· Cidade do Vaticano ·

O ministério da irmã Pia entre os cegos

Luz para as crianças no Ruanda

 Luz para as crianças  no Ruanda  POR-048
28 novembro 2024

«Gratidão, curiosidade, recetividade e desfrutar das pequenas coisas» é como a irmã Pia Gumińska, do Centro Escolar e Educativo para Crianças Cegas no Ruanda, descreve o amor divino que se revela nas pessoas das quais cuida.

Com uma população de 14 milhões de habitantes, o Ruanda é recordado por causa do que lá aconteceu no início da década de 80. Nessa altura, a Abençoada Virgem Maria apareceu às jovens de Kibeho. A Igreja Católica reconheceu oficialmente todas as aparições e peregrinos têm vindo de todo o mundo. Nas proximidades, encontra-se uma escola e um centro educativo para os cegos gerido pelas Irmãs Franciscanas Polacas Servas da Cruz. Foi fundada em 2008; em 2009, foi inaugurada uma escola básica, a primeira escola para cegos em todo o Ruanda. Existe também uma escola secundária e outra, também secundária, especializada com diferentes módulos educativos. Este ano, o centro é frequentado por 185 crianças. O pessoal é composto por duas irmãs da Polónia, uma do Quénia, três do Ruanda e vários funcionários leigos.

A irmã Pia explica que contemplava a ideia de servir como missionária, há anos. «Disse a Jesus que, se houvesse a necessidade, eu iria. Houve uma oferta das superiores, por isso quis conhecer esta jovem Igreja e vim para aqui, com total abertura», salienta. As irmãs em Kibeho querem incutir nas suas crianças a ideia da Madre Rosa Czacka, fundadora da Congregação das Irmãs Franciscanas Servas da Cruz, agora Beata. «Queremos mostrar-lhes que conseguem ser independentes e que podem demonstrar aos outros que a deficiência não impede o desenvolvimento e o sucesso. Queremos dar-lhes esperança através da nossa atividade», acrescenta a irmã Pia.

No entanto, muitas das crianças de que as irmãs cuidam foram abandonadas pelas suas famílias. É por isso que muitas vezes chegam ao centro tarde, com 12 ou 13 anos. Os alunos da escola das irmãs não são preguiçosos. Levantam-se cedo, começam o seu estudo individual às 6 da manhã, vão para a escola às 8 e ficam lá até às 17. Depois da escola, têm atividades desportivas e, em seguida, novamente o seu tempo de estudo individual. É claro que o grupo inclui alguns alunos que se distinguem. Um deles é Jean de Dieu Niyonzima, que ficou em quinto lugar no país nos exames nacionais do final do ensino básico. Ele disse aos meios de comunicação locais que gostaria de estudar jornalismo e línguas.

As irmãs estão muito orgulhosas de cada resultado dos seus protegidos. «As crianças são extremamente criativas. Conseguem compor uma canção para o Dia dos Professores, por exemplo. Cantam a várias vozes e em diferentes tonalidades, e também temos um coro da escola. Atuam em todas as celebrações da escola e dirigem os cânticos na Missa de Domingo», diz a irmã Pia. Dois professores dão aulas de dança, frequentadas por crianças mais novas e mais velhas com deficiência visual.

A escola é o lar de um grupo de crianças albinas. Elas sentem-se seguras aqui, apesar de o seu destino poder ser trágico em África. «Um dia, uma mulher trouxe duas crianças albinas para a escola, dizendo que só a terceira, deixada em casa, era Ruandesa», conta a irmã. «É por isso que é necessário dedicar-lhes um amor especial», sublinha.

As irmãs insistem que a Providência está a olhar por elas. «Deus, cuida muito bem de nós, enviando-nos financiadores; a maior parte das nossas atividades é possível graças a donativos, principalmente da Polónia e de organizações de outros países», acrescenta a irmã Pia.

«Por vezes, basta pensarmos numa nova ideia e, de repente, há pessoas que nos ajudam a materializá-la», salienta.

A Madre Rosa Czacka é uma patrona especial nas tarefas quotidianas das Irmãs. «Ela aceitou a cegueira como vontade de Deus, por isso damos o nosso melhor para oferecer fé às crianças. Isto é fácil, na medida em que a sociedade ruandesa é uma sociedade de crentes em Deus. A gratidão e a alegria são visíveis nos rostos das crianças». «Até as mais pequenas prendas que recebem as levam às lágrimas. Quando há uma festa de aniversário, a sua alegria é imensa e ficam gratas por alguém se lembrar de uma ocasião como esta», diz a irmã Pia.

Palavras como alegria, gratidão e vontade de aprender são frequentemente ouvidas aqui em Kibeho. As crianças recuperam a convicção de que podem alcançar algo na vida. Ficam orgulhosas quando conseguem mostrar em casa que sabem ler. Criam chapéus e cachecóis durante os laboratórios de tricô», e tudo isto constitui uma excelente motivação para as irmãs. «O facto de estarmos aqui é obra de Deus, sentimo-lo. Somos poucas, e o centro é grande, por isso esperamos por novas vocações», frisa a Ir. Pia.

A chegada do Embaixador da Polónia ao Ruanda será um apoio significativo para as irmãs. Estão a ser feitos preparativos para abrir a embaixada. Em fevereiro de 2024, o centro recebeu o Presidente da Polónia, Andrzej Duda, e a sua esposa, Agata Kornhauser-Duda.

«Aqui, as pessoas desfrutam do que têm e têm pouco», sublinha a Ir. Pia. Embora este seja apenas o primeiro ano do seu serviço no centro, ela já adquiriu a marca distintiva do sorriso dos seus assistidos.

Tomasz Zielenkiewicz