Os ataques e os assassínios nunca podem ser uma solução
«Basta! Chega!». O grito de dor do Papa pelo conflito «sangrento e violento» que inflama o Médio Oriente transformou-se num apelo urgente para que se ponha fim «aos ataques, mesmo os direcionados, e aos assassinatos», que «nunca podem ser uma solução» porque «geram ainda mais ódio e vingança». No final do Angelus de 4 de agosto, Francisco fez um novo apelo à paz, pedindo a retomada do diálogo entre as partes e manifestando a sua proximidade à comunidade drusa da Terra Santa e às populações da Palestina, de Israel, do Líbano e de Myanmar. Falando ao meio-dia da janela do Palácio apostólico vaticano, o Pontífice introduziu a recitação da oração mariana com os fiéis presentes na Praça de São Pedro comentando o Evangelho de domingo, tirado de uma passagem do capítulo 6 de João (24-35).
Estimados irmãos e irmãs,
bom domingo!
Hoje o Evangelho fala-nos de Jesus que, depois do milagre dos pães e dos peixes, convida as multidões que O procuram a refletir sobre o que aconteceu, para compreender o seu significado (cf. Jo 6, 24-35).
Tinham comido aquele alimento partilhado e puderam ver como, embora com poucos recursos, com a generosidade e a coragem de um jovem, que colocou o que tinha à disposição dos outros, todos ficaram saciados (cf. Jo 6, 1-13). O sinal era claro: se cada um der aos outros o que tem, com a ajuda de Deus, até com pouco todos podem ter alguma coisa. Não o esqueçais: se cada um der aos outros o que tem, com a ajuda de Deus, mesmo com pouco, todos podem ter alguma coisa. Não vos esqueçais disto.
E eles não compreenderam: confundiram Jesus com um mágico qualquer e voltaram a procurá-lo, esperando que ele repetisse o prodígio como se fosse magia (cf. v. 26).
Foram protagonistas de uma experiência para o seu caminho, mas não compreenderam o seu significado: a sua atenção concentrou-se apenas nos pães e nos peixes, no alimento material, que acabou imediatamente. Não se aperceberam de que se tratava apenas de um instrumento, através do qual o Pai, saciando a sua fome, lhes revelava algo muito mais importante. E o que lhes revelava o Pai? O caminho da vida que dura para sempre e o sabor do pão que sacia sem medida. O verdadeiro pão, em suma, era e é Jesus, o seu Filho amado feito homem (cf. v. 35), que veio partilhar a nossa pobreza para nos conduzir, através dela, à alegria da plena comunhão com Deus e com os irmãos (cf. Jo 3, 16).
As coisas materiais não preenchem a vida, ajudam-nos a viver e são importantes, mas não preenchem a vida: só o amor o pode fazer (cf. Jo 6, 35). E para que isto aconteça, o caminho a seguir é o da caridade que não guarda nada para si, mas partilha tudo. A caridade partilha tudo.
E não é isto que acontece também nas nossas famílias? Vemo-lo. Pensemos naqueles pais que lutam toda a vida para educar bem os seus filhos e deixar-lhes algo para o futuro. Que bonito quando esta mensagem é compreendida e os filhos agradecem e, por sua vez, se tornam solidários uns com os outros como irmãos! É verdade. Por outro lado, é triste quando há desavenças por causa da herança — já vi tantos casos, é triste — e discutem, e se calhar não se falam por causa do dinheiro, não se falam durante anos! A mensagem do pai e da mãe, o seu legado mais precioso, não é o dinheiro: é o amor, é o amor com que dão aos filhos tudo o que têm, tal como Deus faz connosco, e assim nos ensinam a amar.
Perguntemo-nos então: qual é a minha relação com os bens materiais? Sou escravo deles ou utilizo-os livremente, como instrumentos para dar e receber amor? Sei dizer “obrigado”, “obrigado” a Deus e aos irmãos pelos dons que recebi, e sei partilhá-los com os outros?
Maria, que deu a Jesus toda a sua vida, nos ensine a fazer de tudo um instrumento de amor.
