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Propostas Concretas

 Propostas Concretas  POR-042
17 outubro 2024

Muitas propostas concretas, baseadas nas diversas experiências e partilhadas com total transparência, contra qualquer tipo de abuso e para uma maior responsabilidade do laicado, mulheres e jovens em particular. São as linhas essenciais que estão a emergir nos trabalhos sinodais e que foram dadas a conhecer, na manhã de 15 de outubro, no briefing para os jornalistas na Sala de imprensa da Santa Sé.

Sheila Pires, secretária do Comissariado para a informação, começou por fazer um balanço «dos trabalhos — nona congregação geral, realizada na presença do Papa Francisco — e também da manhã de sábado e da tarde de sexta-feira», dedicados à secção “percursos” do Instrumentum laboris, relativa aos temas: «processos de decisão», «transparência, prestar contas, avaliação».

Em particular, «foi muito importante ouvir — relatou Sheila Pires — , sobre estas questões, as experiências da China, da península arábica, da Amazónia, das ilhas Seychelles e do Sahel». E estas experiências evidenciaram precisamente «problemas como, por exemplo, a dificuldade em encontrar uma harmonia entre as tradições cristãs e os ritos locais ou com as normas civis locais sobre o matrimónio». Isto acontece também porque, foi dito na Assembleia, «a Igreja negligenciou no passado as diversidades e a complementaridade entre as culturas». Ao mesmo tempo, «foram dadas ideias e sugestões com base em realidades já existentes, como por exemplo a Conferência eclesial da Amazónia, que, internamente, dá voz a realidades diferentes, ou as experiências da Igreja africana, que mostra grande vitalidade».

Em várias intervenções, observou Sheila Pires, «falou-se muito da importância de envolver as crianças na vida da Igreja, para não falar só de crianças, mas com as crianças». Outros pontos indicados foram a valorização dos catequistas, a importância «de ouvir os jovens porque, por vezes, os temas e tópicos são decididos quando eles estão, pelo contrário, interessados noutra coisa». Além disso, «falou-se também de incluir as escolas católicas no processo de evangelização e formação, uma vez que representam um recurso importante para a Igreja. No entanto, nalgumas partes do mundo — foi sublinhado — o Estado apoderou-se destas escolas e são impostas agendas contrárias ao ensinamento da Igreja».

«Foi muito aplaudida uma intervenção sobre a violência sofrida pelas mulheres religiosas, inclusive na formação: não só abusos sexuais mas também de poder, de consciência e espiritualidade», observou Sheila Pires. «Foi dito que há religiosas que trabalham arduamente, sobretudo para chegar aos mais vulneráveis, mas essas mesmas mulheres, quando se confrontam com questões ligadas ao abuso sexual ou de outro género, não conseguem exprimir a própria preocupação» e «devido a uma atitude patriarcal da sociedade, permanecem em silêncio». A este respeito, foi proposto «introduzir procedimentos e sistemas nas dioceses e nas Conferências episcopais para afrontar estas problemáticas». E «uma outra proposta é a de rever as políticas contratuais, para garantir dignidade às mulheres consagradas, mas também, em geral, aos leigos».

Ainda sobre as mulheres, nas intervenções, concluiu Sheila Pires, «constatou-se que na maioria dos seminários falta uma presença feminina de consagradas ou leigas na formação dos sacerdotes, assim como falta a presença de leigos peritos. A participação das mulheres, pelo contrário — foi sublinhado — é “fundamental”, porque elas podem ver coisas que os outros não vêm, garantem uma formação equilibrada, enriquecem o programa geral para os futuros sacerdotes».

Na sua intervenção no briefing, Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a comunicação e presidente da Comissão para a informação, retomou «o tema de uma maior presença dos leigos e das mulheres: nestas últimas três congregações gerais foi dado um amplo espaço ao tema dos processos de decisão, os chamados processos de decision making e decision taking». A este respeito, disse, «foi repetidamente reiterada a necessidade de instituir conselhos de leigos, com autoridade e experiência, para evitar uma sobrecarga de funções para quem detém papéis de responsabilidade». E foi também «evidenciada a importância de instituir conselhos ou, em todo o caso, organismos que possam auxiliar os bispos ou aqueles que têm encargos».

