
«Serei a advogada dos pobres», respondeu àqueles que — mesmo no interior da sua congregação — lhe perguntavam porque é que ela, uma religiosa scalabriniana, estava a fazer um mestrado em Direito. Foi exatamente esta formação jurídica que permitiu à irmã Rosita Milesi, a partir dos anos 80, de assistir milhares de migrantes no Brasil, ajudando-os a ter acesso à documentação legal, abrigo, alimentação, cuidados de saúde, formação linguística, mercado de trabalho. E o seu papel como advogada (formada pela Pontifícia universidade católica do Rio Grande do Sul) teve um impacto determinante para dar forma à lei brasileira de 1997 (e mais tarde de 2017) sobre os refugiados, ampliando os direitos de acordo com a Declaração de Cartagena de 1984.
Agora que, aos 79 anos, o acnur (Alto comissariado das Nações Unidas para os refugiados) a galardoou com o Prémio Nansen (que, desde 1954, distingue indivíduos e organizações que tenham realizado ações extraordinárias para proteger refugiados, deslocados internos e apátridas), a irmã Rosita, agradecendo, não pode deixar de confirmar que esta é a sua missão de vida: «Não tenho medo de agir, mesmo que não realizemos tudo o que queremos. E se assumo uma responsabilidade, virarei o mundo de pernas para o ar para a realizar».
Pais de origem italiana (agricultores que terminavam cada dia de trabalho a rezar com os seus onze filhos), religiosa aos 19 anos, é impossível elencar as funções passadas e presentes de Rosita Milesi: fundadora, em Brasília, do Centro scalabriniano de estudos migratórios; diretora, em Boa Vista, do Instituto para as migrações e os direitos humanos (dedicado especialmente aos refugiados venezuelanos); membro da Comissão nacional para os refugiados, ligada ao ministério da Justiça. O reconhecimento do acnur chega aos 80 anos, mas a irmã Rosita não o considera certamente um prémio de carreira: já trabalha para aumentar o acesso à educação das crianças refugiadas e certificar os seus diplomas. «Ter uma utopia, um sonho, ter a convicção de construir algo melhor, é fundamental», confessa.
Com ela, serão premiadas outras quatro mulheres, vencedoras regionais do “Nansen”: Maimouna Ba, por África, uma ativista do Burkina Faso que ajudou uma centena de crianças deslocadas a regressar à escola e colocou quatrocentas mulheres no caminho da independência financeira; Jin Davod, pela Europa, uma empresária social que se baseou na sua experiência pessoal como refugiada síria para criar uma plataforma online pondo em contacto sobreviventes de traumas a terapeutas que prestam apoio gratuito para a saúde mental; Nada Fadol, pelo Médio Oriente e o Norte de África, uma refugiada sudanesa que mobilizou ajuda essencial para centenas de famílias em fuga para o Egito; Deepti Gurung, pela Ásia-Pacífico, que conduziu uma campanha para reformar as leis da cidadania no Nepal, uma vez que as suas duas filhas eram apátridas, abrindo assim caminho à cidadania para elas e para milhares de outras pessoas em situações semelhantes.
Giovanni Zavatta