
Quando, “por uma encruzilhada dramática de acontecimentos e destinos”, se tornou a única mulher morta pelo terrorismo vermelho, Germana Stefanini levava uma vida modesta, juntamente com o irmão Carlo, num apartamento nos arredores de Roma; mulher solteira, sem luxos, exceto uma pequena coleção de sabonetes perfumados, amante do cinema e dos passeios com a sobrinha.
Aos olhos dos terroristas, carregava uma culpa terrível, a de trabalhar como guarda prisional em Rebibbia, numa altura – estávamos em 1983 - em que eram encarceradas muitas prisioneiras políticas.
Germana Stefanini foi uma vítima rapidamente esquecida, embora a ferida dos Anos de Chumbo em Itália ainda continua aberta e dolorosa. O seu assassínio fez pouco barulho; naquela altura, nos jornais episódios deste tipo eram tratados quase como notícias de crimes.
Uma como nós. O assassínio de Germana Stefanini e o abismo da luta armada (Treccani), do jornalista do «Corriere della Sera» Giovanni Bianconi, um repórter judicial de referência, traz-nos à memória aquele 23 de fevereiro, em que três militantes do Poder proletário armado, três jovens de vinte e poucos anos, a esperaram à porta de casa e depois a interrogaram no seu quarto, gravando em cassetes o chamado “processo” contra ela e depois mataram-na a tiro. Durante as suas últimas horas, Germana Stefanini conseguiu salvar a vida de uma das suas colegas e vizinhas, e com ela a amada sobrinha; nessa noite, encontraram o seu corpo dentro de um carro.
Germana Stefanini morreu porque os seus assassinos tinham declarado guerra ao Estado e queriam informações úteis sobre as suas colegas. Mas ela ocupava-se da triagem das encomendas, cuidava da horta da penitenciária e pensava que na prisão não há delinquentes, mas pessoas que podem errar.
Na crónica seca de Giovanni Bianconi, a dimensão humana da vítima contrasta com o furor ideológico dos militantes que a mataram, convencidos de ter atingido o Estado através do corpo manso de uma guarda prisional. Quarenta anos depois, aqueles assassinos continuam na prisão. Uma deles, a única mulher do comando, está em semiliberdade. Giovanni Bianconi nunca explicita o nome registado dos três brigadistas que a mataram. Uma delicadeza para com aqueles que têm o direito de sair da prisão e reconstruir de forma diferente o seu último percurso da estrada. E um tributo à verdadeira protagonista, medalha de ouro pelo seu valor cívico, figura marginal nas crónicas da luta armada, agora finalmente retratada com a atenção primorosa dos grandes jornalistas.
LAURA EDUATI