Cuidar das vítimas
![Cuidar das vítimas de violência e abuso em Tamil Nadu POR-050 Cuidar das vítimas de violência e abuso em Tamil Nadu POR-050](/content/dam/or/images/pt/2024/12/050/varobj28829299obj2035841.jpg/_jcr_content/renditions/cq5dam.thumbnail.cropped.500.281.jpeg)
No Estado de Tamil Nadu, sul da Índia, a religiosa Johncy Nambikairaj e as suas irmãs de hábito cuidam de meninas vítimas de abusos e dedicam-se à prevenção e à sensibilização. Não é uma missão fácil.
As sobreviventes de abusos dizem-lhe com frequência: «Não sei porque as pessoas me rejeitam e porque agora olham para mim de maneira diferente. Não sou aceite. Não fiz nada!», diz a religiosa indiana Johncy Nambikairaj durante uma entrevista a Vatican News. Muitas vezes, quando as pessoas descobrem os abusos, estigmatizam as vítimas e as suas famílias.
A irmã Johncy é assistente social e trabalha com meninos e meninas provenientes de contextos pobres da comunidade de Gudalur, numa região montanhosa do Estado de Tamil Nadu, na Índia. «Algumas destas crianças sofreram várias formas de abuso físico, mental, sexual. Dispomos de um lar para elas e cuidamos delas, prestando-lhes os primeiros socorros. Quando nos procuram, oferecemos-lhes aconselhamento em várias fases», explicou a religiosa das Irmãs da Caridade de Maria Menina ( icmm ), ordem fundada em Lovere (Itália), em 1832.
A pobreza e o abandono constituem o terreno fértil para os abusos, referiu a irmã Johncy a propósito das circunstâncias sociais. «Estas meninas não gozam da necessária privacidade em casa, e além disso há a pobreza. Os pais deixam-nas sozinhas porque devem trabalhar. As menores são vítimas de abusos, por exemplo, por parte de vizinhos ou de pessoas que conhecem a família». Tamil Nadu é um dos Estados mais industrializados da Índia e relativamente próspero. No entanto, existem desigualdades sociais e problemas como o trabalho infantil, a subalimentação, o desemprego e os abusos.
«As crianças vítimas de abusos sentem-se intimamente destruídas», diz a assistente social. «Por fora, parece que está tudo bem. Mas quando nos aproximamos delas, damo-nos conta de que se sentem profundamente feridas». Atualmente, a irmã Johncy cuida de 50 meninas, muitas das quais são órfãs ou semiórfãs. A congregação não pode oferecer ajuda terapêutica, mas consegue proporcionar alojamento e educação. Outras, infelizmente, são mandadas para casa, onde muitas vezes não vivem em segurança. Para chegar às vítimas, a congregação colabora também com a “ChildLine 1098”, onde as vítimas e os cidadãos de “bom coração” podem denunciar os casos de abuso.
A irmã Johncy explicou que o abuso ainda é um tabu social na Índia, representando um dos maiores desafios no seu trabalho em benefício das vítimas. Se falar de sexualidade é uma vergonha, para muitos é ainda mais difícil falar de violência sexual que, portanto, não é denunciada: «Na nossa cultura, não se fala destes assuntos», resumiu. Isto torna mais difícil a prevenção, levando as vítimas e as suas famílias a sofrer ainda mais, sobretudo quando a injustiça não é mencionada nem punida, mas tende a ser ocultada.
A violência contra as jovens e as mulheres constitui um problema enorme na Índia, como demonstram as estatísticas. A maior parte dos casos ocorre em casa, onde o número de crimes não denunciados é ainda mais elevado. Para debelar esta situação, no verão de 2024 entrou em vigor um novo código penal que prevê, entre outras coisas, um tratamento mais rápido dos casos por parte da polícia e dos tribunais.
A Igreja católica na Índia envida cada vez mais esforços a fim de sensibilizar para este tema e combater os abusos. No outono de 2023, a irmã Johncy foi enviada a Roma para receber formação sobre o tema da tutela, no Instituto iadc da Pontifícia Universidade Gregoriana. Agora, inseriu o que aprendeu em Roma na sua atividade na Índia.
A religiosa trabalha também para sensibilizar as escolas e os refugiados, que estão expostos a riscos elevados. Disse-nos que já foram alcançados alguns progressos: «Desde que demos início à obra de sensibilização, mais pais decidiram falar sobre o problema, não em toda a parte, mas em certos casos, lentamente, começam a enfrentar mais esta questão. Ensinamos as crianças a falar e os pais a ouvir. Ainda há muito a fazer, mas nota-se um lento progresso».
Embora a Igreja católica na Índia seja uma minoria (menos de 2% da população), a sua influência nos sectores social, educativo e da saúde é importante. Através da sua rede, a Igreja tem um enorme potencial na área da tutela, não só no país mais populoso do planeta, a Índia, mas no mundo inteiro.
Anne Preckel
#sistersproject