· Cidade do Vaticano ·

Desde 1492 a Capela Sistina é também o lugar da eleição do Papa

Catequese visual

La chiave della Cappella Sistina è unica e senza numero. Al contrario delle 2797 che aprono le porte ...
14 maio 2025

Barbara Jatta

ACapela sistina representa uma atração sem igual. Não é apenas uma obra de arte, mas um testemunho da relação entre o homem e o infinito; os afrescos do século XV, a abóbada e o Juízo Final representam um momento mágico para quem se encontra neste magnífico espaço sagrado. É-se imediatamente envolvido pela força da história bíblica e evangélica, pelas figuras monumentais que parecem desafiar a gravidade, suspensas num espaço ideal de luz e cor. É um lugar simbólico da nossa fé cristã, uma catequese visual que, desde 1492, é também o lugar da eleição do Romano Pontífice.

Arquitetura e afrescos do século XV

“Capela magna” do Palácio, a Capela Sistina não é apenas Miguel Ângelo — é certamente Miguel Ângelo — mas muito mais. Basta pensar nos afrescos do século XV: os painéis afrescados que correm ao longo das paredes laterais da Capela Sistina constituem um testemunho extraordinário da arte renascentista.

O projeto da Capela, confiado ao arquiteto toscano Baccio Pontelli sob a supervisão de Giovannino de’ Dolci, «superintendente da fábrica», previa a realização de um grande salão retangular de notáveis dimensões: 40,90 metros de comprimento por 13,14 de largura e 20,7 de altura, coberto por uma única grande abóbada cilíndrica rebaixada.

Os afrescos, encomendados pelo Pontífice teólogo Sisto IV Della Rovere e executados entre 1481 e 1483, têm a assinatura de alguns dos maiores mestres da época, de Sandro Botticelli a Pietro Perugino, de Domenico Ghirlandaio a Luca Signorelli e outros artistas célebres das escolas florentina e umbra daquele século tão fértil. Através do seu talento sem limites, adquiriu forma uma narrativa visual que celebra a história da salvação, entrelaçando os acontecimentos do Antigo Testamento, com os painéis que representam a vida de Moisés, e do Novo, com os afrescos centrados na vida de Cristo.

Através de uma linguagem pictórica harmoniosa, rica de pormenores simbólicos e de uma extraordinária riqueza narrativa, os afrescos da Sistina não só exaltam a grandeza da narrativa bíblica, como também definem os princípios de uma nova era da arte sacra, em que a relação entre o homem e o divino é representada com uma intensidade sem precedentes. Assim, a parte central torna-se uma “Bíblia de imagens” na qual cada cena, com personagens e paisagens, convida o espetador à meditação e à descoberta. Aqui as imagens fluem, cada um destes painéis é uma verdadeira obra-prima.

O restauro das paredes, concluído nos últimos anos do século XX, deu nova luz a estas obras, restituindo à vista as cores brilhantes e a mestria técnica que durante séculos foram obscurecidas por camadas de pó e fumo das velas.

Abóbada

Miguel Ângelo, com um génio e uma visão extraordinários, dedicou quatro anos, de 1508 a 1512, a dar vida a esta sinfonia de corpos e movimentos. As suas figuras titânicas, animadas por uma força plástica sem precedentes, comunicam uma espiritualidade intensa, fazendo de cada cena um momento de profunda reflexão sobre a essência humana e divina.

Para os cardeais reunidos em Conclave sob esta abóbada com afrescos, a contemplação destas imagens evoca a responsabilidade espiritual do seu voto.

Cada detalhe — da Criação de Adão à Separação da luz das trevas — recorda-lhes o sentido último da sua missão: guiar a Igreja sob a égide da criação divina, com a consciência da imensidão da tarefa que lhes foi confiada.

É provável que, para desenvolver o programa iconográfico, Miguel Ângelo tenha contado com a colaboração de teólogos presentes na corte pontifícia de Júlio II, o franciscano Marco Vigerio e o vigário da Ordem dos Agostinianos Egidio de Viterbo, grande estudioso das teorias neoplatónicas.

