«Danço para celebrar a beleza da vida, é maravilhosa! Danço porque sou feliz! Danço porque estou grato a Deus: para mim, Ele está sempre na liderança da minha classificação!». Não consegue deixar de rir e sorrir — e de dançar... — Gabriel Geraldo dos Santos Araújo, conhecido como Gabrielzinho, um dos nadadores mais fortes da história paralímpica.
Brasileiro de Minas Gerais, 22 anos, na piscina vence sempre. Quase sempre. E nas raras vezes em que não vence (por pouco), promete a si mesmo «a vitória na primeira ocasião».
Ah, um detalhe (parafraseando Francesco De Gregori, poder-se-ia dizer que não é por «um detalhe» que se avalia um nadador): Gabrielzinho não tem braços e praticamente não tem pernas. Por causa da focomelia.
Ele explica-o assim: «Nasci com uma grave malformação, e por isso os meus membros superiores e inferiores não se desenvolveram». E brinca: «Mas tenho dois pés muito fortes que na água uso como barbatanas».
Na realidade, nadando, Gabrielzinho põe em jogo todo o seu corpo. «Pelo menos o que resta do meu corpo...!», diz, rindo. E assim, na “largada”, na natação de costas, segura-se na corda com os dentes (não tem mãos...), depois, nada apoiando-se nos ombros e toca a placa de chegada com a cabeça. Antes e depois da competição? Dança!
O seu talento inato de dançarino com o ritmo no sangue («repito: celebro a vida dançando!») foi visto em todo o mundo a 28 de agosto, durante a festa de abertura dos Jogos paralímpicos nas ruas de Paris. Exuberante porta-bandeira do Brasil, montado num triciclo elétrico, com boné. E um uniforme de mangas compridas, para uma pessoa que não tem braços. Não esconde uma enorme satisfação pessoal, «pois é uma oportunidade única na vida, estar presente numa festa de abertura dos Jogos paralímpicos, carregando a bandeira: uma honra para qualquer atleta».
Ainda com um estilo festivo, entrou na piscina da Défense Arena e começou vencendo os 100 metros de costas, categoria s2: «Sinto-me muito feliz, porque antes da competição estava nervoso, mas depois senti-me à vontade nadando. Esta foi a mais difícil das minhas competições em Paris, portanto ganhar a medalha de ouro é fantástico!». A 31 de agosto, conquistou a segunda medalha de ouro, nos 50 metros de costas. Depois foi a vez da terceira medalha de ouro nos 200 metros livres. Só faltava ganhar também os 50 metros livres, mas a medalha foi “só” de prata.
Nos Jogos de Tóquio — onde foi uma verdadeira surpresa — tinha conquistado três medalhas de ouro e uma de prata. Bom? Nem por isso: aquela medalha de prata.... Chegou a Paris como superfavorito para fazer poker, quatro medalhas de ouro de um total de quatro. Quer colecionar medalhas, como fez nos Jogos pan-americanos e no Campeonato mundial. Confessa que é uma pessoa simples, mas que no desporto se transforma: «Sou muito competitivo, quero ganhar. Participo numa competição para ser o melhor, mesmo que tenha ao meu lado adversários com deficiências menos impactantes. Não importa, não procuro desculpas. Há tanto sofrimento no meu treino, há tanto trabalho duro! Por isso, na competição quero divertir-me e desfrutar da natação, porque gosto muito de nadar, é a maneira de me exprimir».
E sim, Gabrielzinho insiste, «a natação é a minha vida porque me torna livre, na água posso mover-me de forma natural», afirma. Tudo começou quando o seu professor de educação física, Aguilar Freitas, o inscreveu numa competição escolar de natação, sem que ele soubesse. Na realidade, Gabrielzinho não reagiu muito bem... Mas é claro que ele não é alguém que se recusa. E assim mergulhou e ganhou. «Desde então, nunca mais parei de mergulhar e de ganhar». O segredo? «Se nos prepararmos bem, tudo pode ser alcançado. Na natação, certamente, mas acima de tudo na vida». Um conselho? «Nunca desistir dos sonhos. Eu realizo-os sem braços nem pernas!». (giampaolo mattei)