· Cidade do Vaticano ·

Mensagem de Francisco aos participantes no encontro “ ai Ethics for Peace” em Hiroshima

Só juntos podemos
construir a paz

People release paper lanterns on the Motoyasu River beside the Hiroshima Prefectural Industrial ...
11 julho 2024

Apelo a uma gestão sensata na governação da inteligência artificial


«Mostrar ao mundo que, unidos, pedimos um compromisso ativo para proteger a dignidade humana nesta nova época de utilização das máquinas». Escreveu o Papa Francisco na mensagem enviada aos participantes no encontro “ ai Ethics for Peace”, realizado em Hiroshima, no Japão, de 9 a 10 de julho. No documento papal divulgado na quarta-feira, 10, no final do encontro, há também uma exortação à proibição do uso de armas autónomas letais.

Caros amigos!

Envio-vos esta saudação por ocasião do vosso encontro intitulado “ ai Ethics for Peace”.

A inteligência artificial e a paz são dois temas de importância absoluta, como tive a oportunidade de sublinhar perante os líderes políticos do g 7: «É sempre bom lembrar que a máquina pode, sob certas formas e através destes novos meios, produzir escolhas algorítmicas. O que a máquina faz é uma escolha técnica entre várias possibilidades e baseia-se ou em critérios bem definidos ou em deduções estatísticas. O ser humano, pelo contrário, não só escolhe, como no seu íntimo é capaz de decidir. A decisão é aquilo a que podemos chamar um elemento mais estratégico de uma escolha e requer uma avaliação prática. Por vezes, frequentemente na difícil tarefa de governar, somos chamados a decidir com consequências para muitas pessoas. A este respeito, a reflexão humana sempre falou de sabedoria, a phronesis da filosofia grega e, pelo menos em parte, a sabedoria da Sagrada Escritura. Perante os prodígios das máquinas, que parecem capazes de escolher autonomamente, devemos ter claro que a decisão deve ser sempre deixada ao ser humano, mesmo nos tons dramáticos e urgentes com que por vezes se apresenta na nossa vida. Condenaríamos a humanidade a um futuro sem esperança se retirássemos às pessoas a capacidade de decidir sobre si próprias e sobre a sua vida, condenando-as a depender das escolhas das máquinas. Precisamos de garantir e proteger um espaço para um controlo humano significativo sobre o processo de escolha dos programas de inteligência artificial: disto depende a própria dignidade humana» (cf. Discurso ao g 7, 14 de junho de 2024).

Ao louvar esta iniciativa, peço-vos que mostreis ao mundo que, unidos, reclamamos um compromisso proativo para proteger a dignidade humana nesta nova época de utilização das máquinas.

O facto de vos reunirdes em Hiroshima para falar de inteligência artificial e de paz assume uma grande importância simbólica. No meio dos atuais conflitos que abalam o mundo, cada vez mais, infelizmente, para além do ódio à guerra, ouvimos falar desta tecnologia. É por isso que considero o evento de Hiroshima de uma importância extraordinária. É fundamental que, unidos como irmãos, possamos lembrar ao mundo que «num drama como o dos conflitos armados, é urgente repensar o desenvolvimento e a utilização de dispositivos como as chamadas “armas autónomas letais”, a fim de proibir a sua utilização, começando desde já por um esforço proativo e concreto para introduzir um controlo humano cada vez mais significativo. Nenhuma máquina deveria alguma vez escolher tirar a vida a um ser humano» (cf. Discurso no g 7, 14 de junho de 2024).

Perante a complexidade das questões que nos são apresentadas, a inclusão das riquezas culturais dos povos e das religiões na governação da inteligência artificial é uma chave estratégica para o sucesso do vosso compromisso com a gestão sensata da inovação tecnológica.

Desejando que este encontro produza frutos de fraternidade e colaboração, rezo para que cada um de nós se torne um instrumento de paz para o mundo.

Francisco