Dez anos de oração
Por uma feliz coincidência, o décimo aniversário da peregrinação do Papa Francisco à Terra Santa e do dia que ele passou em Belém coincidiu com o Dia mundial da criança. A 25 de maio, o Santo Padre encontrou-se em Roma com as “pedras vivas” da Terra Santa, no mesmo dia em que, em 2014, se tinha encontrado com elas nos Lugares Santos.
Lembro-me bem da emoção daquele dia: a viagem apostólica pretendia recordar o abraço do primeiro Pontífice a peregrinar à Terra Santa, Paulo vi , com o Patriarca ecuménico Atenágoras. O Papa Francisco fora eleito um ano antes e pedira para ser peregrino porque a sua era uma peregrinação de oração para suplicar a paz. Pediu para se encontrar com os dois presidentes, de Israel e da Palestina, na Terra Santa, mas o seu desejo não foi satisfeito.
No caminho para a basílica da Natividade, o Papa Francisco viu o muro, e o sofrimento da separação foi tão palpável que decidiu parar e fazer uma pausa imprevista. A imagem do Papa tocando o muro, apoiando-se para uma oração solitária e silenciosa, é a imagem da força de um homem de paz que não perde a esperança, só se detém para rezar e não se cansa de pedir a paz.
Com mansidão e determinação, conseguiu encontrar-se com Abu Mazen e Shimon Peres, duas semanas depois, no Vaticano. Foi um encontro fraterno, de oração comum, de humildes pedidos de perdão mútuo, dirigidos pelo Papa aos dois povos, para procurar uma convivência humana e pacífica na terra de Jesus, tão martirizada e ofendida.
Três homens de idade avançada, desejosos de paz, plantaram juntos uma oliveira. Dez anos mais tarde, as raízes daquela árvore deveriam estar bem arraigadas no solo, mas ainda não pudemos colher os frutos dessa planta, símbolo universal da paz.
Desde o início do seu ministério, escolhendo este nome, o Papa Francisco deu força à sua missão de paz. Os seus apelos chegaram a todos os cantos da terra, mas as palavras profundas do Santo Padre nem sempre chegam ao coração dos homens.
Ao longo dos anos, vi um homem que sofre devido ao mal da guerra, só o vi sorrir quando se encontrava com as crianças e os indefesos.
Em 2014, em Belém, sorriu às crianças reunidas na praça da Manjedoura, que cantavam a alegria de o ter entre elas, e sorriu abraçando a criança que o recebeu num campo de refugiados, falando e cantando em italiano o sofrimento e a humilhação.
Em 2024, em Roma, sorriu às crianças que, do mundo inteiro, aceitaram o seu convite para rezar e percorrer o caminho da paz.
Na carta que enviou aos cristãos da Terra Santa por ocasião da Páscoa, o Papa Francisco agradeceu-lhes porque «sabem esperar contra toda a esperança». É a mesma esperança que o Santo Padre nos ensina a cultivar como dom e que, com fé e caridade, trará a paz ao mundo. É a mesma esperança que não abandona o Papa Francisco e que fortalece as suas palavras e os seus gestos de paz.
Dez anos: um tempo longo e, ao mesmo tempo, um tempo estático e curto na história da Terra Santa. A morte, o sofrimento e a destruição aumentaram tragicamente, mas foram dez anos marcados pela presença contínua da oração e da proximidade paterna do Santo Padre.
Ibrahim Faltas