· Cidade do Vaticano ·

Lançar o olhar para longe

 Lançar o olhar para longe  POR-007
04 junho 2025

Andrea Monda

No momento em que Leão XIV delineou o perfil do Papa, do pastor universal da Igreja, assim como foi traçado pelos cardeais fechados em conclave, falou de «um pastor capaz de guardar o rico património da fé cristã e, ao mesmo tempo, de olhar para longe, para ir ao encontro das interrogações, das inquietações e dos desafios de hoje». As inquietações de hoje, esta palavra é marcante também porque o Papa a repetiu várias vezes durante a homilia da missa de tomada posse, do princípio ao fim. Começou com o incipit das Confissões de Santo Agostinho e o célebre “cor inquietum” («Fizeste-nos para Vós, [Senhor,] e o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Vós») e isto não é uma surpresa dada a vocação e a espiritualidade do agostiniano Robert Francis Prevost que imediatamente “confessou” ter aceitado a eleição “com temor e tremor”.

Lançar o olhar para longe, portanto, sem medo do mundo, e no mundo também lançar as redes: «levar em frente esta missão, lançar sempre e novamente a rede imergindo nas águas do mundo a esperança do Evangelho, e navegar no mar da vida para que todos se possam reencontrar no abraço de Deus». Esta “pesca” não é um ato de proselitismo, mas de amor: «Nunca se trata de capturar os outros com a prepotência, com a propaganda religiosa ou com os meios do poder, mas trata-se sempre e apenas de amar como fez Jesus». O cristão é sal, levedura, fermento recordou Leão XIV. Lançar o olhar e as redes exige o “duc in altum”, sair do próprio recinto onde as águas são pouco profundas e tranquilas e desafiar as ondas do mar alto: «Este é o espírito missionário que nos deve animar, sem nos fecharmos no nosso pequeno grupo nem nos sentirmos superiores ao mundo; somos chamados a oferecer a todos o amor de Deus, para que se realize aquela unidade que não anula as diferenças, mas valoriza a história pessoal de cada um e a cultura social e religiosa de cada povo». Todos os povos, nenhum excluído; o caminho dos católicos não é uma aventura solitária, mas uma experiência a ser vivida em conjunto: «E este é o caminho a percorrer juntos — entre nós, mas também com as Igrejas cristãs irmãs, com aqueles que percorrem outros caminhos religiosos, com quem cultiva a inquietação da busca de Deus, com todas as mulheres e todos os homens de boa vontade — para construirmos um mundo novo onde reine a paz». Se a paz é o horizonte para o qual caminhar, como Leão deixou claro desde a sua primeira saudação («A paz esteja com todos vós!»), ela não está dissociada daquela “inquietude” que deve ser cultivada; a paz, de facto, não é uma “quietude” que extingue toda a inquietude, mas é a âncora sobre a qual se funda a esperança do cristão, aquela fé em Jesus e no seu amor que não evita, mas atravessa todas as crises, as dúvidas, as inevitáveis insuficiências e incompletudes da vida e até os tormentos espirituais. Assim se dá o encontro de duas inquietações: os inquietos buscadores de Deus são irmãos, aliados dos autênticos crentes que conhecem bem essa inquietação e não a temem. Os próprios cristãos têm uma consciência inquieta e, graças a ela, “provocam” o mundo, chamam-no de volta, interpelam-no, com humilde coragem, para que ele nunca perca de vista a custódia de tudo o que é humano, a começar pela dignidade de cada pessoa viva. Esta aliança inquieta cultiva-se através do diálogo corajoso e confiante que o católico empreende com o mundo contemporâneo, muitas vezes desorientado e confuso, dividido e ferido. O diálogo é, portanto, o caminho que conduz à margem do lago para além do qual o Senhor nos espera, já pronto a preparar um bom peixe para os seus “filhinhos” (Jo 21, 4-10). Em direção a essa margem, o sucessor de Pedro, concluindo a sua homilia, convidou-nos a navegar tornando-nos cada vez mais «uma Igreja missionária, que abre os braços ao mundo, que anuncia a Palavra, que se deixa inquietar pela história e que se torna fermento de concórdia para a humanidade».