Paz, negociações, ação diplomática, compromissos honrosos... O Papa Francisco, de Luxemburgo, um pequeno país na encruzilhada de muitos acontecimentos históricos europeus, lança um apelo à paz na Europa, pedindo-lhe de não repetir os erros do passado. Convidando-a a não ser desmemoriada. E nas palavras do Sucessor de Pedro é marcante a expressão “massacres inúteis”, que recorda a usada por Bento xv para definir a carnificina da primeira guerra mundial.
Dirigindo-se às autoridades luxemburguesas, o Papa constatou «o ressurgimento, mesmo no continente europeu, de ruturas e inimizades que, em vez de serem resolvidas na base da boa vontade mútua, das negociações e do trabalho diplomático, resultam em hostilidades abertas, com as suas consequências de destruição e morte». Como não pensar na Ucrânia agredida pela Rússia, uma guerra que já custou um milhão vítimas entre mortos e feridos e que devastou o país. Uma guerra travada entre cristãos que partilham a mesma fé, o mesmo batismo e a mesma liturgia.
Depois, Francisco observou com amargura que o coração humano parece não ser capaz de «guardar a memória». Sim, é de facto uma Europa desmemoriada aquela que corre o risco de voltar a percorrer os caminhos da guerra. Para evitar os «novos massacres inúteis», acrescentou, são necessários «valores espirituais elevados e profundos. Serão estes valores a impedir o desvario da razão e o regresso irresponsável aos mesmos erros do passado, aliás agravados pelo grande poder técnico de que hoje o homem dispõe ».
Mas o Bispo de Roma falou também da responsabilidade específica dos governantes, de quem detém a autoridade, definindo como «uma necessidade urgente» o empenho «com constância e paciência em negociações honestas tendo em vista a resolução de divergências». Pediu ânimos dispostos «a encontrar compromissos honrosos, que não prejudiquem nada e possam, pelo contrário, construir a segurança e a paz para todos».
Paz, negociações, trabalho diplomático, compromissos honrosos: palavras que parecem ter desaparecido do vocabulário dos líderes, incluindo os europeus, numa altura em que só se fala de armas e de quantos milhares de milhões investir nos instrumentos de morte. Enquanto há governantes que ameaçam utilizar engenhos nucleares, enquanto aumenta o número de civis mortos por bombas pilotadas por drones, enquanto os Estados investem enormes somas em armamentos, subtraindo recursos à luta contra a fome, à saúde, à educação, à proteção do ambiente, são os povos que devem fazer ouvir a sua voz. As palavras pronunciadas por Paulo vi , a 29 de janeiro de 1966, a propósito de uma arbitragem da onu sobre a guerra no Vietname, continuam a ter uma atualidade premente: «É uma responsabilidade grave, gravíssima, recusar a negociação, única via para pôr fim ao conflito, sem deixar a decisão às armas, às armas cada vez mais terríveis. Os povos veem! E Deus deverá julgar-nos!».
Andrea Tornielli