Dos confins do mundo ao coração da Europa. Uma nova viagem internacional, a 46ª do pontificado, depois da grande peregrinação ao Sudeste Asiático e à Oceânia, espera o Papa a partir de hoje: Luxemburgo e Bélgica. Dois países, cruzamentos da história do Velho continente e centros financeiros e administrativos da União Europeia, onde Francisco se deslocará a convite dos Grão-Duques e dos Reis, de 26 a 29 de setembro, para levar uma palavra sobre os temas da paz, das migrações, da emergência climática e do futuro dos jovens. Sem esquecer questões eclesiais da atualidade como o papel do cristianismo nas sociedades à mercê da secularização e da indiferença, o contributo da educação cristã (o sexto centenário da Universidade católica de Lovaina, fundada em 1425, é um dos motivos da viagem) e o flagelo dos abusos, muito sofrido na Bélgica, sobretudo com o caso do bispo emérito de Bruges, Roger Vangheluwe, 87 anos, demitido do estado clerical em março por violência contra menores.
Matteo Bruni, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, ofereceu pormenores e chaves de leitura da nova viagem de Jorge Mario Bergoglio ao estrangeiro. Esta viagem, recordou o porta-voz do Vaticano, segue também a esteira das visitas de João Paulo ii aos dois países em 1985: basta recordar o encontro de Wojtyła com os estudantes da Katholieke Universiteit Leuven e com a comunidade académica da Université Catholique de Louvain. Pelo contrário, os dois encontros também estão no programa de Francisco, que terminará, nomeadamente, com a beatificação, durante a missa no estádio “Rei Balduíno”, da venerável Anna de Jesus. Também este um paralelismo com João Paulo ii que, na Bélgica, em 1995, elevou às honras dos altares São Damião de Veuster, conhecido como Damião de Molokai, um grande missionário belga que morreu entre os leprosos do Havai, a quem serviu com o custo da própria vida. Antes dele, muitos outros santos lançaram ao longo dos séculos as sementes do cristianismo nestas terras, onde atualmente existem cerca de 8,4 milhões católicos na Bélgica e menos de 300.000 em Luxemburgo. «A secularização é um tema, mas talvez ainda mais o seja o desafio do testemunho cristão numa Europa onde o cristianismo é menos conhecido, cheia de questões, muitas não expressas, com uma perceção de declínio», sublinhou Bruni. «Já existem tentativas de resposta no seio destas comunidades que terão a oportunidade de receber o encorajamento do Papa».
Mas, para além das comunidades católicas — também de países vizinhos —, o Pontífice levará a sua mensagem a dois países de grande «peso político». Aquela que Francisco visitará é uma parte do mundo «para a qual os outros olham», e a sua palavra será «uma palavra dirigida ao coração da Europa», também «sobre o papel que quer desempenhar no futuro próximo» para o acolhimento e a solidariedade entre nações, no passado elas próprias «vítimas» de ocupação e destruição, que hoje sofrem as lacerações provocadas pelos conflitos em curso.
A paz será, de facto, um dos temas principais dos sete discursos, todos em italiano, que o Papa Francisco irá proferir. «Uma chamada de atenção», disse Bruni, «também para a memória das terras que desejaram e trabalharam fortemente para criar as condições de paz, depois do sofrimento suportado durante a guerra, enquanto a Europa corre o risco de ser arrastada de novo para um conflito». Sem esquecer que o Papa se dirige a «um continente que se interroga seriamente sobre as questões ambientais».
A estes temas se entrelaça, como já foi referido, o da educação católica e do seu papel numa época fragmentada. Os dois encontros mencionados na Katholieke Universiteit Leuven e na Université Catholique de Louvain (a 27 e 28 de setembro) serão uma oportunidade para compreender «o que o cristianismo ainda tem a dizer à cultura europeia». Interessante nesta perspetiva é a escolha, durante o encontro com os docentes da Universidade de Lovaina, da projeção de um vídeo sobre a assistência aos refugiados, provavelmente — disse Bruni — para chamar a atenção para o desafio da «transformação» dos últimos anos com a presença dos refugiados nas instituições universitárias.
Não faltou no momento das perguntas uma referência à questão dos abusos do clero, também à luz das notícias divulgadas pela própria Conferência Episcopal belga sobre um possível encontro do Papa com 15 vítimas. O diretor da Sala de Imprensa não o confirmou: «O programa é este ilustrado. Se houver um encontro específico, de acordo com as vítimas, daremos informações». Relativamente ao caso do ex-bispo Vangheluwe, Bruni explicou que o Papa está «consciente das dificuldades, dos dramas e dos sofrimentos que se verificaram na Bélgica, certamente podemos esperar uma referência a este assunto».
O Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin, em missão em Nova Iorque, não estará presente na viagem; em vez disso, farão parte da comitiva os Cardeais Robert Prevost e Marcello Semeraro, respetivamente prefeitos dos Dicastérios para os Bispos e para as Causas dos Santos.
Salvatore Cernuzio