Depois do discurso da manhã (quinta-feira, 26 de setembro), às autoridades de Luxemburgo, o Papa Francisco encontrou-se à tarde com a comunidade católica que encheu a Catedral de Notre-Dame. Foi um discurso denso, rico de ideias, centrado no tema do serviço, da missão e da alegria. Por vezes acontece que, para além do discurso, as palavras “improvisadas” captem a essência da mensagem que o Papa quer transmitir. E assim também neste caso: ainda antes de começar a ler o discurso preparado, Francisco quis citar o Antigo Testamento e aquilo que ele definiu “um refrão” que no texto bíblico «se repete vezes sem conta: a viúva, o órfão e o estrangeiro» e acrescentou: «Tende compaixão dos abandonados — diz o Senhor, já no Antigo Testamento. Naquele tempo, as viúvas eram abandonadas, os órfãos também, e o mesmo acontecia em relação aos estrangeiros, os migrantes. Os migrantes integram a revelação», e agradeceu ao povo luxemburguês por aquilo que faz pelos migrantes. O serviço, disse, tem uma dimensão fundamental, que é a do acolhimento.
Mas tudo isto deve ser vivido com alegria. E aqui, no final do discurso, houve uma outra “improvisação” também esta referente ao Antigo Testamento, porque o Papa, falando da alegria, recordou que «o rei David dançava diante do Senhor e isso é uma expressão de fidelidade.». A alegria associada à dança. De facto, explicou, «a nossa fé é assim: é alegre, “dançante”, porque diz que somos filhos de um Deus amigo do homem, que nos quer felizes e unidos, e que se alegra sobretudo com a nossa salvação. A propósito, aqueles cristãos tristes, aborrecidos e amuados prejudicam a Igreja. Não, esses não são cristãos. Por favor, conservai a alegria do Evangelho: isso faz-nos acreditar e crescer tanto».
O cristão como homem da alegria. E a alegria não é apenas um “estado de espírito”, mas é uma força, que move, agita, se difunde como um poderoso contágio. É esta a “dança” a que se refere o Papa, que quis recordar uma bela festa tradicional luxemburguesa de Pentecostes na cidade de Echternach, sob o nome de procissão de primavera, Springprozession, que «se realiza em memória do incansável trabalho missionário de São Willibrord, o evangelizador destas terras. Toda a cidade se junta nas ruas e praças para dançar, juntamente com os muitos peregrinos e visitantes que ali acorrem, e a procissão transforma-se numa grande e única dança. (...) Grandes e pequenos, todos dançam em conjunto rumo à Catedral (este ano até debaixo de chuva, segundo ouvi dizer), testemunhando com entusiasmo, em memória do santo Pastor, como é bom caminhar juntos e descobrir-nos todos irmãos à volta da mesa do nosso Senhor». E aqui a recordação do rei David, que canta os Salmos, tocando e dançando diante da Arca da Aliança, encaixa-se perfeitamente.
Há poucos dias, na precedente viagem apostólica do outro lado do mundo, em Díli, Timor-Leste, o Papa tinha falado, improvisando, dos jovens e da dança, dizendo que «a vida vem com a dança». A dança como força primordial. Dizem os estudiosos que a dança é a primeira forma artística em que o ser humano se exprimiu, porque é a mais essencial, a mais pobre: para dançar, basta ouvir o bater do próprio coração e seguir o ritmo com os movimentos do próprio corpo. Dança e vida vêm juntas. No coração do Velho Continente, o Papa Francisco veio trazer o contágio da alegria dançante, convidando todos, todos, a participar na grande dança da vida do mundo.
Andrea Monda