· Cidade do Vaticano ·

O Papa celebrou a solenidade dos santos Pedro e Paulo apóstolos

Uma Igreja de portas abertas para levar a todos
a esperança do Evangelho

 Uma Igreja de portas abertas para levar a todos a esperança do Evangelho  POR-027
04 julho 2024

Homilia do Papa durante a missa na basílica do Vaticano


Ser «pastores zelosos que abrem as portas do Evangelho» e contribuem para «construir uma Igreja e uma sociedade de portas abertas», eis a exortação dirigida pelo Papa Francisco aos 42 arcebispos metropolitanos, incluindo um purpurado, cujos pálios benzeu na manhã de sábado, 29 de junho, durante a missa da solenidade dos Santos Pedro e Paulo, presidida na basílica do Vaticano. A celebração contou também com a participação de uma delegação do Patriarcado ecuménico. O cardeal James Michael Harvey apresentou ao Pontífice, em latim, os 33 arcebispos metropolitanos presentes no rito, provenientes de muitos países do mundo, entre os quais, de Portugal, D. Rui Manuel Sousa Valério, s.m.m ., patriarca de Lisboa e, do Brasil, D. João Santos Cardoso, arcebispo de Natal; D. Gregório Ben Lâmed Paixão, o.s.b ., arcebispo de Fortaleza; D. Josafá Menezes da Silva, arcebispo de Aracaju; D. Carlos Alberto Breis Pereira, o.f.m. , arcebispo de Maceió; e D. José Mário Scalon Angonese, arcebispo de Cascavel. Em seguida, a homilia proferida pelo Pontífice.

Fixemos o nosso olhar nos dois Apóstolos, Pedro e Paulo: o pescador da Galileia que Jesus fez pescador de homens; o fariseu perseguidor da Igreja transformado pela Graça em evangelizador dos gentios. À luz da Palavra de Deus, deixemo-nos inspirar pelas suas histórias e pelo zelo apostólico que marcou o caminho das suas vidas. Ao encontrarem o Senhor, fizeram uma verdadeira experiência pascal: foram libertados e abriram-se diante deles as portas de uma vida nova.

Irmãos e irmãs, nas vésperas do ano jubilar, detenhamo-nos precisamente na imagem da porta. Com efeito, o Jubileu será um tempo de graça no qual abriremos a Porta Santa, para que todos possam atravessar o limiar daquele santuário vivo que é Jesus e, n’Ele, experimentar o amor de Deus que revigora a esperança e renova a alegria. Também na história de Pedro e Paulo há portas que se abrem.

A primeira leitura contou-nos o acontecimento da libertação de Pedro da prisão. Esta narrativa tem muitas imagens que nos recordam a experiência da Páscoa: o episódio ocorre durante a festa dos Ázimos; Herodes recorda a figura do Faraó do Egito; a libertação tem lugar de noite, como aconteceu com os israelitas; o anjo dá a Pedro as mesmas instruções que foram dadas a Israel: levanta-te depressa, põe o cinto, calça as sandálias (cf. At 12, 8; Ex 12, 11). Portanto, o que nos é narrado é um novo êxodo: Deus liberta a sua Igreja, o seu povo acorrentado, e mostra-se mais uma vez como o Deus da misericórdia que sustenta o seu caminho.

Naquela noite de libertação, a princípio abrem-se milagrosamente as portas da prisão; depois diz-se, de Pedro e do anjo que o acompanha, que eles estão diante da «porta de ferro que dá para a cidade, a qual se abriu por si mesma» (At 12, 10). Não são eles que abrem a porta, ela abre-se por si mesma. É Deus que abre as portas, é Ele quem liberta e abre caminhos. A Pedro — como ouvimos no Evangelho — Jesus tinha confiado as chaves do Reino; mas ele experimenta que é o Senhor quem abre primeiro as portas. Ele vai sempre à nossa frente.

Chega a ser curioso: as portas da prisão são abertas pela força do Senhor, mas depois Pedro encontrará dificuldades para entrar na casa da comunidade cristã, aquela que vai à porta pensa que é um fantasma, e não a abre. Quantas vezes as comunidades não aprendem esta sabedoria de “abrir as portas”.

O caminho do apóstolo Paulo é, também e sobretudo, uma experiência pascal. Efetivamente, primeiro ele é transformado pelo Ressuscitado no caminho de Damasco e, depois, na contemplação contínua de Cristo crucificado, descobre a graça da fraqueza: quando somos fracos — afirma — é então que somos realmente fortes, porque já não nos apegamos a nós mesmos, mas a Cristo (cf. 2 Cor 12, 10). Alcançado pelo Senhor e crucificado com Ele, Paulo escreve: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20). O objetivo de tudo isto, porém, não é uma religiosidade intimista e consoladora, como hoje nos apresentam alguns movimentos na Igreja, com uma “espiritualidade de salão”; pelo contrário, o encontro com o Senhor acende na vida de Paulo o zelo pela evangelização. Como ouvimos na segunda leitura, no fim da sua vida ele declara: «O Senhor esteve comigo e deu-me forças, a fim de que, por meu intermédio, o anúncio fosse plenamente proclamado e todos os gentios o escutassem» (2 Tm 4, 17).

Precisamente para contar como o Senhor lhe deu tantas oportunidades de anunciar o Evangelho, Paulo recorre à imagem das portas abertas. Sobre a sua chegada a Antioquia juntamente com Barnabé, diz-se que «assim que chegaram, reuniram a igreja e contaram tudo o que Deus fizera com eles, e como abrira aos pagãos a porta da fé» (At 14, 27). Do mesmo modo, dirigindo-se à comunidade de Corinto, diz: «Abriu-se ali uma porta larga e propícia» (1 Cor 16, 9); e escrevendo aos Colossenses, exorta-os assim: «Orai também por nós, para que Deus abra uma porta à nossa pregação, a fim de que eu anuncie o mistério de Cristo» (Cl 4, 3).

Irmãos e irmãs, os dois Apóstolos Pedro e Paulo fizeram esta experiência de graça. Tocaram com as mãos a obra de Deus, que lhes abriu as portas da sua prisão interior e também das prisões reais onde estavam encerrados por causa do Evangelho. E abriu-lhes, igualmente, as portas da evangelização, para que pudessem experimentar a alegria do encontro com os irmãos e irmãs das comunidades nascentes e levar a todos a esperança do Evangelho. E assim, nos preparamos para abrir a Porta Santa, neste ano!

Irmãos e irmãs, hoje os Arcebispos Metropolitanos nomeados durante o último ano recebem o Pálio. Em comunhão com Pedro e seguindo o exemplo de Cristo, porta das ovelhas (cf. Jo 10, 7), são chamados a ser pastores zelosos, que abrem as portas do Evangelho e que, com o seu ministério, ajudam a construir uma Igreja e uma sociedade de portas abertas.

Saúdo, com afeto fraterno, a Delegação do Patriarcado Ecuménico: obrigado por terem vindo manifestar o desejo comum da plena comunhão entre as nossas Igrejas. Envio uma sentida saudação cordial ao meu irmão, ao meu caro irmão Bartolomeu.

Que os Santos Pedro e Paulo nos ajudem a abrir a porta da nossa vida ao Senhor Jesus, que eles intercedam por nós, pela cidade de Roma e pelo mundo inteiro. Amém.