A esperança de que a Conferência sobre as mudanças climáticas (Cop29), que iniciou a 11 do corrente mês em Baku, capital do Azerbaijão, e que decorre até 22 de novembro, «contribua eficazmente para a tutela da nossa casa comum», foi expressa pelo Papa no Angelus de 10 de novembro, recordando ao mesmo tempo o lançamento em 2021 da Plataforma de ação «Laudato si’» e o Dia de ação de graças, celebrado pela Igreja italiana para salvaguardar a fertilidade da terra. Falando ao meio-dia da janela do Palácio apostólico do Vaticano, o Pontífice introduziu a recitação da oração mariana com os fiéis presentes na praça de São Pedro e com quantos o seguiam através dos meios de comunicação social, comentando o Evangelho de domingo (Mc 12, 38-44) centrado na atitude hipócrita de alguns escribas.
Queridos irmãos e irmãs
bom domingo!
Hoje o Evangelho da liturgia (cf. Mc 12, 38-44) fala-nos de Jesus que, no templo de Jerusalém, denuncia diante do povo a atitude hipócrita de alguns escribas (cf. vv. 38-40).
A estes últimos era confiado um papel importante na comunidade de Israel: liam, transcreviam e interpretavam as Escrituras. Por isso, eram tidos em grande estima e o povo prestava-lhes reverência.
Mas, para além das aparências, o seu comportamento não correspondia muitas vezes ao que ensinavam. Não eram coerentes. De facto, alguns, valendo-se do prestígio e do poder de que gozavam, olhavam para os outros “de cima” — o que é muito feio, olhar para o outro de cima para baixo — assumiam ares de superioridade e, escondendo-se atrás de uma fachada de fingida respeitabilidade e legalismo, arrogavam-se privilégios e chegavam ao ponto de cometer roubos em detrimento dos mais fracos, como as viúvas (cf. v. 40). Em vez de usarem o papel de que foram investidos para servir os outros, fizeram dele um instrumento de arrogância e de manipulação. E aconteceu que até a oração, para eles, corria o risco de deixar de ser um momento de encontro com o Senhor, para se tornar uma ocasião de ostentação de respeitabilidade e de piedade fingida, útil para atrair a atenção das pessoas e obter aprovação (cf. ibid.). Recordemos o que Jesus diz sobre a oração do publicano e do fariseu (cf. Lc 18, 9-14).
Eles — não todos — comportavam-se como pessoas corruptas, alimentando um sistema social e religioso em que era normal favorecer-se em detrimento dos outros, sobretudo dos mais indefesos, cometendo injustiças e garantindo-se a impunidade.
Destas pessoas, Jesus recomenda que nos afastemos, que tenhamos “cuidado” (cf. v. 38), que não as imitemos. Pelo contrário, com a sua palavra e o seu exemplo, como sabemos, ele ensina coisas muito diferentes sobre a autoridade. Fala dela em termos de abnegação e de serviço humilde (cf. Mc 10, 42-45), de ternura materna e paterna para com as pessoas (cf. Lc 11, 11-13), sobretudo as mais necessitadas (Lc 10, 25-37). Convida quem dela está investido a olhar para os outros, a partir da sua posição de poder, não para os humilhar, mas para os elevar, dando-lhes esperança e ajuda.
Assim, irmãos e irmãs, podemos interrogar-nos: como me comporto eu nas minhas áreas de responsabilidade? Procedo com humildade ou orgulho-me da minha posição? Sou generoso e respeitador das pessoas ou trato-as de forma rude e autoritária? E com os mais frágeis, estou ao lado deles, inclino-me para os ajudar a levantar-se?
A Virgem Maria nos ajude a lutar contra a tentação da hipocrisia em nós — Jesus diz-lhes “hipócritas”, a hipocrisia é uma grande tentação — e nos ajude a fazer o bem sem aparecer e com simplicidade.
Depois do Angelus, o bispo de Roma voltou a dirigir o seu pensamento para Valência e para as outras regiões de Espanha atingidas pelas inundações, bem como para a ilha indonésia de Flores, onde houve uma erupção vulcânica. Em seguida, o Papa manifestou a sua preocupação por Moçambique, assolado por graves protestos e tensões sociais. Recordou também os conflitos na Ucrânia, na Palestina, em Israel, no Líbano, em Myanmar e no Sudão e a beatificação em Sevilha, no dia anterior, do padre José Torres Padilla, cofundador da Congregação das Irmãs da Companhia da Cruz.
Queridos irmãos e irmãs!
Ontem, em Sevilha, foi proclamado Beato o Padre José Torres Padilla, cofundador da Congregação das Irmãs da Companhia da Cruz. Viveu na Espanha do século xix e distinguiu-se como sacerdote confessor e guia espiritual, testemunhando uma grande caridade para com os necessitados. Que o seu exemplo sustente sobretudo os sacerdotes no seu ministério. Aplaudamos o novo Beato!
Há três anos foi lançada a Plataforma de ação Laudato si’. Agradeço a todos aqueles que trabalham em prol desta iniciativa. A este propósito, espero que a Conferência sobre as Alterações Climáticas C op 29, que começa amanhã em Baku, dê um contributo eficaz para a proteção da nossa casa comum.
Estou próximo da população da ilha de Flores, na Indonésia, atingida pela erupção de um vulcão; rezo pelas vítimas, pelas suas famílias e pelos desalojados. E renovo a minha recordação pela população de Valência e de outras partes de Espanha que está a lidar com as consequências das inundações. Faço-vos uma pergunta: rezastes por Valência? Já pensastes em dar algum contributo para ajudar essas pessoas? É apenas uma pergunta.
As notícias que nos chegam de Moçambique são preocupantes. Convido todos ao diálogo, à tolerância e à procura incansável de soluções justas. Rezemos por toda a população moçambicana, para que a situação atual não a faça perder a fé no caminho da democracia, da justiça e da paz.
E continuemos, por favor, a rezar pela martirizada Ucrânia, onde também foram atingidos hospitais e outros edifícios civis; e rezemos pela Palestina, Israel, Líbano, Myanmar, Sudão. Rezemos pela paz em todo o mundo.
Hoje a Igreja italiana celebra o Dia de ação de graças. Expresso a minha gratidão ao mundo da agricultura e encorajo as pessoas a cultivar a terra para preservar a sua fertilidade para as gerações futuras.
Saúdo com afeto todos vós, romanos e peregrinos e os jovens da Imaculada. Em particular, os fiéis do Cazaquistão, de Moscovo, de Nova Iorque, de Bastia (Córsega), de Beja e do Algarve em Portugal, de Varsóvia, de Lublin e de outras localidades da Polónia. Saúdo o Comité promotor do Pacto Educativo Global com representantes de numerosas Universidades Católicas; saúdo os crismandos de Empoli; os voluntários do Banco Alimentar e a Banda italiana da “Arma Trasporti e Materiali”. Esperemos que a banda nos faça ouvir algo bonito!
E desejo a todos bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à próxima!