Magdi, a operária

Mária Magdolna Bódi teria gostado de se tornar uma religiosa, mas não lhe foi permitido porque os seus pais não eram casados. O pai era um homem pobre, rude, alcoólatra e ateu: se fosse só isso, transeat. Mas era de origens desconhecidas, a ausência de documentos era um obstáculo intransponível para o casamento. Assim, quando Mária Magdolna, Magdi, nasceu a 8 de agosto de 1921 em Szigliget, um pequeno município da Hungria, no distrito de Veszprém, atualmente com 935 habitantes, foi registada como filha ilegítima. Foi batizada, recebeu a primeira comunhão e o crisma, mas foi-lhe negado o convento, as regras religiosas da época eram estas. Como a sua fé era profunda resolveu portanto sozinha: aos vinte anos durante um retiro espiritual consagrou-se a Cristo Rei, fazendo um voto privado de castidade perpétua.
Tendo entrado como operária numa grande fábrica de produtos químicos que empregava milhares de trabalhadores e sendo considerada na vanguarda no que concerne as medidas sociais, Magdi comprometeu-se imediatamente na Associação das jovens trabalhadoras e tornou-se um ponto de referência para as companheiras. Em 1943, fez um curso de enfermagem para poder ir para a frente de combate e levar assistência, mas o cartão de convocação nunca chegou: ficou surpreendida, mas a verdade era que os donos da fábrica não se queriam privar de uma das melhores trabalhadoras.
Mária Magdolna Bódi não tinha ainda 24 anos quando morreu vítima da violência masculina, assassinada a sangue frio por ter resistido a uma violação por parte de um soldado inimigo.
Foram anos terríveis, em 1944, o Exército Vermelho começou a avançar no território da Hungria, país que durante a segunda guerra mundial esteve por muito tempo do lado das potências do Eixo. A tragédia aconteceu a 23 de março de 1945, quando as tropas soviéticas chegaram à pequena aldeia de Litér, para onde a família de Magdi se tinha mudado para trabalhar.
A jovem operária estava em pé no pátio de uma casa senhorial, juntamente com algumas mulheres e os seus filhos, quando chegaram numa mota dois soldados soviéticos, armados. Um deles ordenou-lhe que entrasse no abrigo. Ela sabia o que a esperava. Defendeu-se, bateu no olho do soldado com uma tesoura e tentou fugir, avisando as outras mulheres do perigo. Mas, alguns instantes depois, o soldado reapareceu no pátio e disparou imediatamente contra ela. Seis balas perfuraram-na. As testemunhas contam que ela morreu dizendo: “Senhor, meu Rei! Leva-me contigo!”.
A canonização de Mária Magdolna Bódi foi iniciada em 1945 por József Mindszenty, então Bispo de Veszprém, mais tarde cardeal primaz da Hungria, detido, torturado, condenado a prisão perpétua pelo regime comunista no pós-guerra. O caso foi depois retomado em 1990 com a reabertura do processo iniciado pelo bispo József Szendi.
A 23 de maio de 2024, o Papa Francisco reconheceu o seu martírio. A sua beatificação terá lugar em Veszprém, a 26 de abril.