Ao serviço de todos
O serviço a Deus, à Igreja e ao próximo: eis o traço que une as congregações das irmãs de São Félix de Cantalice e das filhas de Nossa Senhora da Misericórdia, recebidas pelo Papa na manhã de 6 de junho, na sala do Consistório, por ocasião dos respetivos capítulos gerais. Nas palavras do Pontífice, também a recordação pessoal da irmã Maria Dolores Tortolo, sua primeira catequista.
Queridas Irmãs, bom dia!
Bem-vindas a todas vós, Irmãs de São Félix de Cantalice e Filhas de Nossa Senhora da Misericórdia. Saúdo em particular as vossas Madres-gerais, e obrigado por terdes vindo. Celebrais os Capítulos gerais e é bom que, nesta ocasião, venhais ao encontro do Sucessor de Pedro, para confirmar o vosso compromisso ao serviço de Deus e da Igreja. O serviço é certamente um elemento que une as vossas fundações, ocorridas, embora em circunstâncias diferentes, no mesmo período histórico: o século xix .
Nessa altura, Sofia Camila Truszkowska, mais tarde irmã Ângela Maria, fundou as Irmãs de São Félix de Cantalice, em Varsóvia, numa Polónia assolada pela guerra, ao serviço das crianças, dos deficientes e dos jovens em risco. É marcante, desde o início, o episódio em que, perante a escalada dos conflitos armados, ela e as suas irmãs decidiram cuidar de todos os feridos, independentemente do lado a que pertenciam. Por isso, foram acusadas de traição e a obra foi reprimida pelas autoridades civis. Foi a Providência que, tempos depois, a ressuscitou, talvez também graças ao seu corajoso sacrifício, difundindo-a ainda mais, atravessando o oceano até à América, ainda sob o impulso do serviço, desta vez para ajudar os emigrantes polacos. E, desde então, em muitas outras partes do mundo. Este é um sinal importante para vós, sobretudo no momento em que celebrais o Capítulo: um sinal que vos convida a não ter medo de perder a segurança de estruturas e instituições, para permanecer fiéis à caridade! E far-vos-á bem ter isto em mente, nos vossos encontros, para vos recordar que as estruturas não são a substância: são apenas um meio. A substância é o amor a Deus e ao próximo, exercido com generosidade e na liberdade: «Pois é o amor de Cristo que nos impele» (2 Cor 5, 14), segundo as palavras de São Paulo, que escolhestes como guia para os vossos trabalhos.
Ao mesmo tempo na Itália, em Savona, outra jovem, Benedita Rossello, mais tarde irmã Maria Giuseppa, sob a orientação do seu bispo, iniciou outra obra, também ao serviço dos pobres, das crianças e das jovens: as Filhas de Nossa Senhora da Misericórdia. Benedita é também uma jovem decidida que, apesar de ser indigente, renunciou à perspetiva de uma rica herança para seguir o chamamento à consagração, escolhendo o lema “Coração a Deus, mãos à obra!”. Lançou-se na nova aventura de amor com meios modestos, mas poderosos: “um crucifixo, uma imagenzinha de Nossa Senhora Mater Misericordiae e cinco liras de capital”, sempre pronta a ser a primeira a prestar qualquer tipo de serviço. E, neste momento, permiti que partilhe convosco uma recordação pessoal. Com efeito, foi numa das vossas escolas, em Buenos Aires, no bairro Flores, que há muitos anos recebi os sacramentos da iniciação cristã. Como esquecer a querida “Hermana” Dolores, com quem muito aprendi e a quem continuei a visitar durante tanto tempo? Por isso dou graças ao Senhor e a todos vós, porque o meu atual serviço à Igreja é também fruto do bem que recebi, em tenra idade, da vossa família religiosa.
Amadas irmãs, vede como todos nós somos instrumentos nas mãos sábias de Deus! Quem pode imaginar o que Ele vai tirar dos nossos pequenos “sins”? Por isso, para concluir, gostaria de vos encorajar a renovar a adesão à sua vontade, na fidelidade aos votos que professastes e na docilidade à ação do Espírito. Abandonai-vos a Ele e oferecei tudo, sempre, com generosidade. Rezo por vós, e vós também, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!