste mundo de incerteza, tem um papel fundamental.

Há sempre desafios, aliás, a própria definição de universidade é ter desafios, por isso uma universidade enquanto projeto nunca é uma instituição que se possa dizer completa, terminada. Tem que ter sempre esse rasto e esta ambição de se transformar e de fazer diferente. Fazer diferente pode ser motivado por novas formas de desenvolvimento do conhecimento, pode ser também motivado por contextos históricos e sociais diferentes que obrigam a adaptar para continuar a ser relevante. E vejam que a universidade começa na Europa como um projeto da Igreja Católica através das escolas catedrais. A universidade enquanto projeto é um projeto de capacitação, ou seja, de educar as lideranças. Alarga-se ao longo dos tempos para se tornar um projeto da nação, de projeção do poder da nação. Centrado não apenas na educação académica, mas também na investigação como um forte cunho ligado, como dizia no século dezassete Francis Bacon, a função da ciência é contribuir para a melhoria do estado do Ser Humano. A natureza como algo que pode constituir uma ameaça para o Ser Humano. Mas o objetivo do conhecimento é melhorar as condições do ser humano no seu ambiente natural, social, político, económico e cultural e, portanto, à medida que a história evoluiu, as condições da universidade também evoluem e ela não se pode manter igual.

Hoje falamos naturalmente da inteligência artificial que é um desafio enorme, um desafio enorme não tanto à instituição edificada mas ao processo de produção de conhecimento da universidade. Porque esse processo de produção de conhecimento assenta no ambiente de espírito crítico, no pensamento próprio e na tomada de decisão autónoma. Se fizermos um outsourcing disso para uma máquina, como é que vamos educar as gerações futuras, visto que a máquina repete um algoritmo que é treinado por narrativas imensas de outros. Porque a ciência faz-se justamente por se colocarem as questões que antes nunca foram colocadas. Ao passo que a inteligência artificial faz precisamente o contrário. Responde às questões que sempre foram colocadas ou que já foram colocadas por outros. Vai buscar o acervo dessas respostas para dar respostas a outras situações. É uma rotura e é nisso que as universidades devem estar atentas mais do que no uso das plataformas. É evidente que os estudantes vão utilizar o Chat Gpt, DeepHelp… mas a nossa função é criar esse espírito crítico antes da utilização. Fazê-los competentes para navegar naquilo que são as respostas.

Ou seja, para que eles possam utilizar a inteligência artificial como um apoio a uma estrutura de raciocínio mais do que à recolha de um raciocínio.

Exatamente, e por isso, uma exposição como esta faz duas coisas. Há uma expressão do Papa na Jornada que é “espero que tenham saudades do futuro” e as saudades do futuro é uma coisa tão portuguesa. Saudade, uma coisa que veio antes mas é uma saudade orientada para o futuro e é isso que a universidade verdadeiramente é. Um espaço onde nós temos que incutir as pessoas a terem saudades do futuro, mas para isso é preciso recordar. E aquilo que esta exposição faz é, na verdade, apresentar um conjunto de aspetos importantes sobre as origens da universidade que as pessoas normalmente não pensam que existe. Por exemplo, que a autonomia e o pensamento livre como âncora da universidade surge duma bula papal à Universidade de Paris.

Que o Papa diz que as universidades têm que se instituir como autónomas, livres, de desenvolvimento, de pensamento livre em liberdade e outras coisas.

Pensar por exemplo nas doutoras da Igreja, no papel da mulher, nas cientistas. Portanto, podemos contar este legado que é o próprio olhar para o passado com o olhar que se vai sempre transformando e vamos aprendendo sempre mais e aquilo que nós queremos é que as pessoas tenham incentivo para voltar mais vezes, pensar de facto que a universidade no seu sentido original é católica. Ser universidade e católica não é uma limitação, antes pelo contrário. É um alargamento da possibilidade de discernimento que as raízes daquilo que é a capacidade de escolha e a seleção do pensamento criativo e da autonomia, da defesa dos direitos humanos. Justamente nos princípios-base que estruturam estas instituições.

Professora, SUMMA, chegamos a esta expressão, faz a súmula da exposição. Fale-me um pouco sobre isso. Porque é que foi escolhido e já agora também para quem ainda não tiver a oportunidade de conhecer. Se fizéssemos um resumo quase visual do que aqui está, o que é que se destaca mais aqui, o que podem ver aqui as pessoas.

Têm muita coisa para ver, têm que passar aqui algum tempo.

Portanto, SUMMA significa não só súmula do conhecimento inspirado no título da obra de São Tomás De Aquino e na forma como ele define aquilo que é a súmula do conhecimento. Conhecimento que é transversal, orgânico, a maneira como o conhecimento se organiza e temos numa primeira parte da exposição justamente esse caminhar pelos processos estruturados que constituem a evolução do pensamento científico e académico do Ocidente, inspirado aliás na obra de Michael Foucault.

Mas por outro lado a exposição começa com a tela em branco.

Uma carga simbólica tremenda.

Enorme, porque é um trabalho feito por um artista brasileiro que é um franciscano. Sidival Fila, um dos grandes artistas contemporâneos. E é ele que faz, é uma tela em branco constituída a partir de tiras de uma concha de damasco do século dezassete que depois se constroem um conjunto de tiras ondulantes que são cosidas com pontos largos e aquilo que me interessa nesta obra é o sentimento, é justamente aquilo que falamos há bocadinho. Saudades do futuro. É o olhar para o passado. O dar um novo sentido a um objeto, uma concha que tinha sido abandonada, um tecido rico cheio de valor e dar-lhe um novo sentido, um novo propósito. Reparar e prepara-lo para o futuro. Mas ao mesmo tempo a tela está cheia de aberturas. Como a universidade deve ser, um espaço sem muros. Aberta à mudança, ao acolhimento.

Portanto, é uma metáfora poderosa para aquilo que nós entendemos ser a universidade. As duas obras de abertura representam justamente isto que é o conceito de universidade como orientada para o futuro sem perder esta memória sobre o passado.

Depois passamos para um conjunto de salas onde desmastram o contributo de algumas entidades menos reconhecidas, as doutoras da Igreja, depois uma sala com as cientistas, grandes pensadoras cada uma delas no seu tempo e no seu contexto tinham algo de extraordinário. Passamos depois a uma sala onde se fala da autoridade e como é que a universidade também é um espaço de autoridade não é um espaço anárquico e como essa institucionalização da autoridade se faz. E depois dos rituais que estão associados à autoridade e à subversão dos rituais que os estudantes fazem e que sempre fizeram ao longo dos séculos e depois terminamos com aquilo que são os instrumentos e as declarações mais importantes para a universidade moderna, sobretudo para as universidades católicas sobretudo a partir do conselho de concilio do Vaticano II e também os 100 anos de história da Federação internacional das Universidades Católicas. Portanto, convido todos a virem.