· Cidade do Vaticano ·

MULHER IGREJA MUNDO

APoesia

Contudo

 Eppure  DCM-006
07 junho 2025

Era aquele tempo em que
toda a esperança era indecente.
Uma proibição tácita impunha
ser repetentes na dor
desordenar tudo até
arruinar a sua raiz. Contudo.

A palavra “contudo” ressoava. 
Porque uma beleza uivava
as suas bandas desde aquele abril.
Que abril abria
milhões de gemas e transformava-as
em folhas de um verde pequeno.
Contudo. O menino
a menina ainda ria.
Não era um acaso aquela
beleza difusa, inteligente.

Aquela beleza existia. Estava ali
debaixo da casa plantada e gritante
dentro de todas as plantas. Nas
sempre surpreendentes nuvens. Existia.
Dilatava o sopro da respiração. E estava ali.
Existia e talvez. Escondia-se.
De nós. Ainda o corço aparecia
cortando-nos a estrada. O texugo
com o seu focinho ainda cavava buracos
o pica-pau batia. O pintassilgono parapeito, estava ali
com breves movimentos estava. Contudo.
Tudo. Era feito de esplendor. Só
para nós não resplandecia. Mas posso garantir
que havia esplendor e que resplandecia.
Todos os dias. Todas as horas.
Sim. Posso jurá-lo perante o tribunal
inteiro. A beleza ainda. Existia.

Mariangela Gualtieri
De «Ruvido Umano», Einaudi, 2024