O grande milagre

Imediatamente após a passagem da fronteira que separa o Lácio dos Abruzos, depois de extensões quilométricas de faias inexploradas, à direita, no cimo de um rochedo, surge um aglomerado de casas. É Opi. Um povoado tão minúsculo como o seu nome. Mil e duzentos metros de altura, 370 habitantes. Tudo se concentra numa única estrada, orientada do sul para o norte, coberta de paralelepípedos retangulares, dispostos horizontalmente. Colocados desta maneira, explica Giorgio Cimini, presidente da câmara municipal durante uma década, depois guardião incansável de Opi, «pois deste modo os cascos das mulas não entravam nas fendas». Até há cinquenta anos, era assim que as pessoas se deslocavam. E a riqueza media-se pelo número de animais que as pessoas possuíam. Havia noventa estábulos no sopé da aldeia. Atualmente, restam apenas três. E a lã das ovelhas, que era uma fonte de riqueza, transformou-se em lixo especial. Pior ainda são as caves: eram oitenta, não ficou sequer uma!
Opi compartilha o destino de muitos pequenos povoados que, no mundo inteiro, se despovoam gradualmente. Na Itália são classificados como “áreas interiores” e são medidos (há pelo menos quatro faixas) em função da distância rodoviária, em termos de quilometragem, dos centros que oferecem serviços essenciais, como hospitais e escolas. E pensar que, para nos limitarmos à Itália, mais de 4.000 municípios, 48,5% do total, estão inseridos nesta categoria! Um pouco menos de metade. No entanto, as pessoas que aí vivem são 13,3 milhões, cerca de um quarto dos residentes no país. E diminuem cada vez mais. Daqui a vinte anos, prevê-se que 80% destes municípios estarão em declínio.
Opi era um exemplo perfeito de aldeia em fase de abandono: diminuição da população, queda da taxa de natalidade, aumento vertiginoso de emigração. Nas paredes das casas, há placas que recordam as atividades de outrora. Giorgio Cimini acompanha-nos neste Spoon River de lojas: aqui era um açougue, ali uma tabacaria, aqui uma adega, acolá um boticário. E aqui, o jardim de infância, fechado nos anos 80. Além disso, a escola primária, transformada em hotel nos anos 90. Atualmente, as únicas atividades existentes são: um bar, uma padaria, uma mercearia (mas o proprietário vai retirar-se no final de agosto e ninguém se apresentou para assumir a loja).
Um destino que parecia marcado. Até que, no ano passado, nasceram quatro crianças: Giulio, Anita, Antonio, Francesca. E este ano vão nascer outras três. Há mais de uma década que não nasciam tantas crianças durante um único ano. Em relação aos residentes, a taxa de natalidade chega a superar a média nacional. Uma inversão que desmente as estatísticas. Embora na realidade houvesse alguns sinais concretos. Desde há alguns anos, assiste-se a um tímido êxodo ao contrário: jovens casais que decidem voltar a viver na aldeia dos pais ou dos avós. Outros que deixam o emprego na cidade e inventam outro entre estas montanhas. É o caso de Roberta, proprietária do bar do povoado e mãe de Giulio, a primeira criança nascida em 2024. Os seus avós eram de Opi e depois mudaram-se para a vertente do Lácio, no Parque Nacional dos Abruzos. Em 2016, com o seu companheiro, decidiu regressar à aldeia dos seus avós e tomar conta do bar. Tem também uma filha, Chiara, de 6 anos. Todas as manhãs, apanha o meio de transporte escolar para ir à escola mais próxima (que está situada noutra povoação). Outra mulher, também mãe, Elisabetta, guia o autocarro. Além de motorista, é ainda presidente de um clube de esqui. Também a sua história é de um regresso. «Com o meu marido, que trabalha para a Guarda Fiscal, vivemos durante três anos no Trentino», conta. «Em seguida, quando