· Cidade do Vaticano ·

Admoestação do Papa contra o abuso e o tráfico ilícito de drogas

Combater os traficantes de morte

Officials and workers prepare to burn seized drugs
during a ceremony to mark the UN's 'International ...
27 junho 2024

«Quantos traficantes da morte existem, movidos pela lógica do poder e do dinheiro a qualquer preço!». Por isso, a produção e o tráfico de drogas que semeiam violência, «sofrimento e morte» exigem «um ato de coragem de toda a sociedade», afirmou o Papa na audiência geral de quarta-feira, 26 de junho, por ocasião do Dia mundial contra o abuso e o tráfico ilícito de drogas, que este ano tem como tema a prevenção. Trata-se do último encontro semanal na praça de São Pedro com os fiéis de todo o mundo antes da pausa de verão do mês de julho. O Pontífice interrompeu o ciclo de catequeses dedicadas ao tema «O Espírito e a Esposa», meditando sobre a denúncia do “flagelo” do narcotráfico e realçando que a redução da toxicodependência não se obtém com a liberalização, mas com a prevenção. A seguir, as palavras do Papa.

Estimados irmãos e irmãs
bom dia!

Hoje celebra-se o Dia mundial contra o abuso e o tráfico ilícito de drogas, instituído pela Assembleia geral das Nações Unidas em 1987. O tema deste ano é A evidência é clara: investir na prevenção.

São João Paulo ii afirmou que «a toxicodependência empobrece todas as comunidades onde ela ocorre. Diminui a força humana e a fibra moral. Mina os valores estimados. Destrói a vontade de viver e de contribuir para uma sociedade melhor».1 É o que fazem a toxicodependência e o consumo de drogas. Mas recordemos, ao mesmo tempo, que cada toxicodependente «traz consigo uma história pessoal diferente, que deve ser escutada, compreendida, amada e, na medida do possível, curada e purificada. [...] Continuam a ter, mais do que nunca, uma dignidade como pessoas que são filhos de Deus».2 Todos têm uma dignidade!

No entanto, não podemos ignorar as más intenções e ações dos contrabandistas e dos traficantes de drogas. São assassinos! O Papa Bento xvi usou palavras severas durante a visita a uma comunidade terapêutica: «digo aos que comercializam a droga que pensem no mal que estão provocando a uma multidão de jovens e de adultos de todos os segmentos da sociedade: Deus vai-lhes exigir satisfações. A dignidade humana não pode ser espezinhada desta maneira».3 E a droga espezinha a dignidade humana!

Não se obtém a redução da toxicodependência liberalizando o seu consumo — isto é fantasia — como foi proposto, ou já atuado, nalguns países. Liberaliza-se e consome-se mais. Tendo conhecido tantas histórias trágicas de toxicodependentes e das suas famílias, estou convencido de que é moralmente necessário pôr fim à produção e ao tráfico destas substâncias perigosas. Quantos traficantes de morte — porque os traficantes de droga são traficantes de morte — existem, movidos pela lógica do poder e do dinheiro a qualquer preço! E este flagelo, que produz violência e semeia sofrimento e morte, exige um ato de coragem de toda a sociedade.

A produção e o tráfico de droga têm também um impacto destrutivo sobre a nossa casa comum. Por exemplo, isto tornou-se cada vez mais evidente na bacia amazónica.

Outra via prioritária para combater o abuso e o tráfico de drogas é a prevenção, que se faz promovendo mais justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida pessoal e comunitária, acompanhando os necessitados e dando esperança no futuro.

Nas minhas viagens a várias dioceses e países, tive a oportunidade de visitar diferentes comunidades de recuperação inspiradas pelo Evangelho. Elas são um testemunho forte e cheio de esperança do compromisso dos sacerdotes, consagrados e leigos em pôr em prática a parábola do Bom Samaritano. Da mesma forma, sinto-me encorajado pelos esforços empreendidos por várias Conferências episcopais para promover legislações e políticas justas no que diz respeito ao tratamento dos toxicodependentes e à prevenção para acabar com este flagelo.

Por exemplo, destaco a rede de La Pastoral Latinoamericana de Acompañamiento y Prevençión de Adicciones ( plapa ). O estatuto desta rede reconhece que «a dependência do álcool, das substâncias psicoativas e de outras formas de dependência (pornografia, novas tecnologias, etc.)... é um problema que nos atinge indistintamente, para além das diferenças geográficas, sociais, culturais, religiosas e etárias. Apesar das diferenças... queremos organizar-nos como comunidade: partilhar experiências, entusiasmo, dificuldades».4

Menciono também os Bispos da África Austral, que em novembro de 2023 convocaram um encontro sobre “Dar aos jovens poder como agentes de paz e esperança”. Os representantes dos jovens presentes no encontro reconheceram essa assembleia como «marco significativo para uma juventude saudável e ativa em toda a região». Além disso, prometeram: «Aceitamos o papel de embaixadores e defensores na luta contra o consumo de narcóticos. Pedimos a todos os jovens que sejam sempre empáticos uns em relação aos outros».5

Prezados irmãos e irmãs, perante a trágica situação da toxicodependência de milhões de pessoas em todo o mundo, diante do escândalo da produção e do tráfico ilícito de tais drogas, «não podemos ficar indiferentes. O Senhor Jesus parou, fez-se próximo, curou as feridas. Segundo o estilo da sua proximidade, também nós somos chamados a agir, a parar diante de situações de fragilidade e de dor, a saber escutar o clamor da solidão e da angústia, a inclinar-nos para levantar e dar nova vida a quantos caem na escravidão da droga».6 E rezemos pelos criminosos que dão drogas aos jovens: são criminosos, assassinos! Oremos pela sua conversão!

Neste Dia mundial contra a droga, como cristãos e comunidades eclesiais, renovemos o compromisso de rezar e trabalhar contra a droga. Obrigado!

1 Mensagem aos participantes na Conferência internacional de Viena sobre o abuso e o tráfico ilícito de drogas (4 de junho de 1987).

2 Discurso aos participantes no encontro promovido pela Pontifícia Academia das Ciências sobre “Narcóticos: problemas e soluções para esta questão global” (24 de novembro de 2016).

3 Discurso à comunidade Fazenda da Esperança, Brasil, 12 de maio de 2007.

4 https://adn.celam.org/wp-content/uploads/2023/09/Carta-a-la-Iglesia-de- alc - plapa -14sept 2023- cl .pdf

5 https://imbisa.africa/2023/11/21/statement-follow ing-the-imbisa-youth-meeting

6 Mensagem aos participantes no 60º Congresso internacional de Toxicologistas Forenses (26 de agosto de 2023).