Depois do Angelus, Francisco recordou a beatificação, no Líbano, do Patriarca Estêvão Douayhy e lançou o apelo à paz no Médio Oriente. Em seguida, manifestou a sua «preocupação» pela «situação crítica» que a Venezuela está a viver e expressou a sua «proximidade» às populações indianas atingidas nos últimos dias por chuvas torrenciais. Por fim, dirigiu palavras de «gratidão» aos párocos do mundo inteiro no dia da memória litúrgica do seu padroeiro, o Santo Cura d’Ars.
Prezados irmãos e irmãs!
Na passada sexta-feira, em Bkerke, no Líbano, foi beatificado o Patriarca Estêvão Douayhy, que conduziu sabiamente a Igreja Maronita de 1670 a 1704, numa época difícil marcada também pela perseguição. Mestre de fé e pastor solícito, foi uma testemunha da esperança sempre próxima do povo. Ainda hoje, o povo libanês sofre muito! Penso, em particular, nas famílias das vítimas da explosão no porto de Beirute. Espero que a justiça e a verdade sejam feitas em breve. Que o novo Beato sustente a fé e a esperança da Igreja no Líbano e interceda por este amado país. Um aplauso ao novo Beato!
Acompanho com grande preocupação o que está a acontecer no Médio Oriente e espero que o conflito, já terrivelmente sangrento e violento, não se alastre ainda mais. Rezo por todas as vítimas, especialmente pelas crianças inocentes, e exprimo a minha proximidade à comunidade drusa na Terra Santa e às populações na Palestina, Israel e Líbano. Não esqueçamos Myanmar. Tenhamos a coragem de retomar o diálogo para que haja um cessar-fogo imediato em Gaza e em todas as frentes, os reféns sejam libertados, as populações socorridas com as ajudas humanitárias. Os ataques, inclusive os ataques direcionados, e os assassínios, nunca poderão ser uma solução. Não ajudam a percorrer o caminho da justiça, o caminho da paz, mas geram ainda mais ódio e vingança. Basta, irmãos e irmãs! Chega! Não sufoqueis a palavra do Deus da Paz, mas deixai que ela seja o futuro da Terra Santa, do Médio Oriente e do mundo inteiro! A guerra é uma derrota!
Estou igualmente preocupado com a Venezuela, que está a viver uma situação crítica. Lanço um apelo urgente a todas as partes para que procurem a verdade, exerçam a moderação, evitem qualquer tipo de violência, resolvam os conflitos através do diálogo, tenham no coração o verdadeiro bem da população e não os interesses partidários. Confiemos este país à intercessão de Nossa Senhora de Coromoto, tão amada e venerada pelos venezuelanos, e à oração do Beato José Gregorio Hernandez, cuja figura nos une a todos.
Exprimo a minha proximidade aos povos da Índia, especialmente de Kerala, duramente atingidos pelas chuvas torrenciais, que provocaram numerosos deslizamentos de terra, causando a perda de vidas, numerosos desalojados e enormes danos. Convido-vos a unir-vos às minhas orações por aqueles que perderam a vida e por todas as pessoas atingidas por uma calamidade tão devastadora.
Hoje, memória do Santo Cura d’Ars, nalguns países celebramos a “festa do pároco”. Expresso a minha proximidade e também a minha gratidão a todos os párocos que, com zelo e generosidade, por vezes no meio de muito sofrimento, se consomem por Deus e pelo povo. Aplaudamos os nossos párocos!
Saúdo-vos, romanos e peregrinos da Itália e de muitos países, em particular o grupo da República Checa, a Companhia de Santa Úrsula, os fiéis de Chiusa Sclafani e de Siderno, os jovens de San Vito dei Normanni, os da paróquia do Sagrado Coração de Pádua e os ciclistas que vieram de Sambuceto. Com alegria saúdo os participantes no 1º Festival da Juventude de Portugal, que está a decorrer em Fátima. Caros jovens, vejo que a experiência entusiasmante do ano passado em Lisboa continua a dar frutos. Graças a Deus! Rezo por vós e, por favor, rezai por mim na Capelinha das Aparições.
Desejo a todos bom domingo. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!