a sua missão terminou, decidimos voltar para cá, onde viviam os meus avós». No bar, encontramos também Eleonora, que espera o segundo filho: com o seu companheiro deu a volta ao mundo, antes de se estabelecer, feliz, nesta aldeia. «Estive no Peru, na Austrália, na Nova Zelândia, e depois decidimos ficar aqui. Gostamos da ideia de viver numa pequena aldeia. Além disso, ambos gostamos das montanhas e da tranquilidade». Ela é farmacêutica num povoado vizinho, além de professora de ioga; ele é osteopata. Ao lado de Eleonora, encontramos Elena, mãe de Anita. «Eu nunca mudaria para uma cidade. Aqui conhecemo-nos todos, ajudamo-nos uns aos outros, as crianças brincam na rua. Numa cidade, nem sequer sabemos quem é o nosso vizinho». Opi, ao contrário, é uma grande família. As crianças são de todos. «Chiara (a primeira filha de Roberta, n.d.r.), diz Elena, cresceu nos braços da aldeia». E Roberta, «quando era pequena, dormia sempre aqui no bar, no carrinho de bebé. Agora está ao ar livre o dia inteiro, anda pela aldeia sozinha, acordamos com os pássaros que cantam, não há carros, não há barulho». As mães criaram um grupo whatsapp para se ajudarem mutuamente. «Celebramos aniversários em conjunto, confrontamo-nos». Ettore, a criança que Domitilla traz no ventre, também fará parte desta grande família. «Nascerá em julho», conta. Ela é topógrafa num povoado vizinho e o marido é motorista de autocarro. Outra história é a de Danilo: era mecânico numa empresa de produção de travões, agora é guia turístico e abriu uma atividade que se ocupa de alugar bicicletas.
Esta rede, feita de laços que não são apenas de sangue, ajuda a não ter medo. Por exemplo, Piera deu à luz Francesca no ano passado e gere o restaurante da família no sopé da aldeia. Nascida e criada em Brescia, há anos regressou a este povoado. «Nem sempre é fácil viver aqui», admite. O pediatra vem a Opi uma vez por semana, mas para ir ao ginásio, ao cinema ou a qualquer outro lugar é preciso ir de carro. Afinal de contas, não é muito diferente de viver numa metrópole. «No fundo, é como atravessar uma grande cidade, ir de um lado para o outro».
A esperança é reabrir a escola primária, ou pelo menos o jardim de infância. Maria Grazia espera que isto aconteça. Professora do ensino secundário, trabalha agora numa aldeia vizinha. «O problema são os jovens. Quando crescem, também querem partir, porque aqui não há muitas oportunidades de trabalho». A fim de povoar estes lugares, explica Giorgio Cimini, não é suficiente dar casas a um euro, como muitas regiões começaram a fazer. «Permanecem se tiverem um emprego. A linha que separa a resiliência da rendição é frágil», acrescenta.
Sabe-o bem Mariangela, proprietária do único hotel e restaurante, instalado naquela que era a antiga escola. «Eu era funcionária de uma multinacional. Tive que ser transferida para abrir um novo estabelecimento. Decidi deixar o meu emprego e regressar ao povoado dos meus avós». Além dela, a empresa é gerida por Bella Madeleine, que cuida dos quartos e do salão, e Ibrahim, factótum que desde há algum tempo é também cozinheiro. Todos têm um contrato de trabalho permanente, apesar dos altos e baixos. No verão e no inverno estamos cheios, nas estações intermédias temos mais dificuldades». O restaurante é forrado de fotografias de Opi que remontam ao século passado: festas de casamento, avós, mulheres com a vasilha na cabeça para o transporte da água. Numa delas, vê-se a rua da aldeia cheia de crianças. A mesma onde, dentro de alguns anos, Giulio, Anita, Francesca, Antonio e as três crianças que vão nascer darão os primeiros passos. Uma mudança que aconteceu graças à coragem de algumas mulheres.
ELISA CALESSI