· Cidade do Vaticano ·

Saber dar um passo atrás

(FILES) US President Joe Biden gestures as he leaves after speaking at a press conference at the ...
25 julho 2024

Renunciar custa. E muito. Não é preciso necessariamente ocupar um lugar de poder ou uma posição de grande relevância. Às vezes, até renunciar a um hábito de trabalho consolidado ou a uma posição conquistada com esforço pode ser muito difícil. Eis porque sempre que uma personalidade de relevo público opta por dar um passo atrás, por se demitir, ganha imediatamente a simpatia e a estima da opinião pública. Aconteceu de maneira marcante em 11 de fevereiro de 2013, com a histórica renúncia de Bento xvi ao ministério petrino. Vemo-lo — embora num âmbito diferente — de modo igualmente evidente nestes últimos dias, depois de o presidente dos eua , Joe Biden, ter anunciado que interromperia a sua candidatura a um segundo mandato na Casa Branca, deixando ao seu partido a escolha de um novo candidato para desafiar Donald Trump (Biden já indicou, no entanto, a vice-presidente Kamala Harris como a sua preferência para o suceder na Sala oval).

Como se sabe, a decisão já estava no ar há algum tempo e as figuras importantes do Partido democrático tinham pedido a Biden com insistência para renunciar à candidatura à reeleição. No entanto, a escolha final coube ao atual ocupante da Casa Branca e, por conseguinte, deve-lhe ser atribuída a decisão muito pessoal e certamente nada fácil de não se candidatar a mais quatro anos como presidente. Uma escolha nobre, que — como vários observadores notaram — coloca o bem do país acima dos seus interesses pessoais. E isto para além das avaliações políticas da sua presidência, que agora chega ao fim. Em 1999, Nelson Mandela fez uma escolha semelhante — e, nalguns aspetos, ainda mais forte e evocativa — quando renunciou a candidatar-se a um segundo mandato presidencial, retirando-se da vida pública. Tinha derrotado o apartheid e iniciado a reconciliação da sua amada África do Sul. Agora era tempo de deixar para outros a colheita da sementeira que lhe tinha custado 27 anos de prisão.

Afinal de contas, o tempo da política pode ser muito frutuoso até em períodos breves: para Joe Biden restam “apenas” seis meses antes da transferência do poder em 20 de janeiro de 2025. Dado que já não deve fazer escolhas tendo em vista exclusivamente a campanha eleitoral, é de esperar que o presidente dos eua apresente novas iniciativas corajosas e criativas para alcançar os objetivos que definirão a herança na História, em particular na política externa, a começar pelo fim dos conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente.

Alessandro Gisotti