· Cidade do Vaticano ·

Os sete pedidos de «perdão a quem foi ferido pelos nossos pecados»

 Os sete pedidos de «perdão  a quem foi ferido pelos nossos pecados»  POR-040
03 outubro 2024

Publicamos o texto dos pedidos de perdão escritos pessoalmente pelo Papa Francisco e lidos por sete cardeais durante a vigília penitencial de 1 de outubro, presidida pelo próprio Pontífice na basílica do Vaticano.

Cardeal Oswald Gracias
arcebispo de Bombaim (Índia)

Peço perdão a Deus Pai, sentindo-me envergonhado pelo pecado da falta de coragem, da coragem necessária na busca da paz entre os povos e as nações, no reconhecimento da dignidade infinita de cada vida humana em todas as suas fases, desde a conceção até à velhice, especialmente das crianças, dos doentes, dos pobres, do direito a ter um trabalho, uma terra, uma casa, uma família, uma comunidade onde se possa viver livremente, do valor que é a paisagem e a cultura de cada região do planeta. Para construir a paz é preciso coragem: dizer sim ao encontro, não ao confronto; sim ao respeito dos pactos, não à provocação; sim à sinceridade, não à duplicidade. Em nome de todos os fiéis, peço perdão àqueles que nascem hoje e que nascerão depois de nós, às gerações do futuro que nos emprestam este mundo e que têm o direito de o habitar, um dia, na concórdia e na paz. Mais grave ainda é o nosso pecado, se invocarmos o nome de Deus para justificar a guerra e a discriminação. Perdoai-nos, Senhor!

Cardeal Michael Czerny, s.j.
prefeito do Dicastério
para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral

Peço perdão, sentindo-me envergonhado pelo que nós, crentes, também fizemos para transformar a criação de jardim em deserto, manipulando-a a nosso gosto; e pelo que não fizemos para o evitar. Peço perdão, sentindo-me envergonhado, por não termos reconhecido o direito e a dignidade de cada pessoa humana, discriminando-a e explorando-a — penso especialmente nos povos indígenas — e por termos sido cúmplices de sistemas que favoreceram a escravatura e o colonialismo. Peço perdão, sentindo-me envergonhado, por termos assumido e participado na globalização da indiferença perante as tragédias que transformam as rotas marítimas e as fronteiras entre as nações de um caminho de esperança num caminho de morte para tantos migrantes. O valor da pessoa é sempre maior do que o da fronteira. Ouço neste momento a voz de Deus que nos pergunta a todos: «Onde está o teu irmão, onde está a tua irmã?». Perdoai-nos, Senhor!

Cardeal Seán Patrick O’Malley, o.f.m. c ap.
arcebispo metropolitano
emérito de Boston
(Estados Unidos da América)

Peço perdão, sentindo-me envergonhado, por todas as vezes que nós, fiéis, fomos cúmplices ou cometemos diretamente abusos de consciência, abusos de poder e abusos sexuais. Como me envergonho e me entristeço ao pensar especialmente no abuso sexual de menores e pessoas vulneráveis, que roubaram a inocência e profanaram a sacralidade dos frágeis e indefesos. Peço perdão, sentindo-me envergonhado, por todas as vezes que usamos o estatuto do ministério ordenado e da vida consagrada para cometer este terrível pecado, sentindo-nos seguros e protegidos enquanto nos aproveitávamos diabolicamente dos mais pequeninos e dos pobres. Perdoai-nos, Senhor.

Cardeal Kevin Joseph Farrell
prefeito do Dicastério
para os Leigos, a Família e a Vida

Peço perdão em nome de todos na Igreja, especialmente de nós homens, sentindo-me envergonhado por todas as vezes que não reconhecemos e defendemos a dignidade das mulheres, por quando as tornamos mudas e submissas, e não poucas vezes exploradas, especialmente na condição de vida consagrada. Peço perdão, envergonhado, por todas as vezes que julgamos e condenamos antes de cuidar das fragilidades e das feridas da família. Peço perdão, sentindo-me envergonhado, por todas as vezes que roubamos a esperança e o amor às novas gerações, quando não compreendemos a delicadeza das fases de crescimento, das dificuldades na formação da identidade, e não estamos dispostos a sacrificar-nos pelo seu direito de exprimir os seus talentos e o seu profissionalismo, encontrando um trabalho decente e recebendo um salário justo. Peço perdão, sentindo-me envergonhado por todas as vezes que preferimos vingar-nos em vez de nos empenharmos na busca da justiça, abandonando aqueles que erram na prisão e recorrendo à pena de morte. Perdoai-nos, Senhor!

Cardeal Víctor Manuel Fernández
prefeito do Dicastério
para a Doutrina da Fé

Peço perdão, sentindo-me envergonhado por todas as vezes que na Igreja, particularmente nós pastores a quem foi confiada a tarefa de confirmar os nossos irmãos e irmãs na fé, não soubemos salvaguardar e propor o Evangelho como fonte viva de eterna novidade, “doutrinando-o” e correndo o risco de o reduzir a um monte de pedras mortas a atirar aos outros. Peço perdão, envergonhado, por todas as vezes que demos justificação doutrinal a tratamentos desumanos. Peço perdão, sentindo-me envergonhado por não termos sido testemunhas credíveis de que a verdade liberta, por termos obstruído as várias inculturações legítimas da verdade de Jesus Cristo, que percorre sempre os caminhos da história e da vida para ser encontrado por aqueles que o querem seguir com fidelidade e alegria. Peço perdão, sentindo-me envergonhado pelas ações e omissões que impediram e continuam a dificultar a recomposição na unidade da fé cristã, e a autêntica fraternidade de todo o género humano. Perdoai-nos, Senhor!

Cardeal Cristóbal López Romero, s.d.b.
arcebispo de Rabat (Marrocos)

Peço perdão em nome de todos na Igreja, sentindo-me envergonhado por termos desviado a cabeça do sacramento dos pobres, preferindo adornar-nos a nós mesmos e ao altar com condenáveis preciosidades que tiram o pão aos famintos. Peço perdão, envergonhado, pela inércia que nos impede de aceitar o chamamento a sermos Igreja pobre dos pobres e que nos faz ceder à sedução do poder e à lisonja dos primeiros lugares e dos títulos vangloriosos. Peço perdão, envergonhado, por quando cedemos à tentação de nos escondermos no centro, protegidos nos nossos espaços eclesiais doentes de autorreferencialidade, resistindo a sair, negligenciando a missão nas periferias geográficas e existenciais. Perdoai-nos Senhor!

Cardeal Christoph Schönborn, o.p.
arcebispo de Viena (Áustria)

Peço perdão, envergonhado pelos obstáculos que colocamos à construção de uma Igreja verdadeiramente sinodal, sinfónica, consciente de ser o povo santo de Deus que caminha junto, reconhecendo a sua comum dignidade batismal. Peço perdão, sentindo-me envergonhado por todas as vezes que não escutamos o Espírito Santo, preferindo escutar-nos a nós próprios, defendendo opiniões e ideologias que ferem a comunhão em Cristo de todos, esperados no fim dos tempos pelo Pai. Peço perdão, sentindo-me envergonhado por quando transformamos a autoridade em poder, sufocando a pluralidade, não escutando as pessoas, dificultando a participação de tantos irmãos e irmãs na missão da Igreja, esquecendo que todos somos chamados na história, pela fé em Cristo, a tornar-nos pedras vivas do único templo do Espírito Santo. Perdoai-nos, Senhor!