«Para entender o matrimónio cristão em profundidade, é necessário partir da Eucaristia, que lhe fornece a arquitetura e serve como fonte e modelo efetivo”, afirmou, na manhã de 16 de julho, o cardeal José Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a cultura e a educação, falando no xiii Encontro internacional das Équipes Notre-Dame, que se concluirá no dia 20 de julho em Turim.
Quase cinco mil casais de todo o mundo, com os seus conselheiros espirituais, participam no encontro que começou na tarde de 15 de julho. Repletos de momentos de espiritualidade e reflexão, os trabalhos têm como tema Vamos com o coração ardente nas pegadas dos discípulos de Emaús.
Durante o seu discurso intitulado Eucaristia, fonte e cume da vida cristã, o cardeal recordou as palavras de Henri Caffarel (1903-1996), sacerdote francês, fundador do movimento internacional: “Esposo e esposa, que comeis a carne de Cristo, que bebeis o seu sangue, que viveis na alma e no corpo a vida de Cristo, que habitais n’Ele e Ele em vós, como não poderíeis amar-vos com um amor diferente daquele dos outros homens, com um amor ressuscitado? Podeis olhar um para o outro, compartilhar tristezas e alegrias, entregar-vos um ao outro com todo o coração, com todo o corpo, ajudando um ao outro ao longo da vida, sem ter a sensação de que viveis um grandíssimo mistério?”.
Portanto, o “grandíssimo mistério” do matrimónio — acrescentou o prefeito do Dicastério para a cultura e a educação — deve entendido em continuidade com o mistério eucarístico, uma vez que os cônjuges vivem na alma e no corpo “da vida de Cristo”, permanecem em Cristo e Cristo neles. É por isso que os casais cristãos são chamados a reconhecer que não podem viver sem a Eucaristia, como realçou o Papa Francisco na exortação apostólica Amoris laetitia, na qual afirma que “o alimento da Eucaristia é força e estímulo para viver a aliança matrimonial todos os dias” (n. 318). Quem poderia enfrentar o caminho sem a força dada pelo alimento? Quem poderia ir em frente no seu caminho se lhe faltassem o ímpeto e o estímulo que são o motor da própria marcha? Quando, em maio passado, o Santo Padre recebeu os líderes das Équipes Notre-Dame, pronunciou palavras claras: “Hoje, pensa-se que o sucesso de um matrimónio depende apenas da força de vontade das pessoas. Isso não é verdade. Se fosse assim, seria um fardo, um jugo colocado sobre os ombros de duas pobres criaturas. O matrimónio, por outro lado, é um “passo a três”, no qual a presença de Cristo entre os esposos torna o caminho possível, e o jugo transforma-se em jogo de olhares: um olhar entre os dois esposos, um olhar entre os esposos e Cristo”.
O cardeal de Mendonça lembrou que “na Eucaristia se abre a possibilidade de participar misticamente no que Cristo é. Jesus fez-se homem para que o homem, através da morte e ressurreição, participe no que Cristo é”. Por isso, o cardeal destacou que a Igreja vem de Cristo “de uma maneira absolutamente forte, decisiva e íntima”. Em cada Eucaristia a comunidade proclama: “Por Cristo, com Cristo, em Cristo”. É desta forma que a Igreja vive: ela vive de e para o seu Senhor. É chamada em todos os tempos a dirigir-se a Cristo, a converter-se a Ele de todo o coração. A vida completamente doada por Jesus”, continuou o cardeal, “torna-se a extraordinária possibilidade de vida para a Igreja e, por meio dela, para o mundo”. E esta afirmação é válida quer para a Igreja no seu conjunto, como corpo místico de Cristo, quer para cada igreja doméstica, a Igreja que vós, queridos esposos, representais”.
No discurso de boas-vindas, o arcebispo de Turim, D. Roberto Repole, observou que “infelizmente, as famílias do nosso tempo acham cada vez mais difícil experimentar a beleza do matrimónio. Porquê? Vós — dirigindo-se aos presentes — representais uma resposta a esta pergunta. O vosso movimento testemunha que existe um caminho possível e alegre para os casais: é a vida cristã. Onde falta Cristo, falta oxigénio. E é por isso que cuidais da dimensão espiritual com amor recíproco: por causa da necessidade fundamental de cada casal de não fitar apenas os olhos um do outro, mas de olhar para cima, para a origem da vida e do amor”.