Dar vida a «um novo modo de fazer economia que não produza descarte, mas bem-estar material e espiritual», eis o “mandato” confiado pelo Papa aos jovens membros da delegação de “The Economy of Francesco”, recebidos em audiência na manhã de 25 de setembro, no ambiente adjacente à sala Paulo vi .
Prezados amigos, bem-vindos!
Fico feliz por saber que, com o Bispo de Assis e os outros promotores que nomeei, destes vida à “Fundação The economy of Francesco”. Dos vossos ideais nasceu uma instituição. Ela é importante porque servirá para sustentar os ideais; e vós sereis não só os seus beneficiários, mas os protagonistas, assumindo com entusiasmo e disponibilidade as tarefas que vos forem confiadas.
Nestes cinco anos, gerastes muito. Obrigado por terdes levado a sério o meu convite para “reanimar” a economia e por terdes aceite as sugestões que vos dei nas vossas conferências anuais. Estas sugestões fazem parte da doutrina social da Igreja e, em última análise, têm a sua raiz no Evangelho. Muitos podem ser os vossos mestres que conhecestes no decurso dos vossos estudos ou das vossas experiências profissionais; mas a referência ao Evangelho, também no diálogo sincero com todos, garante-vos um Mestre extraordinário, Jesus, o único que pôde dizer: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida» (Jo 14, 6).
Agora começa para vós uma nova etapa. É necessário que esta vossa bela realidade cresça, se fortaleça, chegue cada vez a mais jovens e dê os frutos típicos do Evangelho e do bem. Obrigado por tudo, por tudo o que fazeis e fizestes, que foi além das expetativas. Eu quis apostar em vós, pois os jovens têm toda a vida pela frente, são um “caminho” vivo, e de um caminho podem sair coisas boas, tendo o cuidado de evitar as más.
O mundo da economia precisa de uma mudança. Não o mudareis apenas tornando-vos ministros, prémios Nobel ou grandes economistas — todas estas coisas são boas — mas mudá-lo-eis sobretudo amando-o, à luz de Deus, injetando nele os valores e a força do bem, com o espírito evangélico de Francisco de Assis: ele era filho de um comerciante, conhecia os méritos e os defeitos desse mundo! Amar a economia, amar concretamente os trabalhadores, os pobres, privilegiando as situações de maior sofrimento.
Não são os grandes e os poderosos que mudam o mundo para melhor: é o amor o primeiro e maior fator de mudança. Um economista de vida santa, beato Giuseppe Toniolo, escreveu a este propósito que quem salvará verdadeiramente a sociedade “não será um diplomata, um douto, um herói, mas um santo, aliás, uma sociedade de santos”. Por isso, eu quis fazer articular todo o movimento da Economy of Francesco em volta de São Francisco de Assis que, simplesmente despojando-se de tudo por amor a Jesus e aos pobres, deu também um novo impulso ao desenvolvimento da economia.
Hoje gostaria de vos deixar três palavras: ser testemunhas, não ter medo, esperar sem se cansar.
Ser testemunhas. Se quiserdes que outros jovens se aproximem da economia com os vossos ideais, aqueles que vós e eu subscrevemos no Pacto de Assis de 24 de setembro de 2022, é o vosso testemunho de vida que os atrairá. Sede coerentes — a coerência é algo que não está na moda! — nas vossas escolhas. Fazei-vos apreciar pelos vossos projetos e realizações. E não para vos tornardes muitos e poderosos, mas para transmitir a muitos o que recebestes, nomeadamente a “boa notícia” de que, inspirando-se pelo Evangelho, até a economia pode mudar para melhor.
Segundo: não ter medo. Repito-vos o que disse aos jovens na Jmj de Lisboa: “Não sejais administradores de receios, mas empreendedores de sonhos”. Levai em frente os sonhos! Há tanto a fazer, é preciso ousar palavras novas: os cristãos sempre o fizeram, nunca tiveram medo do novo. Sabem que Deus é o Senhor da história. Dói-me muito ver aqueles cristãos que se escondem nas sacristias porque têm medo do mundo. Eles não são cristãos, são “reformados” derrotados, não são cristãos.
Terceira palavra: esperar sem se cansar. Sei que não é fácil propor uma nova economia num contexto de guerras novas e antigas, enquanto a indústria do armamento prospera, privando de recursos os pobres. Sabeis que, nalguns países, os investimentos que mais geram rendimentos são as fábricas de armas? Lucrar para matar. Nestes casos, a democracia está ameaçada, o populismo e a desigualdade crescem e o planeta está cada vez mais ferido. Não é fácil, com efeito, é muito difícil. Talvez, às vezes, se tenha a impressão de “lutar contra moinhos de vento”. Recordemos, pois, o que Jesus disse aos discípulos: “Não tenhais medo”. Ele ajudar-vos-á e a Igreja não vos deixará sozinhos.
O Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral — a Irmã Smerilli está presente — continua a acopmpanhar-vos, abrindo-vos, na medida do possível, as portas da colaboração com as Igrejas particulares de todo o mundo. Isto ajudar-vos-á a estabelecer contactos e sinergias com tantas realidades e redes de pessoas que partilham os vossos mesmos ideais. O Dicastério acompanhará também as atividades da Fundação, cujo Ato de constituição recebo hoje, e que será a realidade com a qual podereis dar vida e consistência ao sonho de mudar a economia atual e dar alma à economia de amanhã. Entre vós, nasça uma nova forma de estar juntos e de fazer economia que não produza descarte, mas bem-estar material e espiritual.
Coragem, caros amigos! Coragem! Se fordes fiéis à vossa vocação, a vossa vida florescerá, tereis histórias maravilhosas para contar aos vossos filhos e netos. Vejo ali algumas crianças: isso é bonito numa cultura em que as pessoas preferem ter cachorros ou gatos e não filhos. Devemos fustigar um pouco a Itália! Crede-me: vale a pena gastar a vida a fim de mudar o mundo para melhor. Em frente! Estou convosco, acompanho-vos e abençoo-vos. E também vós, por favor, rezai por mim!