· Cidade do Vaticano ·

Audiência do Papa aos membros da Família Calasanziana

Responder às novas pobrezas com prontidão e inteligência laboriosa

 Responder às novas pobrezas  com prontidão e inteligência laboriosa  POR-049
05 dezembro 2024

Os mestres devem ser «anjos da guarda» da educação dos jovens


Responder prontamente às «novas pobrezas», cuidando do crescimento integral da pessoa através das «três inteligências» da mente, do coração e das mãos, longe do conceito erróneo de «carreira eclesiástica»: este foi o convite do Papa Francisco aos membros da Família Calasanziana, recebidos a 28 de novembro na Sala do Consistório, por ocasião do seu 75º aniversário.

Caros irmãos e irmãs
Bom dia e bem-vindos!

É com alegria que me encontro convosco por ocasião do 75º aniversário da Família Calasanziana, que vos reúne no carisma educativo do Padroeiro universal de todas as escolas populares cristãs, São José Calasanz, e também em vista do centenário da morte de dois dos vossos fundadores, São Faustino Míguez e Beata Celestina Donati.

O Senhor inspirou São José Calasanz a dedicar a vida à educação dos jovens, especialmente dos pequeninos e dos pobres, como seu “anjo da guarda”, para usar a expressão com que ele próprio gostava de definir a missão do “mestre”. “Anjo da guarda”, é bonito! E vós continuais a sua obra que, entretanto, ao longo dos séculos, se difundiu pelos quatro continentes. Portanto, nesta feliz ocasião, gostaria de realçar dois aspetos das vossas origens que considero importantes para vós e para o vosso futuro: o primeiro aspeto, a corajosa docilidade à Providência; o segundo, o cuidado pelo crescimento integral da pessoa.

Primeiro: a corajosa docilidade à Providência. O vosso Fundador, de uma família abastada, provavelmente destinado a uma “carreira eclesiástica” — termo que me repugna e que deveria ser abolido — que chegou a Roma com cargos de um certo nível, não hesitou em alterar programas e perspetivas da sua vida para se dedicar às crianças de rua que encontrou na cidade. Foi assim que surgiram as Escolas Pias: não tanto por causa de um plano predefinido e garantido, mas por causa da coragem de um bom sacerdote que se deixou envolver pelas necessidades do próximo, onde o Senhor as colocou diante dele. Isto é muito bonito, e gostaria também de vos convidar a manter, nas vossas escolhas, a mesma abertura e disponibilidade, sem calcular demasiado, superando medos e hesitações, sobretudo diante das muitas novas pobrezas dos nossos dias (cf. Exortação Apostólica Evangelii gaudium, 210). As novas pobrezas. Seria bom se um dia destes, no vosso encontro, procurásseis descrever o que são as novas pobrezas. Não tenhais medo de vos aventurar, para responder às necessidades dos pobres, por caminhos diferentes dos percorridos no passado, mesmo à custa de rever esquemas e redimensionar expetativas. É neste abandono confiante que estão as vossas raízes e, permanecendo fiéis a elas, mantereis vivo o vosso carisma.

Segundo aspeto: o cuidado pelo crescimento integral da pessoa. A grande novidade das Escolas Pias foi ensinar aos jovens pobres, com as verdades da fé, também as matérias de educação geral, integrando a formação espiritual e intelectual para preparar adultos maduros e competentes. Foi uma escolha profética naquele tempo, plenamente válida ainda hoje. Gosto de falar, a este propósito, de fazer a unidade, na pessoa, entre as “três inteligências”: a da mente, a do coração e a das mãos — as mãos são inteligentes! — e assim podemos fazer com as mãos o que sentimos e pensamos, sentir o que pensamos e fazemos, pensar o que sentimos e fazemos. As três inteligências. Hoje é muito urgente ajudar os jovens a fazer este tipo de síntese, uma unidade harmoniosa das três inteligências, a “fazer a unidade” em si mesmos e com os outros, num mundo que, ao contrário, os leva cada vez mais na direção da fragmentação dos sentimentos e do saber, e do individualismo nas relações.

E, a este respeito, insistir nas relações “normais”, fitando os olhos uns dos outros, não nas relações virtuais através do telemóvel. Um bispo contou-me que, num domingo, os seus primos o convidaram para almoçar num restaurante e, na mesa ao lado, estava uma família: pai, mãe, filho e filha, os quatro com telemóveis, não falavam entre eles. O bispo, muito imprudente, levantou-se, aproximou-se e disse: “Mas reparai, sois uma linda família, porque falais com o telemóvel? Porque não falais entre vós? Eles ouviram-no, “mandaram-no para o inferno” e continuaram a falar assim. Isto é terrível, uma falta de humanidade. As três inteligências. Isto é importante, que as crianças façam esta unidade em si próprias, com os outros e com o mundo. O estilo educativo integral é um “talento carismático” muito importante que Deus vos confiou, para que o façais frutificar com o melhor das vossas capacidades para o bem de todos.

Caros amigos, gostaria de concluir frisando um último aspeto positivo da vossa presença aqui: caminhar juntos. É com grande satisfação que vejo como todos vós — homens e mulheres, consagrados, consagradas, e leigos — à escuta do Espírito, sentistes a necessidade de “fazer família”, de unir os vossos esforços e partilhar as vossas experiências numa rede de caridade, ao serviço dos irmãos (cf. Exortação apostólica Christus vivit, 222). É o estilo de Jesus (cf. Mc 3, 14-15; Mt 18, 20), e é também o estilo da Igreja (cf. Constituição dogmática Lumen gentium, 7; Constituição pastoral Gaudium et spes, 92). Obrigado por isto e por tudo o que fazeis. Abençoo-vos de coração e peço-vos que rezeis por mim!