· Cidade do Vaticano ·

O Papa aos participantes na sessão plenária da Comissão Teológica Internacional

Num mundo polarizado caminhar na fraternidade

 Num mundo polarizado caminhar na fraternidade  POR-049
05 dezembro 2024

E reiterou o desejo de ir aos lugares onde se realizou o Concílio de Niceia 


«Dar um passo corajoso: desenvolver uma teologia da sinodalidade (...) que se inspire no querigma e envolva todos os componentes da Igreja»: foi assim que o Papa Francisco se dirigiu aos participantes da sessão plenária da Comissão Teológica Internacional, recebidos em audiência na manhã de 28 de novembro, na Biblioteca particular do Palácio apostólico. Do Pontífice também a exortação a «recolocar Cristo no centro» para reacender a esperança num mundo marcado por «conflitos e violências». Concluindo, reiterou o desejo de ir em 2025 aos lugares do Concílio de Niceia, realizado há 1.700 anos.

Eminência
Caros irmãos e irmãs!

Já estamos próximos da abertura da Porta Santa do Jubileu e concluímos há pouco a 16ª Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos. A partir destes dois acontecimentos, gostaria de dirigir-vos duas reflexões: a primeira é aquela de voltar a colocar Cristo no centro; a segunda, é desenvolver uma teologia da sinodalidade.

Voltar a colocar Cristo no centro. O Jubileu convida-nos a redescobrir a face de Cristo e a reorientar-nos para Ele. E, durante este Ano Santo, teremos também a oportunidade de celebrar o aniversário de 1700 anos do primeiro grande Concílio Ecuménico realizado em Niceia. Tenho desejo de ir até lá. Este Concílio constitui um marco no caminho da Igreja e também de toda a humanidade, já que a fé em Jesus, Filho de Deus que se fez carne por nós e para nossa salvação, foi formulada e professada como uma luz que ilumina o sentido da realidade e o destino de toda a história. Foi desse modo que a Igreja respondeu o convite do apóstolo Pedro: «No íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pedir» (1 Pd 3, 15).

Esta exortação, que se dirige a todos os cristãos, pode aplicar-se de modo especial ao ministério que os teólogos são chamados a desempenhar como serviço ao Povo de Deus: favorecer o encontro com Cristo, aprofundar o significado do seu mistério, para melhor compreender «qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade... a capacidade de conhecer o amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento» (Ef 3, 18-19).

O Concílio de Niceia, ao afirmar que o Filho é da mesma substância que o Pai, põe em evidência algo essencial: em Jesus, podemos conhecer o rosto de Deus e, ao mesmo tempo, também o rosto do homem, descobrindo-nos filhos no Filho e irmãos um dos outros. Essa fraternidade enraizada em Cristo se torna para nós um dever ético fundamental. É importante, portanto, que tenhais dedicado uma grande parte desta Assembleia Plenária a trabalhar num documento que visa ilustrar o significado atual da fé professada em Niceia. Um tal documento poderá ser precioso no decurso do ano jubilar, podendo alimentar e aprofundar a fé dos fiéis e, partindo da figura de Jesus, oferecer também indicações e reflexões úteis para um novo paradigma cultural e social, inspirado precisamente na humanidade de Cristo.

Hoje, realmente, em um mundo complexo e muitas vezes polarizado, tragicamente marcado por conflitos e violências, o amor de Deus que se revela em Cristo e que nos é dado no Espírito, torna-se um apelo dirigido a todos, para que aprendamos a caminhar na fraternidade e a ser promotores de justiça e de paz. Só assim poderemos lançar sementes de esperança onde quer que vivamos.

Voltar a colocar Cristo no centro significa reavivar esta esperança e a Teologia é chamada a fazê-lo, num trabalho constante e sapiencial, em diálogo com todos os outros saberes.

Chegamos, assim, ao segundo ponto de reflexão: desenvolver uma teologia da sinodalidade. A Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos dedicou um ponto do Documento Final à tarefa da Teologia, no contexto dos «carismas, vocações e ministérios para a missão»; e formulou esta aspiração: «A Assembleia convida as instituições teológicas a prosseguir a investigação com o objetivo de clarificar e aprofundar o significado da sinodalidade» (n. 67). Isto foi algo visionário de São Paulo vi ao final do Concílio, quando criou a Secretaria do Sínodo dos Bispos. Nestes quase 60 anos, desenvolveu-se paulatinamente esta teologia sinodal, e hoje podemos dizer que está madura. Hoje não se pode pensar a atividade pastoral sem esta dimensão sinodal.

Por isso, juntamente com a centralidade de Cristo, gostaria de convidar-vos a ter presente também a dimensão eclesiológica, para melhor desenvolver o objetivo missionário da sinodalidade e a participação de todo o Povo de Deus na sua variedade de culturas e tradições. Diria que chegou o momento de dar um passo corajoso: desenvolver uma teologia da sinodalidade, uma reflexão teológica que ajude, encoraje e acompanhe o processo sinodal, para uma nova etapa missionária, mais criativa e ousada, inspirada no querigma e que tenha a participação de todos os membros da Igreja.

Termino com um desejo: que sejais como o Apóstolo João que, na sua confiança de discípulo amado, aproximou a cabeça do coração de Jesus (cf. Jo 13, 25). Como recordei na Encíclica Dilexit nos, o Sagrado Coração de Jesus «é o princípio unificador da realidade, porque “Cristo é o coração do mundo; a sua Páscoa de morte e ressurreição é o cerne da história que, graças a Ele, é história de salvação”» (n. 31). Permanecendo, por assim dizer, apoiada no Coração do Senhor, a vossa teologia beberá da fonte e dará frutos na Igreja e no mundo!

Algo fundamental para produzir uma teologia fecunda é não perder o bom humor, por favor! Isto ajuda muito. O Espírito Santo é quem nos ajuda nesta dimensão da alegria e do bom humor.

Irmãs e irmãos, agradeço-vos pelo vosso serviço. Acompanho-vos com a minha bênção. E, por favor, peço-vos que rezeis por mim. A favor, não contra. Obrigado!