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Expulso da fé o diabo reentra com a superstição

 Expulso da fé o diabo reentra com a superstição  POR-039
26 setembro 2024

«O nosso mundo tecnológico e secularizado está repleto de magos, ocultismo, espiritualismo, astrólogos, vendedores de feitiços e de amuletos, seitas satânicas... Expulso pela porta, o diabo volta a entrar, dir-se-ia, pela janela. Expulso da fé, volta a entrar com a superstição», disse o Papa na audiência geral de quarta-feira, 25 de setembro, na praça de São Pedro. Retomando o ciclo de catequeses dedicado ao tema “O Espírito e a Esposa”. O Espírito Santo guia o povo de Deus ao encontro de Jesus, nossa esperança. Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto. O Espírito Santo é o nosso aliado na luta contra o espírito maligno.

Estimados irmãos e irmãs bom dia!

Imediatamente após o seu batismo no Jordão, Jesus «foi conduzido pelo Espírito para o deserto, a fim de ser tentado pelo diabo» (Mt 4, 1) — assim reza o Evangelho de Mateus. A iniciativa não é de satanás, mas de Deus. Indo para o deserto, Jesus obedece a uma inspiração do Espírito Santo, não cai numa armadilha do inimigo, não! Uma vez superada a provação, Ele — está escrito – voltou para a Galileia «Impelido pelo Espírito Santo» (Lc 4, 14).

No deserto, Jesus livrou-se de satanás e agora pode libertar de satanás. É isto que os Evangelistas realçam com as numerosas histórias de libertação de endemoninhados. Jesus diz aos seus opositores: «Se é em virtude do Espírito de Deus que expulso demónios, então o Reino de Deus chegou entre vós» (Mt 12, 27).

Hoje assistimos a um estranho fenómeno relativo ao diabo. A um certo nível cultural, considera-se que ele simplesmente não existe. Seria um símbolo do inconsciente coletivo, ou da alienação, em síntese, uma metáfora. Mas «a maior astúcia do demónio é levar a crer que ele não existe», como alguém escreveu (Charles Baudelaire). É astuto: faz-nos crer que não existe e assim domina tudo. É ardiloso! E, no entanto, o nosso mundo tecnológico e secularizado está repleto de magos, ocultismo, espiritismo, astrólogos, vendedores de feitiços e amuletos e, infelizmente, de verdadeiras seitas satânicas. Expulso pela porta, o diabo voltou a entrar, dir-se-ia, pela janela. Expulso pela fé, volta a entrar com a superstição. E se fores supersticioso, inconscientemente dialogas com o diabo. Com o diabo não se conversa!

A provação mais forte da existência de satanás não está nos pecadores, nem nos endemoninhados, mas nos santos! “E porquê, Padre?”. Sim, é verdade que o diabo está presente e age mediante certas formas extremas e “desumanas” de maldade e perversidade que vemos à nossa volta. Mas por este caminho, nos casos individuais, é praticamente impossível chegar à certeza de que se trata precisamente dele, dado que não podemos saber exatamente onde termina a sua ação e onde começa a nossa própria maldade. Por isso, a Igreja é muito prudente e rigorosa no exercício do exorcismo, ao contrário do que se verifica, infelizmente, em certos filmes!

É na vida dos santos, precisamente ali, que o diabo é obrigado a manifestar-se, a pôr-se “contra a luz”. Uns mais, outros menos, todos os santos, todos os grandes crentes, dão testemunho da sua luta contra esta realidade obscura, e não se pode honestamente supor que todos eram iludidos ou simples vítimas dos preconceitos do seu tempo.

A batalha contra o espírito maligno vence-se como Jesus a venceu no deserto: com a força da palavra de Deus. Vede que Jesus não conversa com o diabo, nunca dialoga com o demónio. Ou o expulsa, ou o condena, mas nunca dialoga. E, no deserto, não responde com a sua palavra, mas com a palavra de Deus. Irmãos e irmãs, nunca dialogueis com o diabo! Quando ele vem com tentações: “mas isto seria bom, aquilo seria bom”, detém-te! Eleva o teu coração ao Senhor, reza a Nossa Senhora e expulsa-o, como Jesus nos ensinou a expulsá-lo. São Pedro sugere também outro meio, de que Jesus não necessitava, mas nós sim, a vigilância: «Sede sóbrios, vigiai. O vosso inimigo, o diabo, anda às voltas como leão que ruge, procurando a quem devorar» (1 Pd 5, 8). E São Paulo diz-nos: «Não deis ocasião ao diabo» (Ef 4, 27).

Depois que Cristo, na cruz, derrotou para sempre o poder do «príncipe deste mundo» (Jo 12, 31), o diabo — dizia um Padre da Igreja — «está preso, como um cão acorrentado; não pode morder ninguém, a não ser aqueles que, desafiando o perigo, se aproximam dele... Pode ladrar, pode insistir, mas não pode morder, exceto quem o quiser».1 Se fores tolo e disseres ao diabo: “Ah, como estás?”, ele arruinar-te-á. O diabo? À distância! Com o diabo não se dialoga. Devemos afugentá-lo. Distância. E todos nós, todos, temos a experiência de como o diabo se aproxima com alguma tentação, sobre os dez mandamentos. Quando sentirmos isto, paremos, distância! Não nos aproximemos do cão acorrentado!

A tecnologia moderna, por exemplo, além de muitos recursos positivos que devem ser apreciados, oferece também inúmeros meios para “dar ocasião ao diabo”, e muitos caem nela. Pensemos na pornografia na internet, por detrás da qual existe um mercado deveras florescente, todos o sabemos. É o diabo que trabalha ali. Trata-se de um fenómeno muito difundido, que no entanto os cristãos devem ter em conta e rejeitar vigorosamente. Pois qualquer telemóvel tem acesso a esta brutalidade, a esta linguagem do diabo: a pornografia na internet.

A consciência da ação do diabo na história não deve desencorajar-nos. O pensamento final deve ser, até neste caso, de confiança e segurança: “Estou com o Senhor, vai-te embora!”. Cristo venceu o demónio e concedeu-nos o Espírito Santo para fazer nossa a sua vitória. A própria ação do inimigo pode tornar-se vantajosa para nós se, com a ajuda de Deus, a pusermos ao serviço da nossa purificação. Peçamos, pois, ao Espírito Santo, com as palavras do hino Veni Creator:

“Afasta de nós o inimigo

e concede-nos depressa a paz.

Contigo que nos guias

evitaremos todo o mal!”.

Prestai atenção, pois o diabo é astuto. Mas nós, cristãos, com a graça de Deus, somos mais espertos do que ele. Obrigado!

1 São Cesário de Arles, Discursos 121, 6: cc 103, p. 507.