
Proximidade, escuta, vergonha: foram estes os sentimentos expressos, a 27 de setembro, pelo Papa Francisco durante o encontro com algumas vítimas de abusos, realizado na representação pontifícia de Bruxelas. A notícia foi dada pela sala de imprensa da Santa Sé.
«De regresso à nunciatura — lê-se numa nota divulgada na sexta-feira — o Papa Francisco encontrou-se com 17 pessoas, vítimas de abusos por parte de membros do clero na Bélgica. Durante o encontro — prossegue — que durou mais de duas horas, os participantes puderam levar ao Papa a própria história e a dor e exprimir as suas expetativas relativamente ao empenho da Igreja contra os abusos».
A nota continua, informando que o Pontífice «pôde ouvir e aproximar-se do seu sofrimento, exprimiu gratidão pela sua coragem e o sentimento de vergonha pelo que sofreram aquando crianças por causa dos sacerdotes a quem tinham sido confiadas, tomando nota dos pedidos que lhe foram dirigidos para que os pudesse estudar». O encontro terminou pouco antes das 21 horas.
O tema dos abusos — importante nesta 46ª viagem apostólica internacional — já tinha sido abordado pelo Pontífice na manhã de sexta-feira, durante o encontro com as autoridades e a sociedade civil da Bélgica, realizado no castelo de Laeken. Nessa ocasião, Francisco tinha denunciado com firmeza o crime e o flagelo dos abusos, repetindo várias vezes a palavra «vergonha» e reiterando a necessidade para a Igreja de «pedir perdão».
Da mesma forma, o bispo de Roma disse que se sente «entristecido» com o fenómeno das «adoções forçadas», que ocorreram na Bélgica entre os anos 50 e 70 de 1900. «Histórias espinhosas» — assim as definiu — de mães solteiras a quem eram retirados os filhos para os dar em adoção, com o objetivo de apagar «o estigma negativo» que afetava as mulheres não casadas naquela época. Tal fenómeno, disse o Papa, misturava em si «o fruto amargo de uma transgressão e de um crime com o que era infelizmente o resultado de uma mentalidade difundida em todos os estratos da sociedade». Daqui a advertência para que a Igreja «encontre sempre a força para fazer luz».