Nove cenas tiradas do Génesis estão afrescadas na parte central da abóbada, com oito painéis divididos da seguinte maneira: cinco sobre a Criação e três sobre as histórias de Noé (Sacrifício, Ebriedade e Dilúvio universal).

A cena mais famosa é a da Criação de Adão, que representa Deus Pai no gesto de dar vida a Adão. O corpo do primeiro homem é como que uma antiga divindade. Poderoso, mas ao mesmo tempo com pose harmoniosa. Seguem-se outras histórias do Génesis, a Criação de Eva, a Tentação e a Expulsão do Paraíso.

Poder-se-ia ir além na descrição das imagens, da técnica de execução, de um excelente afresco realizado por um Miguel Ângelo quase solitário e dos restauros que se seguiram poucos anos após a conclusão da abóbada.

O restauro “do século”, concluído em 1994 e magistralmente gerido pelo Laboratório de Restauro de Pinturas dos Museus do Vaticano, sob a direção do Mestre Gianluigi Colalucci, devolveu a esta obra o brilho das cores originais, libertando-a de séculos de tinta, pó e escuridão que nos obrigavam a olhar para os afrescos «como se fossem um vidro enegrecido». Graças a esta intervenção, hoje podemos admirar a abóbada da Sistina tal como Miguel Ângelo a concebeu: um triunfo de vida, luz e divindade que continua a surpreender e a inspirar todas as gerações de visitantes.

Juízo Final

O “Juízo Final” da Capela Sistina é um ícone universal com o qual os Museus do Vaticano são frequentemente identificados. É uma atração magnética para quem quer que entre na Capela Sistina. A sua força visual, a sua composição em vórtice num espaço sem partituras nem paisagens e sobre um fundo de azul-lazúli, cativa e intimida.

E é também um aviso para os cardeais votantes reunidos em Conclave nesta capela tão especial; com efeito, levam o seu voto determinante para o futuro da Igreja precisamente ao altar posto diante do Juízo Final.

A execução do grande afresco durou cinco anos, de 1536 a 1541, e Miguel Ângelo, com 60 anos, empregou 456 dias de trabalho árduo.

“Juízo Final” é o termo com que o grande afresco é conhecido. Como disse Antonio Paolucci, a expressão é correta, mas talvez fosse melhor chamar-lhe “Parusia”: a última vinda de Cristo à terra para julgar os vivos e os mortos, para cancelar para sempre o mundo, o Tempo e a História.

Quem olha para o Juízo Final tem a impressão de que não há parede, mas que o seu olhar se abre para um espaço infinito feito de ar gélido e azul.

Miguel Ângelo soube retratar a inquietação teológica da “Parusia” com uma eficácia extraordinária. Tem-se uma sensação terrível diante do grande mural de Miguel Ângelo. A mesma que o Papa Paulo III Farnese deve ter sentido quando — como relatam as crónicas — se ajoelhou consternado, com lágrimas nos olhos, naquele dia de outubro de 1541, véspera do Dia de Todos os Santos, quando foi descerrado o Juízo Final.

Hoje, graças a um hábil restauro efetuado nos anos 90, podemos admirá-lo na íntegra segundo a ideia de Miguel Ângelo. O trabalho de conservação levado a cabo pelo Laboratório de Restauro de Pinturas dos Museus do Vaticano restituiu ao afresco a sua paleta original, permitindo assim uma ótima fruição, já não alterada por séculos de fuligem e verniz.

A monitorização constante realizada por vários serviços dos Museus do Vaticano em toda a Capela Sistina e, em particular, na parede do Juízo Final, permite-nos verificar em tempo real o seu estado de conservação, a fim de o preservar como um bem precioso para os nossos visitantes atuais e futuros.

A 7 de maio a Capela Sistina voltou a acolher um dos acontecimentos mais secretos e misteriosos do mundo, um rito antigo e solene que, durante séculos, acompanha o “nascimento” de novos Papas: o Conclave (do latim “cum clave”, que significa “fechado à chave”). Só em 1996 se tornou sede oficial do Conclave, com a Constituição apostólica Universi dominici gregis de João Paulo II.