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«As Borboletas da Giudecca» renascimento e dignidade além das grades

 «Le Farfalle della Giudecca»  rinascita e dignità oltre le sbarre  DCM-006
07 junho 2025

A solidariedade, a sororidade, a recuperação da dignidade e, sobretudo, a esperança são valores que podem ser reavivados até dentro de uma prisão. É o que demonstra um documentário instrutivo e interessante, intitulado Le Farfalle della Giudecca (As borboletas da Giudecca), que tem como cenário o cárcere feminino de Veneza, fundado no século XII como mosteiro-hospício destinado a prostitutas redimidas e hoje palco de um importante projeto de reabilitação. Filmadas pela autora e produtora Rosa Galantino, com o cineasta Luigi Ceccarelli, as protagonistas são prisioneiras de todas as idades e origens que, já comprometidas em diferentes atividades (lavandaria, engomadoria, cosmética, enceramento artístico, horta), por ocasião da BiennaleArte 2024 serviram de guias para os visitantes do Pavilhão da Santa Sé, instalado no interior da penitenciária. Com a bênção do Papa Francisco, que foi recebido nessa estrutura no dia 28 de abril de 2024.

Impressionantes são os rostos, as palavras, as histórias das mulheres que, enquanto cumprem as respetivas penas, encontram uma segunda oportunidade no trabalho e conseguem imaginar um futuro além das grades. No interior da Giudecca, Galantino descobriu uma verdadeira fábrica que está intimamente ligada à cidade de Veneza, porque tem como clientes hotéis de luxo, restaurantes e lojas. «A prisão é uma realidade problemática, mas também pode ser narrada de maneira diferente, ou seja, à luz da esperança», explica a cineasta que deu voz às mulheres prisioneiras-trabalhadoras. Monia, atualmente em regime de semiliberdade, recorda que «o trabalho é dignidade e que me ajudou a ir em frente»; a africana Fauta fala de um “percurso difícil” dentro da prisão, onde coexistem diferentes etnias e vivem seis pessoas em cada cela; Rosaria reflete: «Quando se está lá dentro, aprende-se a apreciar a liberdade»; e não falta Paola que, com 68 anos, é considerada a “senadora” do grupo. Algumas sonham em abrir “uma lojinha” quando saírem; outras gostariam de tomar conta das suas mães; outras ainda de cuidar dos seus filhos. É comovente a cena em que, no Natal, quatro presas são levadas para comer num restaurante: a diretora da estrutura, Mariagrazia Felicita Bregoli, acredita firmemente na “reeducação” prevista pela Constituição italiana. E o patriarca de Veneza, D. Francesco Moraglia, fala de “reconstrução”. O mundo é dominado por egoísmos e preconceitos, incluindo os que levaram numerosas mulheres à prisão: «Le Farfalle della Giudecca» demonstra que o trabalho pode ajudar a superá-los. No lugar menos livre do mundo, é uma escolha de liberdade. Um ato de emancipação.

GLORIA SATTA