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Exilado em 1961, raptado em 1982, tornou-se dominicano aos 90 anos

Faleceu o cardeal angolano Alexandre do Nascimento

 Faleceu o cardeal angolano  Alexandre do Nascimento  POR-040
03 outubro 2024

O cardeal Alexandre do Nascimento, arcebispo metropolitano emérito de Luanda, Angola, faleceu a 28 de setembro. Primeiro angolano a receber a púrpura, tinha 99 anos: desde 8 de agosto de 2022 era o membro mais idoso do Colégio cardinalício. Nasceu a 1 de março de 1925 em Malanje, parte setentrional da África ocidental portuguesa, hoje República de Angola, foi ordenado sacerdote a 20 de dezembro de 1952. Nomeado por Paulo vi bispo de Malanje em 10 de agosto de 1975, recebeu a ordenação episcopal a 31 de agosto. A 3 de fevereiro de 1977, o Papa Montini promoveu-o a primeiro arcebispo metropolitano do Lubango. João Paulo ii criou-o e publicou-o cardeal, com o título de São Marcos “in Agro Laurentino”, no consistório de 2 de fevereiro de 1983. No mesmo ano, tornou-se presidente da Caritas internationalis, cargo que ocupou até 1991. A 16 de fevereiro de 1986, o Papa Wojtyła transferiu-o para a sé metropolitana de Luanda. De 1990 a 1997 foi presidente da Conferência episcopal de Angola e São Tomé. Em 23 de janeiro de 2001 renunciou ao governo pastoral da arquidiocese de Luanda. A 5 de junho de 2015, com 90 anos de idade, foi recebido na Ordem dos dominicanos. O funeral será celebrado a 8 de outubro, na paróquia da Sagrada Família, em Luanda.

Com a sua própria vida, o cardeal Alexandre do Nascimento conta a história do seu povo em Angola, com quem partilhou esperanças e momentos particularmente difíceis com a guerra civil, incluindo dez anos de exílio.

Foi um ponto de referência e apoio moral nas questões centrais não só da missão da Igreja católica, mas também da vida do país, com o seu compromisso a favor dos mais frágeis, da dignidade da pessoa, da reconciliação e da paz.

Este serviço que teve também um aspeto violento: a 15 de outubro de 1982, durante uma visita pastoral à missão de Mongua, foi raptado por um grupo de militares, com cinco religiosas da congregação das Irmãs do Santíssimo Salvador e alguns catequistas. João Paulo ii pediu a sua libertação durante o Angelus dominical de 31 de outubro. Foram libertados a 16 de novembro.

Aos 12 anos, em 1937, entrou no seminário de Bangalas; depois frequentou o seminário da sua terra natal e o seminário maior de Luanda. Em 1948, com 23 anos, foi enviado para estudar em Roma: na Pontifícia Universidade Gregoriana obteve o bacharelato em Filosofia e a licenciatura em Teologia.

Foi ordenado sacerdote a 20 de dezembro de 1952, em Roma. Incardinado na diocese de Malanje, regressou a Angola em 1953. Foi professor de Teologia dogmática no seminário maior de Luanda e redator-chefe do jornal católico O apostolado.

De 1956 a 1961 foi pregador na catedral de Nossa Senhora dos Remédios, em Luanda, e também diretor-adjunto da Rádio católica, assistente de grupos familiares e assistente espiritual dos trabalhadores portuários.

Em 1961, com numerosos sacerdotes, foi obrigado a exilar-se em Portugal. Permaneceu em Lisboa por dez anos, continuando o seu ministério pastoral em várias paróquias, também como conselheiro do Movimento das Équipes de Notre-Dame. Além disso, estudou Direito civil na Universidade da capital portuguesa.

Voltou para a pátria e, de 1971 a 1975, na então diocese do Lubango (hoje arquidiocese), foi professor de Moral e Teologia, conselheiro do Instituto Pio xii de Ciências sociais e membro da cúria diocesana.

Foi ainda secretário-geral da Cáritas Angola, presidente do Tribunal eclesiástico de Luanda, membro do conselho presbiteral e da comissão diocesana para o Ano santo de 1975, bem como assistente especial para estudantes e ex-presos políticos.

O ano de 1975 foi crucial para ele: Angola tinha conquistado a independência e, a 10 de agosto, Paulo vi nomeou-o bispo de Malanje. Recebeu a ordenação episcopal em 31 de agosto, na catedral de Nossa Senhora dos Remédios, em Luanda. O rito foi presidido pelo arcebispo Giovanni De Andrea, delegado apostólico em Angola. Co-consagrantes foram D. Manuel Nunes Gabriel, arcebispo metropolitano de Luanda e D. Eduardo Andé Muaca, seu predecessor em Malanje. Escolheu o seguinte lema episcopal: Turres fortissima nomen Domini.

Ainda em 1975, foi eleito vice-presidente da Conferência episcopal de Angola e São Tomé, cargo que desempenhou até 1981.

A 3 de fevereiro de 1977, o Papa Montini promoveu-o a primeiro arcebispo metropolitano do Lubango. Ao mesmo tempo, foi nomeado administrador apostólico ad nutum Sanctae Sedis de Pereira de Eça, diocese que passou a chamar-se Ondjiva a 16 de maio de 1979.

Recebeu o pálio a 27 de junho de 1977.

A 5 de janeiro de 1983, no final da audiência geral, João Paulo ii anunciou a sua criação como cardeal no consistório de 2 de fevereiro seguinte, atribuindo-lhe o título de São Marcos “in Agro Laurentino”, vacante desde 23 de março de 1977, dia do assassinato do cardeal congolês Emile Biayenda, arcebispo metropolitano de Brazzaville.

Em 1983 foi nomeado presidente da Caritas internationalis, cargo que ocupou até 1991, trabalhando incansavelmente a favor dos mais pobres e necessitados do mundo.

Durante a Quaresma de 1984, pregou os exercícios espirituais para o Papa e a Cúria romana, com uma reflexão sobre o desejo de ver o rosto divino.

A 16 de fevereiro de 1986, o mesmo Pontífice transferiu o cardeal para a sé metropolitana de Luanda. No dia 29 de junho, o cardeal Alexandre do Nascimento voltou a receber o pálio. Em 1990 foi eleito presidente da Conferência episcopal de Angola e São Tomé, cargo que exerceu até 1997.

Recebeu João Paulo ii em viagem apostólica a Angola e São Tomé e Príncipe (4-10 de junho de 1992), por ocasião da conclusão, na solenidade de Pentecostes, das celebrações (iniciadas no ano precedente) por ocasião dos 500 anos de evangelização.

Como membro do Sínodo dos bispos, em 1990 participou na 8ª Assembleia geral ordinária sobre a formação dos sacerdotes e, em 1994 e 2009, nas duas Assembleias especiais para a África.

A 23 de janeiro de 2001 renunciou ao governo pastoral da arquidiocese de Luanda.

Em 2005, ao completar 80 anos, por poucos dias não pôde participar no conclave que depois elegeu Bento xvi . De 20 a 23 de março de 2009 recebeu o Papa Ratzinger na sua viagem apostólica a Angola.

A 19 de julho de 2010, em Luanda, foi condecorado pelo presidente da República portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo pelo seu compromisso em prol da paz e da reconciliação.