· Cidade do Vaticano ·

Intervenções de um cardeal, de dois bispos e de um religioso

Embaixadores ativos para a sinodalidade

 Embaixadores ativos para a sinodalidade  POR-043
24 outubro 2024

«Fomos convocados não para resolver problemas particulares, mas para imaginar uma nova forma de ser Igreja. O Sínodo não se desviou do objetivo a que se tinha proposto, colocando uma base: a partir dela, voltando cada um para a sua casa, assim como na Igreja universal, devemos aplicar este espírito de sinodalidade a todos os problemas que surgem». Foi assim que o cardeal Fridolin Ambongo Besungu, arcebispo de Kinshasa, na República Democrática do Congo, iniciou a sua intervenção no habitual briefing, na Sala de Imprensa.

A poucos dias da conclusão da assembleia sinodal, o purpurado exprimiu satisfação: «O nosso País ainda é hoje considerado como uma terra de missão, a nossa Igreja foi até há pouco tempo de missionários e deve adequar-se à realidade do contexto sociocultural», disse, pelo que «a convocação para o Sínodo foi acolhida como um kairós», uma ocasião para «ver juntos como imaginar uma nova forma de ser Igreja». Agora que esta modalidade é adquirida, de regresso a casa — assegurou o presidente do Simpósio das conferências episcopais de África e Madagáscar — procuraremos, juntamente com os nossos irmãos e irmãs africanos, entrar nesta nova dinâmica, como ser uma Igreja Católica de maneira diversa».

Sobre o contributo africano para o Sínodo, a começar pelas comunidades de base e pelos catequistas, referiu o D. Andrew Nkea Fuanya, arcebispo de Bamenda, nos Camarões. A sinodalidade é «um sinal escatológico para todos nós, que vimos de diferentes partes do mundo com ideias diferentes: aquilo que dizia Isaías tornou-se realidade, o leão, o urso e o bezerro estarão juntos. Todos nós podemos voltar não só como pessoas que receberam passivamente a sinodalidade, mas como embaixadores ativos, o que creio seja realmente o futuro».

Num contexto, como o africano, onde «as igrejas estão cheias», o problema é «como mantê-las» tal/assim, sublinhou, «e fá-lo-emos através da sinodalidade». O prelado evidenciou depois o papel fundamental desempenhado pelos catequistas, de modo particular pelas mulheres, que são cerca de metade: «A África é um lugar especial para a sinodalidade, é fértil», tanto que, concluiu, «nas pequenas comunidades conseguimos resolver os problemas e ter paz».

A propósito da situação de pós-secularização vivida na Alemanha, o bispo de Essen, D. Franz-Josef Overbeck, sublinhou a exigência de reinculturar a Igreja católica. «Depois de muitos anos nos quais se era católico ou protestante, agora, dos quase 84 milhões de habitantes, metade não tem fé, não tem religião e também não tem uma ideia sobre quem seja Deus – relatou -, enquanto a outra metade está quase igualmente dividida entre católicos e protestantes, com a presença de mais de quatro milhões de muçulmanos». Ainda que novas pequenas comunidades estejam a trabalhar, emerge a necessidade de «evangelizar de novo» e, ao mesmo tempo, «dar uma nova resposta sobre o papel das mulheres na Igreja».

Neste estado de pós-secularização, no qual a Igreja vive «em tensão entre a estrutura, por um lado, e uma nova espiritualidade, por outro», a sinodalidade é «um rasto que já estamos a viver há anos», continuou o prelado, acrescentando que já após o escândalo dos abusos na Alemanha foi elaborada uma abordagem sinodal.

O sacerdote Clarence Sandanaraj Davedassan, diretor do Catholic Research Centre de Kuala Lumpur, Malásia, falou da experiência de viver a sinodalidade ad intra na Igreja e ad extra com os outros. «Para além das Filipinas e de Timor-Leste — explicou — a Ásia é um País onde os católicos são uma minoria. É verdade, a fé está muito viva, mas isto não significa que a secularização e outros problemas não estejam presentes». Se, continuou, «o espaço público para a expressão da fé parece tornar-se cada vez mais pequeno em muitos lugares, também por causa do extremismo político e religioso, em tal contexto é preciso procurar a harmonia iniciando um diálogo». Onde este último «não é uma opção», mas sim «uma questão de sobrevivência. Não é uma novidade, mas uma necessidade e faz parte da experiência que vivemos diariamente no interior de uma cultura pluralista», observou. A sinodalidade coloca-se «na base de tudo isto», sendo vivida em todo o lado, a começar pela família, e continua a dar frutos. Por conseguinte, o desafio na Ásia está relacionado com o modo de fazer teologia «do ponto de vista de viver com os outros» e diz respeito à evangelização «onde não se pode exprimir a fé de forma pública».

