· Cidade do Vaticano ·

Apelo do prefeito do Dicastério para as Igrejas orientais

Responder ao grito de quem se encontra em grave sofrimento

 Responder ao grito de quem  se encontra em grave sofrimento   POR-004
08 abril 2025

Caro irmão no episcopado!

Aqui estou de novo este ano para lhe falar da Terra Santa.

Sinto profundamente a responsabilidade de me dirigir aos Bispos católicos do mundo, em nome do Santo Padre, para vos fazer chegar o apelo da Igreja em resposta ao grito de quem se encontra em grave sofrimento.

Enquanto vos escrevo, o nosso coração está aliviado pela trégua em curso. Sabemos que é frágil e que, pela sua natureza, não bastará por si só para resolver os problemas e extinguir o ódio naquela área. Mas pelo menos os olhos não veem ulteriores explosões e não perpetuam a angústia do irreparável.

Vimos choros, desespero, destruição por toda a parte. Ora a nossa esperança é que o triunfo da morte provocada não seja a sua eterna vitória. E renova-se a esperança de ver o Ressuscitado, Jesus Cristo nosso Senhor, que precisamente naquela terra, mostrou, vivo, as chagas da sua paixão.

Ouvimos hoje que as palavras dirigidas pelo Santo Padre aos Cristãos que habitam nos Lugares Santos, não eram um piedoso auspício, mas uma esperança possível: «Vós, irmãos e irmãs em Cristo que habitais nos Lugares de que mais falam as Escrituras, sois um pequeno rebanho indefeso, sedento de paz. Obrigado por serdes quem sois, obrigado por desejardes permanecer nas vossas terras, obrigado por saberdes rezar e amar, apesar de tudo. Sois uma semente amada por Deus. E assim como a semente, aparentemente sufocada pela terra que a cobre, sabe sempre encontrar o seu caminho para o alto, rumo à luz, para dar fruto e vida, assim também vós não vos deixais engolir pelas trevas que vos circundam mas, plantados nas vossas terras sagradas, tornais-vos rebentos de esperança, porque a luz da fé vos leva a testemunhar o amor enquanto se fala de ódio, o encontro enquanto o conflito é desenfreado, a unidade enquanto tudo se transforma em oposição» (Carta aos Católicos do Médio Oriente, 7 de Outubro de 2024).

Surge logo na nossa mente o nosso dever — e uso este termo com trepidação, mas com decisão — de correr para ajudar, apenas concretamente possível, a vida que renasce. A ti, Irmão bispo, e a todos aqueles que animarás no teu ministério, dirige-se o dramático apelo de Deus: «“Filho do homem poderão estes ossos reviver?” Eu respondi: “Senhor Deus, tu o sabes. Ele me replicou: “Profetiza sobre estes ossos e anuncia-lhes: “Ossos secos oiçam a palavra do Senhor. Assim fala o Senhor Deus a estes ossos: Eis que eu faço entrar em vós o espírito e revivereis”» (Ez 37, 3-5).

Todos, a começar pelas crianças, têm direito a viver em paz e a reaver casas e escolas, a brincar juntos sem o medo de rever o riso satânico da morte. É verdade. Para nós cristãos os Lugares Santos têm um valor particular, são encarnação da Incarnação. Estes são protegidos desde os inícios das comunidades cristãs, na variedade das suas tradições e desde há séculos que os Frades menores da Custódia cuidam deles com fidelidade admirável.

À volta daqueles lugares nascem iniciativas de grande valor pastoral: paróquias, escolas. Hospitais, casas para anciãos, centros de assistência aos migrantes, desalojados, refugiados. Precisamente para ajudar a suster tudo isto o Santo Papa Paulo vi instituiu a Coleta para os Lugares Santos, na modalidade que desde então é repetida anualmente cada sexta-feira santa ou noutra ocasião localmente fixada.

Este ano a Coleta torna-se um recurso imprescindível: depois da pandemia, a quase completa interrupção das peregrinações e das pequenas atividades que sobretudo os cristãos criaram contemporaneamente com aquelas, muitos foram constrangidos ao exílio. Se queremos reforçar a Terra Santa e assegurar o contacto vivo com os Lugares Santos, ocorre manter comunidades cristãs que, na sua variedade, oferecem ao Deus-connosco o seu perene louvor, também em nosso nome. Mas para que isto aconteça, temos absoluta necessidade do dom generoso das vossas comunidades.

Gostaria que vós, Irmãos bispos, fazendo memória das imagens de destruição e de morte que passaram constantemente sob os vossos olhos nestes tempos de novo Calvário, vos fizésseis apóstolos persuasivos deste empenho. A Terra Santa, os Lugares Santos, o Povo Santo de Deus são a vossa família, porque são património de todos nós. Senti, vos peço, a Coleta como uma das vossas prioridades pastorais: aqui está em jogo a sobrevivência desta nossa preciosa presença, que vem desde os tempos de Jesus. Estou certo que o vosso entusiasmo e o vosso cuidado afetuoso se transmitirão às comunidades que vos foram confiadas.

Por favor, evitai que as nossas Igrejas promovam coletas paralelas a este nosso objetivo, para que não sejam comprometidos o significado e a eficácia da vossa caridade, iniciativa universal do Sucessor de Pedro, o Bispo de Roma. Quanto havereis recolhido poderá ser mandado diretamente a este Dicastério pelos Comissários da Terra Santa do vosso País. Esperamos que nenhuma comunidade considere esta “liturgia”, como era chamada antigamente, qualquer coisa que não lhe diz respeito.

O Papa Francisco envia a todos vós a sua Bênção: Deus não esquecerá, particularmente neste Ano Jubilar da Esperança, quem se fizer testemunha da sua Providência e instrumento da sua Paz. Os nossos Cristãos daquelas terras vos esperam. Obrigado e boa peregrinação jubilar!

Com os melhores cumprimentos,

Claudio Gugerotti

Cardeal prefeito

Michel Jalakh

Arcebispo secretário