· Cidade do Vaticano ·

Carta de Francisco ao núncio apostólico na Federação russa

Paz e não guerra Diálogo e não fragor das armas Solidariedade e não interesses de parte

Yelena grieves at the grave of her son, a fallen Russian soldier, at a cemetery in the town of ...
19 dezembro 2024

«Paz em vez da guerra, diálogo em vez do fragor das armas, solidariedade em vez dos interesses de parte»: é o que deseja o Papa Francisco na Carta enviada, a 14 de dezembro, ao núncio apostólico na Federação russa, o arcebispo Giovanni d’Aniello, recordando a urgência de «reconstruir a paz» depois de mais de mil dias de conflito na região.

Ao estimado Irmão
D. Giovanni d’Aniello
Núncio Apostólico
na Federação russa

Querido Irmão!

Ao aproximar-se o Natal, dia em que apareceu na terra o Filho de Deus, o Príncipe da Paz, desejo partilhar contigo, como meu representante junto da Nação russa, a minha oração e o meu veemente apelo para que a paz reine entre os povos e renasça nos corações de todos os homens, amados pelo Senhor.

Há mais de mil dias que acompanho com preocupação as notícias sobre os sofrimentos causados pelo conflito nesta região. A duração dolorosa e prolongada desta guerra interpela-nos com urgência, chamando-nos a refletir juntos sobre como aliviar as dores das pessoas atingidas e reconstruir a paz. Todos estamos, de facto, ligados por uma responsabilidade recíproca, no espírito da verdadeira fraternidade humana.

Não foi talvez isto que Dostoievski exprimiu com extraordinária profundidade no diálogo entre Ivan e Alëša em Os Irmãos Karamazov (Livro v , capítulo 4)? O sofrimento infligido aos inocentes é uma poderosa denúncia contra todas as formas de violência. Por isso, faço-me intérprete das dezenas de milhares de mães, pais e filhos que choram os seus entes queridos mortos na guerra ou que estão angustiados pelos desaparecidos, feitos prisioneiros ou feridos, sejam eles militares ou civis.

O seu grito eleva-se a Deus, invocando paz em vez da guerra, o diálogo em vez do fragor das armas, solidariedade em vez dos interesses de parte, porque nunca se pode matar em nome de Deus. É um grito ao qual me uno, com o coração dorido pelas vidas destroçadas, as destruições e os sofrimentos, e também pela grave ferida infligida à família humana por esta guerra. Desejo que os esforços humanitários dedicados a favor dos mais vulneráveis possam abrir o caminho a renovados esforços diplomáticos, necessários para travar a progressão do conflito e para alcançar a tão esperada paz.

Neste caminho comum, gostaria de recordar as palavras de um sábio homem de Deus, tão caro ao povo russo, São Serafim de Sarov: “Adquire o espírito de paz e milhares à tua volta serão salvos” («Стяжи дух мирен и тысячи вокруг тебя спасутся»). Através de ti, querido irmão, desejo, portanto, dirigir um convite fraterno a cada pessoa de boa vontade para se unir na oração a Deus, implorando o dom da paz, e no compromisso de contribuir para este nobre objetivo, para o bem de toda a humanidade.

Vaticano, 12 de dezembro de 2024

FRANCISCO