«Deste ponto de vista, foi dito em algumas intervenções — relatou Paolo Ruffini — que muitas das decisões erradas no passado sobre casos de abusos de crianças na Igreja foram tomadas por bispos provavelmente isolados ou sob pressão. Portanto, foi proposta a introdução de comissões consultivas nas dioceses, das quais o bispo pode dispor, não só para reforçar a tutela e a prevenção, mas também nos casos em que é preciso reintegrar ou recuperar a credibilidade de sacerdotes acusados, mas depois julgados inocentes». De facto, foi dito na Assembleia, «há muita resistência quando a pessoa é considerada inocente». Mas «com o auxílio de um conselho composto por psicólogos, pais de crianças abusadas, agentes sociais, assistentes, seria mais fácil restituir a credibilidade e a justiça a um sacerdote inocente».

«Na mesma linha — prosseguiu o prefeito — foi reiterado que a transparência é um elemento fundamental na Igreja sinodal, sobretudo nos âmbitos da tutela e das finanças. Esta transparência, foi sublinhado noutras intervenções, deve equilibrar-se sempre com a confidencialidade, o respeito pela privacidade e pelas informações sensíveis».

Paolo Ruffini referiu que durante os trabalhos também si falou do tema da responsabilidade, detendo-se «no significado de prestar contas: todos concordamos, foi dito, com a necessidade de prestar contas, porém questionamo-nos a quem devemos prestar contas, ao mundo, à opinião pública, aos jornalistas?» Por vezes, de facto, «as nossas agendas pastorais e os critérios de ser Igreja são ditados por instâncias que não são exatamente as do Evangelho». Por isso, «a prioridade é, antes de mais, prestar contas a Deus, à comunidade, para não cair na armadilha de prestar contas, precisamente, a instâncias que não são evangélicas». E, acrescentou Paolo Ruffini, é necessário «prestar contas à Igreja, e não a um qualquer contexto humano, segundo os princípios do Evangelho. Não somos um conselho de administração, mas o corpo místico de Cristo, o povo santo de Deus». E depois, prosseguiu, «prestar contas aos mais pobres, membros frágeis de Cristo, que nos julgam com base no modo em que vivemos». Além disso, foi sugerido valorizar «as realidades sinodais já existentes em dioceses, paróquias, Conferências episcopais» e «foi dito também de aprender com as novas Igrejas, como as de África, e não lhes impor a realidade das Igrejas no Ocidente» que estão muitas vezes in articulo mortis. E depois «foi feita a proposta de tornar obrigatórios os Sínodos diocesanos».

O prefeito relatou que também se fez referência «ao exemplo da vida consagrada, que há anos experimenta formas de sinodalidade: sobre este ponto, foi citado o discernimento dos monges mártires de Tibhirine, que decidiram permanecer na Argélia num contexto de sofrimento, de violências e oferecer a sua vida não só e não tanto para obedecer ao superior, mas depois de cada um ter realizado um caminho interior de maneira sinodal».

Além disso, sobre o tema de uma possível atualização do Direito canónico, foi dito que o Código não é um «triste instrumento constritivo», mas «expressão da fé católica». «O respeito pela lei da Igreja é o melhor modo de combater o clericalismo — foi afirmado — e o direito é um escudo que protege os mais débeis».

«Interessante também», disse Paolo Ruffini, «foi a intervenção sobre a experiência pastoral de uma Igreja africana que, desde há alguns anos, começou a organizar assembleias dominicais sem sacerdotes, ausentes devido à vastidão das paróquias ou à distância entre uma aldeia e outra. Trata-se de assembleias em que os fiéis se reúnem sob a responsabilidade de catequistas ou de leigos influentes para ouvir a palavra de Deus e receber a comunhão».

Mais uma vez, regressou o apelo a evitar todas as formas de clericalismo, concluiu. «O antídoto — foi dito em algumas intervenções — é a proximidade entre os bispos, com os sacerdotes, com Deus, com o povo. Relações dinâmicas e nunca estáticas, que preveem a participação direta nos processos de decisão. Sobre este ponto, em particular, disse-se que mesmo a palavra “consultivo” na Igreja significa a obrigação de ouvir e ter em conta». Além disso, «em várias intervenções foi também sublinhado que é necessário, quando se toma uma decisão, explicar as motivações pelas quais os responsáveis decidiram atuar de maneira contrária à opinião comum, sublinhando pontos de força e de fraqueza nos processos de decisão». E precisamente «sobre este último ponto em particular, numa intervenção, foi recordada a fórmula de são Cipriano: “Nada sem a responsabilidade pessoal do Bispo, nada sem o conselho dos presbíteros, nada sem o consentimento do povo de Deus”».