Por fim, uma referência ao fenómeno das migrações, que levou muitos asiáticos a viver noutras partes do mundo: «São os novos missionários, porque quando emigram não procuram apenas um rendimento, mas levam consigo a sua fé, e sei — concluiu o sacerdote — que em muitos lugares do mundo animam as Igrejas, contribuindo para manter viva a fé».

Como de costume, foi depois reservado um espaço para as perguntas dos jornalistas presentes na sala. D. Overbeck reiterou a importância da compreensão do papel das mulheres na Igreja, em relação ao «problema da falta de sacerdotes e de quem se ocupará do trabalho pastoral». Outro tema, o da aproximação dos jovens às celebrações, pode, na opinião do bispo alemão, inspirar-se na música e na arte, e na sua possível contribuição para a liturgia. Sempre/ainda sobre o papel das mulheres na Igreja e sobre uma possível abertura ao diaconado, o cardeal Ambongo Besungu afirmou como as comunidades eclesiais africanas não se opõem a essa possibilidade. No entanto, segundo o purpurado, é necessário explicitar de maneira mais clara a figura do diácono: «no início era um serviço à comunidade», não tendo «nada a ver com o sacerdócio. Não era a sua primeira etapa, por isso estava também aberto às mulheres». Com o tempo, porém, esta conceção mudou, e o diaconato hoje «é considerado como a primeira etapa do sacerdócio».

Interrogado sobre o avanço dos temas que relacionados com a comunidade Lgbtqia+, D. Overbeck referiu os «muitos esclarecimentos em curso» implementados num contexto de vasta diversidade cultural. Outra pergunta foi relativa ao pensamento do teólogo Timothy Radcliffe, publicado em «The Tablet» em abril, traduzido em italiano no número de julho da revista «Vita e pensiero» no qual era citada uma «forte pressão dos evangélicos, com dinheiro americano; dos ortodoxos russos, com dinheiro russo; e dos muçulmanos, com dinheiro dos países ricos do Golfo» a que estariam sujeitos os «bispos africanos». «Não reconheço minimamente o padre Radcliffe no que foi escrito», afirmou o cardeal Ambongo Besungu, referindo-se a um encontro em que o teólogo se disse “perturbado” com a publicação de «coisas deste tipo atribuídas a ele. O sacerdote Radcliffe nunca disse isto», reiterou o cardeal africano.

A questão do papel das mulheres na Igreja foi objeto de duas outras perguntas. D. Overbeck evidenciou como, na sua diocese, devido à presença de sacerdotes que, provenientes de outros países, não sabem falar alemão, as mulheres estão encarregadas de «fazer os sermões» bem como de dirigir, às vezes, os «serviços religiosos com as crianças». D. Fuanya expôs, por outro lado, os casos de algumas comunidades eclesiais nos Camarões, onde as «missões, que depois constituem as paróquias», não têm um sacerdote à disposição todos os domingos, devido às longas distâncias a percorrer. Nestes locais, «a catequese está nas mãos da própria comunidade», tal como a preparação para os sacramentos, delegada aos catequistas. A sua administração permanece, no entanto, da competência exclusiva dos sacerdotes, reiterou o arcebispo de Bamenda. Por fim, em relação à abertura demonstrada pelo Papa Francisco, durante a sua viagem apostólica na Bélgica, relativamente à possível beatificação do rei Balduíno, foi pedida a opinião do cardeal Ambongo Besungu, citando as acusações segundo as quais o soberano belga teria tido responsabilidade no assassinato do primeiro-ministro congolês Lumumba, a 17 de janeiro de 1961. «Permanecemos abertos» é a posição expressa pelo purpurado «para nós, foi um homem político que foi religioso» e que teve «muita coragem. Se o dossier funciona e se o quiserem apresentar para canonização, estamos de acordo». No entanto, «não conhecemos todos os aspetos da sua vida», acrescentou o cardeal africano, falando de uma «mancha negra».

Lorena Leonardi
e Edoardo Giribaldi