
Alguns chamam-lhe a “maldição dos recursos”, indicando a correlação, amplificada em contextos de fragilidade social e institucional, entre a presença de riqueza natural e a instabilidade. É o caso da província moçambicana de Cabo Delgado, onde um grupo fundamentalista islâmico tem estado ativo desde 2017. As principais atividades mineiras estão concentradas nos distritos de Mocímboa da Praia e Palma. E é precisamente perto deste último que está em construção o colossal terminal do projeto “Mozambique Lng”, que mostramos nesta imagem elaborada pela PlaceMarks para «L’Osservatore Romano». Fortemente desejado pela empresa francesa Total Energies, será utilizado para transformar em gnl (gás natural liquefeito) parte dos enormes recursos da bacia do Rovuma, ao largo da costa de Moçambique, com reservas estimadas em mais de 2 biliões de metros cúbicos de gás. No entanto, o projeto francês está atualmente parado devido à instabilidade e aos conflitos que se verificam na região. Apesar disso, o impacto da infraestrutura — que já ocupa uma área de mais de 500 hectares — no meio ambiente é evidente: são os próprios promotores que indicam, em documentos oficiais, como será o seu compromisso de “minimizar” ou “compensar” os impactos ambientais causados pelo projeto. No entanto, não é só a Total que avança na região, tendo vários projetos em programa. Atualmente, a única empresa que conseguiu iniciar a exploração é a italiana Eni, através da sua plataforma flutuante de liquefação Coral Sul flng, localizada ao largo da costa de Palma e que exporta gnl desde novembro de 2022.
Michele Luppi e Federico Monica
Projeto PlaceMarks — Dados do mapa: Google/Airbusa