· Cidade do Vaticano ·

Missa do Pontífice em sufrágio dos cardeais e bispos falecidos durante o ano

Cada um à sua maneira mas todos amaram a Igreja

 Cada um à sua maneira mas todos amaram a Igreja  POR-045
07 novembro 2024

«Amaram a Igreja, cada um à sua maneira, mas todos amaram a Igreja». O Papa Francisco recordou com estas palavras os cardeais, arcebispos e bispos falecidos durante o último ano. O Pontífice presidiu na manhã de segunda-feira, 4 de novembro, à celebração de sufrágio, na memória litúrgica de São Carlos Borromeu, no altar da Cátedra da basílica do Vaticano. Entre 22 de dezembro de 2023 e 20 de outubro último, faleceram sete cardeais: os italianos Sebastiani e Dal Corso, o neozelandês Williams, o alemão Cordes, o colombiano Rubiano Sáenz, o antilhano Felix e o angolano do Nascimento. E de 1 de novembro de 2023 ao passado 21 de outubro, faleceram 123 prelados. A celebração contou com a presença de 34 cardeais, incluindo o secretário de Estado, Pietro Parolin. Com ele, os cardeais Arinze e Ouellet aproximaram-se do altar no momento da consagração eucarística. Com o corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé estavam presentes os arcebispos Peña Parra e Gallagher, respetivamente substituto da Secretaria de Estado e secretário para as Relações com os Estados e Organizações internacionais, e monsenhor Fernández González, chefe do Protocolo. Os fiéis rezaram, em primeiro lugar, por Francisco e por todos os pastores da Igreja, pelos cardeais e bispos falecidos nos últimos doze meses. Em seguida, rezou-se pelas pessoas com responsabilidades civis e sociais — para que se inspirem em projetos de justiça e de paz para o bem de toda a família humana — e por todos os defuntos e batizados. O rito terminou com o canto da antífona mariana “Sub tuum praesidium”, entoada pelos coristas da Capela Sistina, que animaram toda a liturgia.

«Jesus, lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino» (Lc 23, 42). Estas são as últimas palavras dirigidas ao Senhor por um dos dois crucificados com Ele. Quem as pronuncia não é um discípulo, um daqueles que seguiram Jesus pelos caminhos da Galileia e partilharam o pão com Ele na Última Ceia. O homem que se dirige ao Senhor é, pelo contrário, um malfeitor. Alguém que só o encontra no fim da vida; alguém de quem sequer sabemos o nome.

Mas os últimos suspiros deste desconhecido tornam-se, no Evangelho, um diálogo cheio de verdade. Enquanto Jesus é «contado entre os pecadores» (Is 53, 12), como Isaías tinha profetizado, uma voz inesperada levanta-se e diz: «Recebemos o castigo que as nossas ações mereciam; mas Ele nada praticou de condenável» (Lc 23, 41). E é realmente assim. Este condenado representa-nos a todos; podemos dar-lhe o nosso nome. Podemos, sobretudo, fazer nosso o seu apelo: “Jesus, lembra-te de mim”. Mantém-me vivo na tua memória. Não te esqueças de mim.

Meditemos sobre este ato: recorda-te, recordar. Recordar significa “trazer de volta ao coração”, re-cordar, voltar a pôr no coração. Aquele homem, crucificado com Jesus, transforma uma dor extrema numa oração: “Leva-me no teu Coração, Jesus”. E não o pede com a voz agonizante de um derrotado, mas num tom cheio de esperança. Tudo o que deseja o malfeitor que morre como discípulo da última hora é um coração hospitaleiro. E isto é tudo o que lhe importa, agora que está nu diante da morte. E o Senhor, como sempre, ouve a oração do pecador, até ao fim. Trespassado pela dor, o coração de Cristo abre-se para salvar o mundo — é um coração aberto, não fechado — acolhe, moribundo, a voz dos moribundos. Jesus morre connosco, porque morre por nós.

À súplica do crucificado culpado, responde o Crucificado inocente: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso» (Lc 23, 43). A recordação de Jesus é eficaz, a lembrança de Jesus é eficaz, porque é rica em misericórdia. Enquanto sucumbe a vida do homem, o amor de Deus liberta da morte. Então o condenado é redimido; o desconhecido torna-se companheiro; um breve encontro na cruz prolongar-se-á para sempre na paz. Isto faz-nos refletir um pouco: Como encontro Jesus? Ou, ainda melhor, como me deixo encontrar por Jesus? Deixo-me encontrar ou fecho-me no meu egoísmo, na minha dor, na minha autossuficiência? Reconheço-me pecador para me deixar encontrar pelo Senhor ou penso que sou justo e digo: “Não me serves, passa adiante”?

Jesus recorda-se dos que foram crucificados ao seu lado. Os seus cuidados, até ao último suspiro, fazem-nos refletir: há diferentes modos de recordar pessoas e coisas. Podemos recordar os erros, recordar os assuntos pendentes, recordar os amigos e os adversários. Irmãos e irmãs, perguntemo-nos hoje, diante desta cena do Evangelho: Como estão as pessoas no nosso coração? Como é que nos recordamos daqueles que estão ao nosso lado nas vicissitudes da vida? Julgo-os? Sou fator de divisão? Ou acolho?

Caros irmãos, voltando-se para o coração de Deus, os homens de hoje e de todos os tempos podem ter esperança de Salvação, mesmo se «aos olhos dos insensatos pareceram morrer» (Sb 3, 2). Com efeito, a memória do Senhor vela toda a história — a memória é custódia — Ele é o seu juiz compassivo e rico em misericórdia. O Senhor está próximo de nós como Juiz, está próximo e é compassivo e misericordioso. São as três atitudes do Senhor. Sou próximo às pessoas? Tenho o coração compassivo? Sou misericordioso? Com esta fé, rezemos pelos Cardeais e Bispos falecidos nos últimos doze meses. Hoje a nossa recordação torna-se sufrágio por estes nossos irmãos. Membros eleitos do povo de Deus, foram batizados na morte de Cristo (cf. Rm 6, 3), para ressuscitar com Ele. Foram pastores e modelos do rebanho do Senhor (cf. 1 Pd 5, 3); que agora se sentem à sua mesa, depois de terem partido na terra o Pão da vida. Amaram a Igreja, cada um do seu modo, mas todos amaram a Igreja; rezemos para que possam gozar eternamente da companhia dos santos. E nós, aguardamos, com firme esperança, o momento de alegrar-nos com eles no Paraíso. E convido-vos a dizer por três vezes comigo: “Jesus, lembra-te de nós! Jesus, lembra-te de nós! Jesus, lembra-te de nós!”.