· Cidade do Vaticano ·

O preço da exclusão

This screen grab from AFPTV video footage taken on May 31, 2021 in Tegina, Nigeria, shows a general ...
18 julho 2024

No mundo 250 milhões de meninas e meninos são excluídos da escola. Este é um dos dados contidos em The price of inaction: The global private, fiscal and social costs of children and youth not learning, o relatório da Unesco que faz um resumo da situação geral, até hoje, em termos de evasão escolar e falta de instrução.

Trata-se de um fenómeno extremamente preocupante que tem também um impacto social considerável do ponto de vista económico, uma vez que o custo estimado é de 10.000 bilhões de dólares por ano até 2030: para entender melhor as dimensões do que poderíamos definir como um verdadeiro flagelo, basta pensar que o valor é maior do que o Pib anual da França e do Japão juntos. Portanto, é um apelo à responsabilidade geral.

Direito humano universal. Assim foi declarada a educação em 1948, um título reafirmado em 2015 pelas Nações Unidas, que incluiu o acesso à educação de qualidade para todos entre os Objetivos de desenvolvimento sustentável. No entanto, apesar das boas intenções, os eventos atuais dizem que ainda há um longo e sinuoso caminho a percorrer. Com efeito, aos números mencionados acima, que já são impiedosos por si só, devemos acrescentar que 70% das crianças de 10 anos de idade que vivem em países de baixa e média renda são hoje incapazes de entender qualquer simples texto escrito.

Fazer com que as pessoas entendam que a educação é um investimento estratégico, não apenas para os indivíduos, mas inclusive para todos os países, é o objetivo deste relatório com o qual a Unesco procura falar uma linguagem clara, mas eficaz: reduzir em apenas 10 pontos a percentagem de evasão escolar ou de pessoas que não adquiriram habilidades básicas permitiria que o Pib anual crescesse de 1 a 2 pontos percentuais.

Deixando de lado as questões financeiras, o que deve enfocado é o enorme dano social que estas carências formativas geram. Procurar preencher estas enormes lacunas na aprendizagem implica um maior foco mundial no desenvolvimento integral das meninas, ajudando a reduzir as possibilidades de casamento precoce (ou até forçado) e gestações prematuras. Portanto, agir nesta direção torna-se uma prioridade.

Significativo neste sentido foi o que ocorreu durante uma reunião de ministros da educação realizada recentemente na sede da Unesco em Paris: Audrey Azoulay, diretora-geral, convidou os 194 Estados-membros da organização a cumprir o seu compromisso de «transformar a educação de um privilégio numa prerrogativa para cada ser humano no mundo», enfatizando como a própria educação representa um recurso fundamental para enfrentar os desafios atuais, desde a redução da pobreza até ao combate contra as mudanças climáticas.

Para garantir que a educação de qualidade para todos seja transformada de Objetivo de desenvolvimento sustentável num resultado concreto, o relatório da Unesco sugere dez recomendações para os governos de todo o mundo: garantir percursos educacionais gratuitos e com financiamento público por um período mínimo de 12 anos para todas as meninas e meninos, destinando pelo menos 4-6% do Pib para a educação; criar ambientes de aprendizagem inclusivos que desafiem as desigualdades, os preconceitos e os estereótipos de género; investir na educação infantil para abordar as desigualdades de género e as normas prejudiciais de género desde a mais tenra idade; oferecer apoio académico e opções de segunda oportunidade para meninas e meninos que não tiveram acesso à educação ou que a interromperam; melhorar a infraestrutura escolar, com estruturas hídricas e de saneamento e garantir distâncias mais curtas para as alcançar; assumir professores qualificados e motivados e apoiar o seu desenvolvimento profissional; conscientizar as comunidades locais e as famílias sobre a importância de que meninas e meninos concluam um ciclo completo de educação básica; abordar a saúde mental e o bem-estar mental de meninas e meninos, a educação sexual abrangente e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais; ligar os alunos ao mundo do emprego, incluindo educação e treinamento vocacional que atenda às necessidades do mercado de trabalho; realizar pesquisas sobre o que funciona para reter ou trazer meninas e meninos de volta à escola, especialmente aqueles com alto risco de pobreza de aprendizagem e evasão escolar.

Foi em 2014 que, durante uma reunião com o mundo escolar, o Papa Francisco disse: «Ir à escola significa abrir a mente e o coração para a realidade, na riqueza dos seus aspetos, das suas dimensões. E não temos o direito de recear a realidade». É hora de o demonstrar. (emiliano magistri)