· Cidade do Vaticano ·

No Angelus dominical do último dia de junho o Pontífice invocou o Sagrado Coração de Jesus

Quem quer a guerra converta-se
ao diálogo e à paz

Pope Francis delivers a speech to the crowd from the windows of the apostolic Palace overlooking St. ...
04 julho 2024

«Neste último dia de junho, imploremos o Sagrado Coração de Jesus para que sensibilize o coração de quantos querem a guerra, para que se convertam a projetos de diálogo e de paz», pediu o Papa no final do Angelus de domingo, dia 30, recitado com os fiéis presentes na praça de São Pedro e com quantos o acompanhavam através dos meios de comunicação social, com o pensamento voltado para a martirizada Ucrânia, a Palestina, Israel, Myanmar e «muitos outros lugares onde as pessoas sofrem tanto devido à guerra», recordando também quantos sofrem «discriminações e perseguições por causa da fé». Ao meio-dia, da janela do Palácio apostólico do Vaticano, o Pontífice introduziu a oração mariana comentando o Evangelho dominical sobre dois milagres, um de cura e outro de ressurreição (cf. Mc 5, 21-43).

Queridos irmãos e irmãs
bom domingo!

O Evangelho da liturgia de hoje fala-nos de dois milagres que parecem estar ligados entre si. Enquanto Jesus se dirige a casa de Jairo, um dos chefes da sinagoga, porque a sua filha está gravemente doente, no caminho uma hemorroíssa toca no seu manto e ele pára para a curar. Entretanto, anunciam que a filha de Jairo está morta, mas Jesus não pára, entra em casa, vai ao quarto da menina, toma-a pela mão e levanta-a, ressuscitando-a (Mc 5, 21-43). Dois milagres, um de cura e outro de ressurreição.

Estas duas curas são relatadas num único episódio. Ambas ocorrem por contacto físico. De facto, a mulher toca no manto de Jesus e Jesus toma a jovem pela mão. Porque é importante este “tocar”? Porque estas duas mulheres — uma porque está a sangrar e a outra porque está morta — são consideradas impuras e, por isso, não pode haver contacto físico com elas. Todavia, Jesus deixa-se tocar e não tem medo de tocar. Jesus deixa-se tocar e não tem medo de tocar. Ainda antes da cura física, Ele desafia uma conceção religiosa errada, segundo a qual Deus separa os puros de um lado e os impuros do outro. Pelo contrário, Deus não faz essa separação, porque todos somos seus filhos, e a impureza não vem da comida, da doença ou até da morte, mas a impureza vem de um coração impuro.

Aprendamos isto: perante os sofrimentos do corpo e do espírito, perante as feridas da alma, perante as situações que nos esmagam, e inclusive perante o pecado, Deus não nos mantém à distância, Deus não se envergonha de nós, Deus não nos julga; pelo contrário, aproxima-se para se deixar tocar e para nos tocar, e levanta-nos sempre da morte. Pega-nos sempre pela mão para nos dizer: filha, filho, levanta-te! (cf. Mc 5, 41), caminha, vai em frente! “Senhor, sou pecador” — “Vai em frente, eu fiz-me pecado por ti, para te salvar” — “Mas tu, Senhor, não és pecador” — “Não, mas eu sofri todas as consequências do pecado para te salvar”. Isto é maravilhoso!

Fixemos no nosso coração esta imagem que Jesus nos entrega: Deus é aquele que te pega pela mão e te levanta, aquele que se deixa tocar pela tua dor e te toca para te curar e te dar de novo a vida. Ele não discrimina ninguém porque ama todos.

E então podemos perguntar-nos: acreditamos que Deus é assim? Deixamo-nos tocar pelo Senhor, pela sua Palavra, pelo seu amor? Entramos em relação com os nossos irmãos e irmãs, dando-lhes a mão para se levantarem, ou mantemo-nos à distância e classificamos as pessoas segundo os nossos gostos e preferências? Nós classificamos as pessoas. Faço-vos uma pergunta: Deus, o Senhor Jesus, classifica as pessoas? Que cada um responda a si próprio. Deus classifica as pessoas? E eu, vivo constantemente a classificar as pessoas?

Irmãos e irmãs, olhemos para o coração de Deus, para que a Igreja e a sociedade não excluam ninguém, não tratem ninguém como “impuro”, para que cada um, com a sua história, seja acolhido e amado sem etiquetas, sem preconceitos, seja amado sem adjetivos.

Oremos à Virgem Maria: ela que é Mãe da ternura, interceda por nós e pelo mundo inteiro.

Depois do Angelus, o Pontífice saudou os grupos presentes, recordando a memória dos Protomártires romanos. No final, lançou um apelo a favor da paz, confiando esta intenção ao Sagrado Coração de Jesus. Eis as suas palavras.

Estimados irmãos e irmãs!

Saúdo-vos a todos, romanos e peregrinos de vários países!

Saúdo em particular as crianças do Círculo Missionário “Misyjna Jutrzenka” de Skoczów, Polónia; e os fiéis da Califórnia e da Costa Rica.

Saúdo as irmãs Filhas da Igreja, que nestes dias, juntamente com um grupo de leigos, viveram uma peregrinação nas pegadas da sua fundadora, a Venerável Maria Oliva Bonaldo. E saúdo os jovens de Gonzaga, perto de Mântua.

Hoje fazemos memória dos Protomártires romanos. Também nós vivemos num tempo de martírio, mais ainda do que nos primeiros séculos. Em várias partes do mundo, muitos dos nossos irmãos e irmãs sofrem discriminações e perseguições por causa da fé, fecundando assim a Igreja. Outros enfrentam depois o martírio “com luvas brancas”. Apoiemo-los e deixemo-nos inspirar pelo seu testemunho de amor a Cristo.

Neste último dia de junho, imploremos ao Sagrado Coração de Jesus que toque os corações daqueles que querem a guerra, para que se convertam a projetos de diálogo e de paz.

Irmãos e irmãs, não esqueçamos a atormentada Ucrânia, a Palestina, Israel, Myanmar e muitos outros lugares onde se sofre tanto por causa da guerra!

Desejo a todos bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista.

Obrigado!