Como se faz para transmitir aos jovens o entusiasmo da missão? «Não creio que haja “técnicas” para isto...». Na pergunta de James, catequista, e na resposta que recebeu do Papa, pode-se captar um dos temas mais caros a Francisco. O que está na origem do ser missionário? Como se anuncia o Evangelho? São perguntas válidas para cada lugar e cada tempo, mas aqui, na Papua-Nova Guiné, país onde se falam 841 línguas diferentes, estão destinadas a ter um eco particular. Encontrando as autoridades e a sociedade civil em Port Moresby, o Sucessor de Pedro tinha repetido que estava muito fascinado com a extraordinária riqueza cultural e humana deste arquipélago constelado de ilhas, onde as ligações são complicadas e a catequese tem de contar com uma quantidade de idiomas diferentes incomparável no mundo: «Imagino que esta enorme variedade seja um desafio para o Espírito Santo, que cria a harmonia a partir das diferenças!».
À pergunta de James, durante o encontro com os bispos, o clero, os religiosos e os catequistas, o Papa respondeu reiterando o essencial do testemunho cristão, ou seja, «cultivar e partilhar a nossa alegria de ser Igreja». Francisco gosta de citar frequentemente as palavras ditas pelo seu predecessor Bento xvi em Aparecida, em 2007: «A Igreja não faz proselitismo. Pelo contrário, desenvolve-se por “atração”». E no livro-entrevista com Gianni Valente (“Senza di Lui non possiamo far nulla” [“Sem Ele nada podemos fazer”], Lev 2020) explicou que «a missão é obra Dele. É inútil preocupar-nos. Não é preciso organizar-nos, não é preciso gritar. Não são precisas ideias/artifícios ou estratagemas. Basta pedir para poder refazer hoje a experiência que te faz dizer “decidimos, o Espírito Santo e nós”... O mandato do Senhor de sair e anunciar o Evangelho pressiona a partir de dentro, por paixão, por atração amorosa. Não se segue Cristo, e muito menos se torna anunciador dele e do seu Evangelho, por uma decisão tomada à mesa, por um ativismo autoinduzido. Até o impulso missionário só pode ser fecundo se se realiza dentro desta atração, e a transmite aos outros».
Perante a perplexidade e o cansaço que muitos cristãos experienciam nalgumas partes do mundo, só o testemunho de pecadores perdoados, atraídos pelo amor, faz a missão. Caso contrário, a Igreja — e são sempre palavras de Francisco — «torna-se uma associação espiritual. Uma multinacional para lançar iniciativas e mensagens de conteúdo ético-religioso», porque «acaba-se por domesticar Cristo. Já não dás testemunho do que Cristo faz, mas falas em nome de uma certa ideia de Cristo. Uma ideia possuída e domesticada por ti. Organizas tu as coisas, tornas-te o pequeno empresário da vida eclesiástica, onde tudo acontece segundo um programa estabelecido, para ser seguido apenas de acordo com as instruções. Mas o encontro com Cristo nunca mais se repete. O encontro que tocou o teu coração no início nunca mais se repete».
Nada está isento deste risco: dos projetos pastorais à organização de grandes eventos, das “técnicas” missionárias para o digital à catequese. Corre-se o risco de dar por adquirido o essencial, para se concentrar em modalidades, linguagens, organizações.
Mas a resposta mais verdadeira à pergunta de James, aquela que encarna as palavras do Papa, está nos rostos sorridentes e cheios de alegria dos missionários que aqui percorrem quilómetros a pé, de carro e de avião, para estarem perto de todos. Para testemunhar a cada mulher e a cada homem desta terra de natureza esplêndida e colorida, o amor de Jesus. Porque «se é Cristo que te atrai, se te movimentas e fazes as coisas porque és atraído por Cristo, os outros apercebem-se sem esforço. Não há necessidade de o demonstrar, muito menos de o ostentar».
Andrea Tornielli